A menção de Luiz Felipe Scolari ao Coritiba como referência para a seleção brasileira foi surpreendente sob todos os aspectos. Primeiro pela citação em si. O futebol paranaense vive à margem no cenário nacional, mais ainda quando o assunto é seleção. E não estou falando de conspiração de eixo do mal e outras teorias bem conhecidas. Em campo, salvo breves períodos de exceção, os times do estado não se fazem respeitar nacionalmente.
Diante desse cenário, a simples menção já merece ser comemorada. É bom para o estado, melhor ainda para o Coritiba e sensacional para Marquinhos Santos, que até três dias atrás estava com a corda no pescoço, com um monte de gente querendo chutar o banquinho que o mantinha firme. Com o título e o aval de Felipão, ganha um fôlego respeitável.
A surpresa maior é sob o aspecto prático da declaração. O único paralelo viável é do esquema tático das duas equipes. O Coritiba tem uma linha de quatro defensores, com dois laterais ofensivos (Ferraz e Patric ou Ferraz e Denis), protegida por um volante prioritariamente marcador e outro com saída de jogo. À frente, um meia centralizado, dois jogadores abertos (um mais agudo) que chegam ao ataque e recompõem o meio sem bola, um homem de referência no ataque. É o modelo que Felipão busca para a seleção também.
Como forma de jogar, porém, há uma distância considerável entre a teoria de Felipão e a prática. A compactação citada por Felipão só funcionou de fato em três jogos da temporada: 3 x 0 no J. Malucelli, 3 x 1 no Londrina e 3 x 1 no Atlético. É o parâmetro que o Coritiba leva para fazer um bom Brasileirão e ter vida longa na Copa do Brasil, mas ainda não é um padrão de jogo do Coxa, como é, por exemplo, para Corinthians e Atlético Mineiro, exemplos mais sólidos citados por Scolari.
A lembrança de Scolari é, sim, motivo para a comissão técnica alviverde comemorar e o torcedor se encher de orgulho. Mas não deve criar a ilusão de que o Coritiba já tem a solidez necessária para encarar a parte mais dura da temporada.