Coluna publicada na Esportiva impressa desta terça-feira
Série A, Atlético em terceiro, Coritiba em sexto. Série B, Paraná em terceiro. Isso com o primeiro turno já para receber a bandeira branca no Brasileirão e com a quadriculada esperando Pelé olhar para a pista para ser tremulada na Segundona. Nem quando dividiam espaço na elite — nem parece, mas foi neste século — o trio esteve tão na boa. Também nunca estiveram tão distantes.
Há, é verdade, um contrato de aluguel da Vila Capanema ao Atlético. Fora isso, há um distanciamento daquele de fazer mudar o lado da calçada quando se vê o co-irmão (sic) se aventurando pelas banguelas sequências de petit-pavê da cidade. Só mesmo ano passado, com Atletiba de torcida única e Atlético acampado no Ecoestádio para se ter um isolamento maior.
É algo que vai na contramão de tudo que tanto se prega – e eu sou um defensor dessa ideia – sobre a necessidade de união. Em um futebol em que o dinheiro põe paulistas e cariocas em nível europeu, e deixa gaúchos e mineiros confortáveis na condição de segundo eixo, só mesmo com união de forças para um mercado periférico fazer cócegas na turma lá de cima. Certo? Na prática, não totalmente.
O Atlético apenas acentuou o isolamento extraordinário que vive desde a primeira era Petraglia. A pré-temporada extra-large, mezzo futebolística mezzo política, deu ao time pernas que os adversários não têm. O Atlético sobra no segundo tempo. Manoel, Ederson e Everton jogam em nível de seleção; Paulo Baier descobriu a fonte da juventude. Em um campeonato em que o desgaste irá separar homens de meninos, não dá para duvidar de um elenco que, no papel, não deveria ir além do meio da tabela.
O Coritiba segue agarrado ao projeto como uma beata se agarra à Bíblia. Um projeto concebido na solitária da Série B. Com erros e acertos, exageros e apostas certeiras, o projeto conduz um crescimento consistente do Coxa pelo quarto ano seguido. Não é por acaso. Por isso, dá para confiar que com Robinho, Alex, Deivid e Vitor Júnior será possível repetir o desempenho das primeiras rodadas.
O Paraná, enfim, percebeu que precisava se virar sozinho. Os co-irmãos já o viam como um parente inconveniente condenado a perecer no sanatório da Série B. Os empresários, como um corpo de onde ainda era possível sugar algo de bom. Quase sozinho (a própria diretoria reconhece que empresários de futebol têm ajudado a pagar salários), se reergueu a partir da passagem pela Segundinha estadual. Mesmo com alguns escorregões, segue firme na subida da montanha. Na B-12, só tem menos time e elenco que o milionário Palmeiras.
Inegavelmente, é mais difícil e menos garantido o sucesso em um caminhada solitária. Por outro lado, o estilo self-made team pode desencadear uma inveja boa, o desejo de se desenvolver para não ficar para trás do vizinho. E aí inverter a lógica da surrada fábula do autofagismo paranaense, aquela de que por não precisa tampar uma panela enquanto se cozinha caranguejos; afinal, aqueles que estão no meio da fervura vão puxar para dentro quem ameaça escapar da panela. É o primeiro a fugir da caldeira ensinando o caminho aos demais, sem precisar olhar para trás nem estender a mão.