• Carregando...

O Furacão de 49: Viana, Ruy, Neno, Jackson e Cireno (em pé); Joaquim, Valdomiro, Laio, Wilson, Sanguinetti e Délcio.

Falar do Furacão de 49 sempre foi tema recorrente nas redações. Atletiba decisivo? Vamos ouvir alguém do time de 49. E esse alguém, invariavelmente, era Jackson do Nascimento, grande nome daquela equipe, sempre extremamente educado, atencioso e disponível com qualquer repórter que ligasse para ele querendo saber do Atlético daquele tempo e do Atlético dos dias de hoje.

A escolha quase sempre automática por Jackson me fez pensar por algum tempo que Cireno tivesse morrido. Fiquei surpreso quando perguntei ao mestre Aloar Ribeiro sobre Cireno e ele disse: “Não, tá vivo, sim” e explicou o que ele fazia, onde morava, detalhes que o Aloar sabia de cabeça. Então chegou mais um Atletiba e resolvi dar uma busca na lista telefônica on-line da Brasil Telecom. Escrevi “Cireno Brandalise” e, em poucos segundos, veio um número de telefone, que até hoje tenho anotado na agenda.

Digitei os números, o telefone tocou não mais do que quatro vezes e, do outro lado, atendeu uma voz levemente rouca, mas vigorosa, denotando idade avançada. Respondi: “Alô, é o Cireno Brandalise?”. Sim, era o Cireno Brandalise, e fiz a entrevista que, sinceramente, não lembro como foi usada, se em um box, ou como parte de uma matéria maior. Lembro-me com clareza da simpatia de Cireno e da paixão com que falava do Atlético. Sobre os Atletibas, não perdia o ar provocador de quem protagonizou uma das histórias mais marcantes do clássico, o Atletiba dos 8 minutos.

Era 1946 e o clássico começou quente. Logo no primeiro minuto, o Coritiba fez 1 a 0. Aos 6, Jackson empatou para o Rubro-Negro e Cireno foi buscar a bola dentro do gol. Na volta, arrancou o gorro do goleiro Belo, que usava o acessório para esconder a calvície. Seguiu-se uma enorme confusão. Belo foi expulso, Cireno não e o Coritiba, em protesto, retirou-se do gramado.

Cireno fez 114 gols pelo Atlético, é o quinto maior artilheiro da história do clube. Está atrás de Sicupira, Jackson, Kléber e Marreco. Mas sua herança para o Atlético vai além da vocação para fazer gols. Cireno ajudou a construir dois legados que moldam a personalidade e a história rubro-negra.

O Atlético de 49 virou Furacão pela maneira que varria seus adversários, contando principalmente com a força do ataque – mais especificamente, com a força da dupla Jackson e Cireno. A partir dali, o Atlético nunca mais deixou de ser Furacão e todos os grandes momentos do clube foram impulsionados por uma dupla matadora: Sicupira e Nilson Borges; Assis e Washington; Oséas e Paulo Rink; Kléber e Alex Mineiro. Duas marcas construídas pelos pés, pela cabeça e pelo coração de Cireno, que morreu ontem, em Curitiba.

É o segundo símbolo do Furacão de 49 a morrer em menos de um mês. Dois personagens importantes da história rubro-negra, mas com uma diferença: se Nillo era o Capitão Furacão, Cireno era o Furacão em pessoa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]