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Cena de Amnésia (2001), de Christopher Nolan

A correria acima do comum para uma terça-feira me permitiu ver o noticiário do dia apenas em flashes. Na volta do almoço, pula o link para um nota de repúdio do Atlético ao Paraná. Passo. Saio para um compromisso, volto e, deixando uma pauta no Facebook, vejo que o Paraná respondeu a nota de repúdio. Parecia sério… Não, não deveria ser sério. Mas valia a leitura.

Li e senti a necessidade de buscar a origem de todo esse repúdio mútuo. Então, como no ótimo Amnésia, de Christopher Nolan, reconstitui a história partindo do fato mais recente, a nota de repúdio do Paraná ao Atlético. Era uma resposta a uma nota de repúdio do Atlético ao Paraná, em que o Atlético citava uma “carta de veemente protesto” do Coritiba contra um “Fique sabendo – Nota Oficial” que o Paraná soltou no domingo (domingo, gente?). Vou tomar uma água para recobrar o fôlego. Volto no próximo parágrafo.

As migalhas levam à semana passada, quando o Atlético, ao confirmar que a Federação – via ofício e comunicado – havia marcado o jogo contra o Londrina para Ponta Grossa, citava tratativas com o Paraná. O Paraná já havia recorrido a nota oficial para se manifestar sobre as mesmas, que só existiram por falta de entendimento entre Coritiba e Atlético, Federação no meio, TJD chamado a intervir. Tudo registrado em notas, sejam fossem elas oficiais, de protesto, repúdio ou informativas. Como disse certa vez Carneiro Neto diante de Val Pilar e Val Araguaia no mesmo metro quadrado em um Treze x Atlético, pela Copa do Brasil, nos anos 90: “Me perdi, Remi”.

O que está no centro de toda essa discussão é o local em que o Atlético mandará seus jogos durante as obras da Arena para a Copa. O assunto, enfadonho, mas necessário, está tratado em minúcias no noticiário, então não vou me preocupar em resumi-lo. Quero ampliar um pouco o foco.

Vilson Ribeiro de Andrade, Mário Celso Petraglia e Rubens Bohlen são bem-sucedidos homens de negócio, tanto que podem abrir mão de seus negócios para se dedicar ao não-remunerado cargo de presidente de clube de futebol. Não me consta que nenhum deles tenha construído suas brilhantes carreiras à base de notas de repúdio, muito menos em notas com tantas bravatas e palavras de ordem que as posições corretas acabam sufocadas. Aliás, não tenho notícia de empresa alguma que tenha se erguido, lucrado e liderado o seu setor com seus presidentes discutindo questões estratégicas como se fossem vizinhas fofoqueiras debruçadas sobre a janela gritando por cima do muro. Se no mundo empresarial não é assim e se os dirigentes enchem a boca para dizer que gerem seus clubes como empresas, mas na prática temos notas pipocando nos sites oficiais dia sim, outro também, há alguma incoerência no ar.

Outro aspecto que não pode ser esquecido. No fundo, as notas de repúdio servem para dar satisfação ao torcedor e assegurar que a honra do seu clube de coração está sendo defendida. Não lembro de ter visto estatísticas a respeito, mas basta uma zapeada pelo noticiário para ver quantos crimes são cometidos sob a justificativa da “defesa da honra”, alguns inclusive tendo o futebol como pano de fundo. Se ignorantes, desequilibrados ou simplesmente pessoas sem caráter usam esse argumento por conta própria, imaginem quando alguém letrado, com um cargo que muitos torcedores respeitam mais que o de presidente da República, assina embaixo que é necessário defender a honra. É apagar incêndio com gasolina.

Há algumas semanas, o André Pugliesi recorreu a uma metáfora infantil para resumir a briga de Atlético e Coritiba sobre o Couto ser ou não o estepe rubro-negro durante a quarentena da Baixada. A alegoria é perfeita, recomendo que leiam – ou releiam. Como bons curitibanos, todos vão se preocupar em apontar o dedo para culpar o outro, até a história encher o saco, todos dizerem que ela está superada, não há rancor, imaginem, aperto de mão, tapinha nas costas, pose pra foto, até surgir a primeira oportunidade para o rancor aflorar novamente, mais forte e mais intolerante.

Como dizemos lá no ar rarefeito das colinas da Vila Tingui – e com o perdão da rudez das palavras -, a merda já está feita e o ventilador foi ligado, agora só resta limpar a sujeira. Pouco importa onde começou o problema. Coritiba, Atlético, Paraná e Federação deveriam se juntar, passar de verdade uma borracha no que foi feito, cada um assumir uma parte da culpa na confusão e pensar na melhor solução possível.

Não precisa ser nenhum gênio para deduzir que o mais lógico é o Atlético mandar os jogos maiores no Couto Pereira e os menores na Vila Capanema. Há um preço para isso? Sim, há um preço, que não pode ser barato demais para a dupla Paratiba, a ponto de fazê-los sair no prejuízo, nem caro demais para o Atlético, a ponto de abrir um rombo no caixa do clube para bancar aluguel de estádio. Qual esse valor? Não sou eu quem tem que responder. Há cabeças realmente brilhantes dentro dos clubes, que precisam funcionar em busca de soluções boas para todo mundo. Sem rancor, sem repúdio, sem veemente protesto.

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