Uma das seções listadas acima chama-se “Vai com Deus, guri”. Ela agrupa posts sobre personagens cujo prazo de validade no seu clube já venceu. No fim de semana percebi que ainda não tinha dado nenhum “Vai com Deus, guri!” na fase Gazeta do blog, uma lástima. Afinal, seção que não é atualizada deve ser extinta.
Olhei para a situação dos nossos clubes e vi que Marcelo Oliveira poderia, sim, merecer o jargão imortalizado pelo bravo Boluca. Cheguei até a escrever um post no qual dava um “Vai com Deus, guri!” para o Marcelo Oliveira. Mas aí esbarrei em uma pergunta crucial, que não demoraria a pipocar nos comentários: se o Marcelo for mandado embora, quem o Coritiba poderia trazer para o seu lugar? (Silêncio constrangedor na sala…)
Pois é, meus amigos. Marcelo Oliveira não é brilhante, comete vários erros, mas, ao alcance do Coritiba (questão meramente financeira) não há alguém que faça valer o risco da troca. Alguém pode falar em Dorival Júnior, a quem considero um ótimo profissional. Ele é, em anos, o melhor treinador a ter passado pelo Alto da Glória. Montou um time que foi mais longe do que era capaz no Brasileiro, ganhou um Estadual dentro da Arena, fez de Keirrison o artilheiro do Brasil.
Há, porém, um problema pontual e outro estrutural envolvendo Dorival. O pontual é o assédio do endinheirado Internacional ao treinador. O estrutural é Dorival ser o técnico de longo prazo que mais faz trabalhos de curto prazo no futebol brasileiro. Sempre que ele é contratado por um clube cria-se a expectativa de que ele possa passar três, quatro anos no comando daquela equipe. Mas termina o ano e, seja qual for o resultado em campo (geralmente é bom), ele vai embora.
Fora Dorival, quem está disponível? Falcão? Caro e arriscado. Carpegiani? Caro e arriscado. Antonio Lopes? Ultrapassado. PC Gusmão? Pffff… Dos empregados eu nem falo. Ou romper os seus contratos exige muito dinheiro, ou não justificam o investimento ou simplesmente não topariam deixar o seu clube para assumir o Coritiba.
Ontem, li uma tuitada certeira do amigo, coxa-branca e jornalista Ricardo Sabbag que me deixou inquieto quanto à manutenção de Marcelo Oliveira: “Não entendo esse negócio de não demitir técnico como se isso fosse sinal de boa gestão.” Também não entendo como sinônimo de boa gestão. Mas entendo que trocar um técnico médio, mas que deu resultado, por um salto no escuro é burrice.
Há ótimos argumentos para manter Marcelo Oliveira. Ele não tinha um rebaixamento nas costas como o seu antecessor Ney Franco, foi campeão estadual com um chocolate na casa do rival, levou o Coritiba à final da Copa do Brasil, registrou a maior invencibilidade da história do clube e regeu a maior atuação que várias gerações de coxas-brancas já viram ao vivo. Marcelo pegou uma base boa e conseguiu aprimorá-la. Parece simples, mas tem “professor” que estraga o que está dando certo. Percebeu o desgaste da formação com Davi, Marcos Aurélio, Rafinha e Bill e recompôs o time com a entrada de Tcheco.
Também há bons argumentos para pedir sua saída. As intervenções no time-base foram catastróficas em momentos cruciais. Ao abrir demais o time contra o São Paulo, expôs o Coritiba a uma goleada humilhante. Ao fechar demais o time na final da Copa do Brasil, jogou no lixo 30 minutos dos quais não era permitido abrir mão. Em jogos mais cotidianos, os erros nas substituições se acumulam. Se a mexida ousada e bem-vinda contra o Figueirense deu muito certo, há o recuo excessivo contra Grêmio e Flamengo, o inexplicável uso de todos os titulares contra o Atlético Goianiense… Erros que custaram pontos preciosos ao Coritiba e que alimentam o sentimento geral de que o Coxa pode ir além do meio da tabela do Brasileiro.
É perfeitamente possível e bem-vindo discutir se o trabalho de Marcelo Oliveira é bom ou se o Coritiba tem elenco para ir mais longe no Brasileiro. Mas é difícil encontrar um nome disponível que vá, seguramente, fazer melhor que Marcelo Oliveira. Portanto, antes de dar um “Vai com Deus, guri” para o técnico coxa-branca, melhor pensar que se está ruim com ele, pode ficar muito pior sem ele.
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