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Há uma grande dose de preconceito na fritura de Marquinhos

Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Marquinhos Santos vaiado no Couto Pereira: exagero.

Alguns erros do Coritiba neste início de temporada têm influência direta de Marquinhos Santos. A montagem do time está atrasada. A defesa, a partir do momento que passou a ser minimamente testada, abriu o bico. O plano tático principal para a temporada (4-4-2) foi deixado de lado em detrimento do esquema que vinha dando resultado imediato (3-5-2/ 4-1-4-1). Marquinhos Santos se repete em algumas explicações, o que sempre passa a impressão de que tem algo sendo feito no piloto automático. “Estava no nosso planejamento”, “é bom que aconteça isso agora” e “controle emocional” têm sido termos recorrentes nas coletivas. Um “eu errei” às vezes é muito mais eficiente e sincero.

São problemas pontuais que podem perfeitamente ser corrigidos, alguns até com o simples desenrolar da temporada. Há tempo, elenco e capacidade do treinador para isso. Mesmo com esses poréns, Marquinhos Santos é o cara certo para dirigir o Coritiba nesse momento. Um momento em que o time está deixando para trás um modelo de jogo usado por duas temporadas a fio, uma eternidade no padrão brasileiro. O que leva a outra conclusão: há um certo exagero em algumas cobranças ao treinador.

Os gritos de “Fora Marquinhos” durante o jogo contra o Arapongas foram desproporcionais. O teor de algumas críticas, inclusive de colegas de imprensa, idem. Uma fritura precipitada que não se justifica e tem claramente um fundo de preconceito.

Marquinhos Santos é um nerd da bola. Tem 33 anos, nunca havia dirigido um time profissional nem jogado bola. É estreante e supostamente inexperiente nas coisas do futebol. Um treinador que passou recentemente pelo Alto da Glória o chamaria de técnico de videogame.

Marquinhos compensa a pequena convivência com o “cheiro de Zig no vestiário” com um estudo obsessivo do futebol. Assiste a inúmeros jogos semanalmente, arquiva vídeos e dados, frequenta estádios. Na base, desenvolveu seus trabalhos livre dos vícios dos velhos professores brasileiros, acostumados a seguir o esquema da moda sem refletir se ele se aplica ao elenco que tem em mãos, se encolher nos 15 primeiros minutos dos jogos fora de casa, esperar sempre até o intervalo para corrigir erros claros que seu time exibe na etapa inicial e outras pragas que se repetem jogo após jogo nos bancos de reserva do país.

Quem aponta a inexperiência de Marquinhos como maior causa deveria puxar pela memória os técnicos que passaram pelo Alto da Glória nos últimos anos. Ivo Wortmann e Paulo Bonamigo, mesmo com experiência comprovada no próprio clube, fracassaram na segunda passagem. Estevam Soares foi incapaz de chegar à decisão do estadual. Joel Santana foi o maior fiasco no comando do Coritiba desde a passagem de Felipão.

Na outra mão, Dorival Júnior e Marcelo Oliveira tinham menos de uma década de carreira no profissional quando desembarcaram no Alto da Glória. Apenas no Cruzeiro DJ dirigiu um time maior que o Alviverde paranaense. Ambos fizeram grandes trabalhos no Coxa. Ney Franco já havia comandado o Flamengo, mas seu currículo ainda era pequeno ao assumir o time em 2009.

Pode-se argumentar que todos tinham experiência no profissional quando assumiu o Coritiba. Inegável. Mas não se pode alegar que o Coritiba não é clube para treinador estrear. O Coritiba não é clube para técnico incapaz, algo que independe de tempo de estrada. Marquinhos Santos, inegavelmente, tem capacidade para ocupar o cargo que ocupa.

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Ano passado, quando Ney Franco balançou pela primeira vez no São Paulo e Marcelo Oliveira já era contestado no Coritiba, disse que Ney, se demitido, seria uma ótima opção para o Coxa, mesmo com MO no comando. Agora Ney Franco está balançando de novo, mas a situação é diferente.

Naquele momento, Ney havia acabado de sair da seleção sub-20. Ainda não tinha feito o suficiente para cavar espaço em outro gigante do futebol brasileiro. Agora, com mais tempo de São Paulo, conseguiria sair do Morumbi sem precisar baixar muito o patamar salarial — algo indispensável para que ele coubesse no bolso do Coritiba. Além disso, o desgaste de Marcelo Oliveira naquele momento era irreversível, o que não é o caso com Marquinhos.

O mesmo raciocínio cabe para Dorival Júnior. Quando deixou o Coritiba, no fim de 2008, DJ recebia R$ 150 mil — salário de Marcelo Oliveira no fim do seu contrato com o Alviverde. No Flamengo, Dorival ganhava R$ 450 mil e não aceitou reduzir os ganhos quase pela metade. Acabou substituído por Jorginho, a R$ 250 mil. O Coritiba, hoje, não pagaria a um treinador o salário que Dorival ganhava, o salário que o Flamengo queria que ele ganhasse nem o salário que Jorginho ganha.

Para pagar mais barato, só se abraçando a algum PC Gusmão da vida. Aí, a emenda sai muito, mas muito pior que o soneto.

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