Aquisição de Morro García está dando assunto nas eleições do Atlético
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A reportagem assinada por André Pugliesi, na Gazeta do Povo desta terça-feira, é de leitura obrigatório e joga um pouco de luz em negociações das quais sempre se falou muito, mas pouco se provou.

Está lá, explícito em números, o prejuízo que o clube teve ao permitir que o lateral-direito Alberto e o atacante Lucas fossem carimbados pelo Rentistas, entreposto comercial disfarçado de time de futebol que Juan Figer mantém no Uruguai. Alberto encareceu US$ 4,9 milhões em três semanas. O Rentistas desembolsou aproximadamente US$ 8 milhões para ter Lucas (R$ 500 mil por 50% e US$ 7,5 milhões pelos outros 50%) e o vendeu por US$ 21 milhões. Segundo o cálculo apresentado pelo André, US$ 18,3 milhões que, em transações diretas, iriam para os cofres atleticanos foram parar na conta do Rentistas.

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A operação precisa ser muito bem explicada. E não é pela ex-diretora jurídica Maria Aparecida Gonçalves. Petraglia sempre foi próximo a Figer, participava das negociações, tinha ciência de para quem o Atlético vendia seus jogadores. Ademir Adur era o presidente na época, também participava das negociações e tinha o controle de todo o fluxo financeiro do clube. Como tem se falado muito nos últimos dias, o Atlético era dirigido por um colegiado. Forneia, Marcus Coelho e Valmor também faziam parte. Todos – uns mais (Adur e Petraglia), outros menos (os demais) – precisam dizer por que o Atlético se sujeitou a essa operação, até que se prove o contrário, lesiva.

Explicações também serão muito bem-vindas sobre os valores da negociação do atacante Morro García. A soma das quantias acertadas pela transferência, salário e direito de imagem é alta (principalmente diante do que o jogador rendeu), mas está dentro da insanidade do mercado do futebol. Fora de compasso é pagar US$ 1,8 milhão em comissão para um empresário em uma transação desse porte. É 45% do valor da transferência. Morro García terá de passar mais de três anos vinculado ao Atlético para receber montante equivalente em salário e direito de imagem. A desproporção é inaceitável.

Na época, o presidente Marcos Malucelli me disse que a comissão era problema para o Nacional acertar com Daniel Fonseca. Se algo mudou no caminho e foi o Atlético quem pagou tudo isso, trata-se também de uma operação lesiva ao clube. Que a entrevista de Malucelli prevista para esta tarde traga as devidas explicações sobre o caso.

(Abrindo um parênteses dentro do caso Morro García. Olho com incredulidade para essa promessa de devolução do jogador para o Nacional, feita pelo grupo de Petraglia. É totalmente legítimo – e obrigatório – verificar se a negociação foi feita de maneira correta. Mas não dá pra vender ao torcedor a ilusão de que é simples desfazer uma transferência. Não é. Exige provas contundentes, tempo e dinheiro. Ao não expor essa dificuldade com clareza, Petraglia assume o risco de repetir Requião, que foi eleito governador em 2002 dizendo que o pedágio baixava ou acabava. Não baixou nem acabou.)

As duas operações Uruguai são uma foto em altíssima resolução da eleição no Atlético. Ao denunciar os dois casos na semana da votação, as chapas não estão pensando no bem do clube ou em passar o Atlético a limpo. Estão pensando em ganhar voto, estão pensando em ganhar a eleição.

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Morro García foi contratado no meio do ano e mesmo quem era da diretoria e disse que entregou o cargo por discordar da transação fez isso silenciosamente, quase pedindo desculpa. A oposição também se manteve quieta por longo tempo. No caso Rentistas, o silêncio é ainda mais grave. Forneia, Yara e Fadel passaram tempo suficiente no clube para detectar o problema e trazê-lo à tona. Fazer isso na hora da eleição é usar uma atitude nobre em benefício próprio.

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