Há um ponto pacífico na avaliação da eliminação do Coritiba da Copa do Brasil: cair diante de um time da quarta divisão nacional, de um estado de futebol semiprofissional, tomando 4 a 1 no lombo na partida de ida, é uma das maiores vergonhas da história do clube. Um vexame maiúsculo invariavelmente encaminha para um estado de terra arrasada, o que não é o caso. Há coisas erradas no Coxa que ficaram mais explícitas pela derrota e precisam ser corrigidas. Outras, não. Vamos a elas…
Marquinhos Santos
Repito o que escrevi por aqui semana passada. Não é o maior culpado e demiti-lo agora não é a solução. O Coritiba deveria ter encerrado o Paranaense com um time mais pronto do que encerrou, o que depõe contra o treinador. A equipe, porém, tem algum padrão de jogo que precisa ser aprimorado para evitar sufoco no Brasileiro.
O meio-campo consolidou-se com um losango que tem um volante na ponta mais baixa (Urso ou Willian), um volante que sai para o jogo por um lado (Gil, mas pode ser Sérgio Manoel), um meia que ajuda na marcação (Robinho, mas logo será Bottinelli) e outro meia espetado (Alex). À frente, um atacante veloz (Rafinha) e outro de referência (Deivid). E esse conjunto gosta de ter a bola no pé, trocar passes, jogar prioritariamente pelo chão. É um estrutura. Ainda frágil, mas uma estrutura.
Embora seja repetitivo, vale lembrar que sempre que se fala em troca de treinador é preciso olhar para o mercado. Dorival Júnior seria ótimo? Seria, mas é caro demais para o Coritiba. Tem opções mais baratas? Tem, mas não imagino um PC Gusmão da vida resolvendo os problemas do Coritiba. Além disso, Vilson está na Europa e há uma série de cinco jogos em duas semanas pela frente. O Coxa não mudará de técnico antes da Copa das Confederações.
Elenco
Aqui está o maior problema do Coritiba. O grupo mudou pouco em relação ao ano passado, mas os acréscimos provocaram uma memória inquestionável. Leandro Almeida é melhor que qualquer zagueiro que tenha feito companhia a Emerson em 2012 e de Alex nem precisa falar muito. Potencialmente, é um elenco para se extrair um time melhor que o de 2011. Na prática, porém, isso não aconteceu por alguns fatores.
O primeiro é que, tirando Leandro Almeida e Alex, nenhum outro reforço deu a resposta esperada por diferentes razões. Júlio César só comprovou o que este blogueiro suspeitava, que 2011 foi um ano fora da curva em uma carreira medíocre. Arthur não jogou em momento algum o que jogou no Londrina e no Paraná ano passado. É sintomático ele não ter nem ido para o banco ontem. Bottinelli ainda não estreou. Patric era um reserva aceitável que virou titular de uma posição que não é a dele.
O Coritiba precisa de um titular para a lateral-esquerda. Um reserva para Rafinha e outro para Deivid, ambos em condições de serem titulares, são igualmente urgentes. Para as demais funções, é possível obter bons resultados com os garotos. Me refiro a Bonfim na zaga, Djair como segundo volante, Zé Rafael na armação, Luizinho aberto pelos lados do campo. Além, claro, dos reforços do DM, mais especificamente Emerson e Bottinelli.
Ah, a força mental
O termo “fraco mentalmente” entrou para o vocabulário do Coritiba há uma semana, com a já histórica entrevista do Alex à 98 FM. A incapacidade do elenco alviverde de se manter conectado o tempo todo é antigo. A demora em absorver o golpe das duas perdas da Copa do Brasil indica a longevidade dessa dificuldade. Os vários pontos perdidos com gols no fim do jogo, que se arrasta desde o Brasileiro passado, também. E desemboca em atuar de forma indolente em um torneio que não admite tal desaforo — sim, falo do jogo de Manaus, semana passada.
O “fraco mentalmente” encaminha a outra questão crucial. Um time fora de série pode se dar ao luxo de desligar em momentos inoportunos. Afinal, tem bola suficiente para decidir o jogo quanto estiver ligado. Não é o caso do Coritiba. O Coxa atual não pode se dar a esse luxo. Precisa jogar com o pé embaixo sempre. E só agirá dessa maneira quando tiver consciência da sua limitação.
O homem do projeto
Felipe Ximenes é outro que geralmente fica na linha de tiro quando as coisas vão mal dentro de campo. E se o elenco do Coritiba apresenta alguns buracos, isso passa necessariamente pela mesa do superintendente de futebol.
Os grandes “reforços” do Coxa em 2012 acabaram sendo dois jogadores que haviam chegado no ano anterior — Gil e Everton Ribeiro — e um jogador caro — Deivid. Por ora, as boas novas de 2013 são os caros Alex e Leandro Almeida. Peças que chegaram em 2012, por motivos diversos, não emplacaram, casos de Escudero e Victor Ferraz.
A transição dos garotos da base também apresenta um descompasso. Para nomes como Bonfim, Luccas Claro, Thiago Primão e Djair, a fila demorou ou demora uma eternidade para andar. Primão e Claro tiveram um pouco mais de chance e, em regra, não se ajudaram. Mas também o clube teve menos paciência com ele do que tem, por exemplo, com Júlio César.
O clube trata isso como zelo, mas ainda assim não consegue evitar situações como a de Bartola: entrou bem contra o Rio Branco, sumiu da relação e reapareceu no banco ontem, em um jogo extremamente tenso.
À primeira vista, ainda é uma questão de ajustes. Seja na transição, seja na avaliação de alguns jogadores — por exemplo: descartar Bruno, do Londrina, por excesso de volantes é um errro simplesmente porque ele exerce uma função que o Coritiba não tem quem faça. Ximenes tem crédito pela montagem dos grupos de 2010 e 2011, mas os erros têm se acumulado e o saldo positivo é cada vez menor.
Vai cair?
É a grande dúvida após a eliminação da Copa do Brasil. Não vejo o Coritiba como time para cair. É time para meio de tabela. Mas que precisa jogar com a atenção máxima para cumprir essa previsão. Se acertar nos reforços, pode até subir alguns degraus. Mas pelo que há de concreto hoje no clube, falar em classificação para a Libertadores via Brasileirão é brigar com a realidade.
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Sobre o jogo de ontem…
O Coritiba insistiu demais em chuveirinhos sem ter um centroavante cabeceador. Criou as melhores chances quando variou a jogada ofensiva.
Foram quatro chances claras de gol: o cabeceio de Geraldo para fora, o chute de Zé Rafael para fora, o pênalti perdido e o gol em si. Não era jogo para imperfeições.
Tive essa impressão no estádio e comprovei no vídeo: o pênalti para o Coritiba não existiu. A distância entre bola e zagueiro no momento do chute é curta, não há movimento em direção à bola e tenho até dúvidas se a bola bateu no braço e não no ombro. Resumindo: um pênalti irmão daqueles reclamados pelo Londrina no Paranaense. Como Alex chutou na trave, qualquer polêmica morreu na casca.
Tecnicamente, vencer a Copa Sul-Americana é menos complicado do que a Copa do Brasil turbinada pelos times da Libertadores. O problema está no desgaste da competição continental. Passando da fase nacional, o torneio é repleto de viagens longas e desgastantes. Ou seja, o torcedor pode se preparar para um semestre com muitas queixas de calendário, cansaço, contusões, etc. Uma situação recorrente, que o próprio clube tratou de agravar.