A maneira desastrada e desastrosa como o Atlético conduziu – e ainda conduz – as mudanças no seu departamento de futebol deixam apenas uma saída para Ricardo Drubscky: pedir demissão. Pois mesmo que seja prática comum no futebol – mas ainda assim condenável – negociar com um treinador enquanto outro ainda está empregado, a conversa da diretoria rubro-negra com Jorginho tornou-se público de tal maneira que chega a ser humilhante para Drubscky manter-se em um cargo que nitidamente não é mais dele. É como o sujeito que a vizinhança inteira sabe que é traído pela mulher, mas ainda assim desfila com ela orgulhosamente a caminho da missa de domingo.
Drubscky nem deveria aceitar outro cargo dentro do clube, algo que se não lhe foi oferecido ainda será. Essa recolocação do treinador dentro do próprio Atlético seria uma espécie de mea culpa de Mário Celso Petraglia, autor intelectual da sua contratação antes, para coordenar a base, e agora, como técnico do profissional. A confiança de um no outro é tamanho que Drubscky nem mesmo chegou a assinar um contrato com o Atlético. Seu acordo é verbal, o que facilita tanto o distrato quanto qualquer readequação de função.
Não resta dúvida de que se algum dirigente do Atlético se manifestar, será para dizer que em momento algum o clube admitiu negociações diretas com Jorginho nem queimou Drubscky vivo. Será tão ingênuo apostar que alguém engolirá essa justificativa que o melhor será não dizer nada, fazer uma confissão silenciosa de culpa. Pois se o Atlético de 1995 para cá notabilizou-se por um crescimento em ritmo chinês e pela estrutura profissional, tem em 26 de junho de 2012 um dos dias mais amadores da sua história, de fazer inveja ao tempo em que o elenco chegava à Baixada com os uniformes ainda úmidos da lavagem da véspera e sem saber onde seria o treino.
Sobre Drubscky, foi um erro contratá-lo para treinador. Mantê-lo será pior. A demissão agora, em tese, deveria reduzir o estrago desta falha. E digo em teoria pois é preciso saber como o elenco reagirá a tamanha balbúrdia. Conter esse efeito colateral será uma das missões do novo treinador e do diretor de futebol.
Ah, sim, há a direção de futebol. A decisão tomada pela diretoria foi a de dispensar Drubscky e Orlandelli. Nem todas as lambanças dos últimos dias mudarão esse cenário, até porque Jorginho deixou claro à Nadja Mauad que não gostaria de trabalhar com o atual diretor de futebol. Dagoberto Santos acumulará de fato este cargo, até que o Atlético encontre no mercado outro diretor profissional. Nesse caso, um cuidado necessário. Afinal, ainda há poucas opções e mesmo currículos bonitos podem esconder profissionais pouco capacitados para o serviço prático.