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Nós somos os palhaços no salão


Levei 45 minutos para ir da firma até em casa. Para uma sexta-feira de Carnaval chuvosa e com 500 e tantos quilômetros de lentidão em São Paulo, um belo tempo. Saí do Itaim com um Atletiba de torcida única, cheguei à Lapa com um Atletiba de duas torcidas e nem sei a que Atletiba assistiremos na Quarta-Feira de Cinzas. Só sei que a derrota do futebol paranaense no caso é certa, de goleada, e só tende a ficar mais humilhante até a bola rolar na Vila Capanema.

Há alguns dias escrevi sobre o quanto a sociedade sai derrotado com um clássico de torcida única. Agora, acrescento o seguinte: o dirigente e a autoridade que endossa um clássico de torcida única está dizendo (mesmo que inconscientemente) que você, torcedor, é incapaz de viver em sociedade. Que você, torcedor, é incapaz de ver um rival do outro lado da calçada sem ter o instinto de agredi-lo. Que você, torcedor, só consegue conviver pacificamente com seus semelhantes, com aqueles que pensam igual a você. Que a única maneira de você, torcedor, controlar suas emoções em uma situação de tensão acima do normal é isolar-se de tudo que seja diferente.

Ajustando o foco somente para o futebol, a indefinição sobre quem poderá ver este Atletiba – e por consequência o do returno – é apenas mais um de uma série interminável de erros no futebol paranaense. No twitter, o amigo João Paulo Zanona listou alguns absurdos do Estadual-2012: sobe e desce do Paraná, Iraty ameaçando desistir do campeonato, FPF impondo o empréstimo do Couto Pereira, Atlético sem estádio, morte de torcedor no Ecoestádio, Atletiba de torcida única. Todos estes fatos derivam de desorganização, egoísmo, oportunismo, omissão, intolerância e da total incapacidade de estabelecer um diálogo em que se parta do princípio de que a solução, qualquer que seja, deva ser bom para todo mundo.

Restringindo ainda mais foco, agora para o Atletiba, afinal, para algumas cabeças coroadas do nosso futebol (especialmente aquelas lá da Avenida Victor Ferreira do Amaral) é difícil estabelecer qualquer linha de raciocínio com um contexto mais amplo. Desde que saiu a tabela do Paranaense, no dia 23 de novembro, a Federação foi alertada por toda a imprensa e por muitos torcedores da burrice que era marcar o clássico para uma Quarta-Feira de Cinzas. A FPF ignorou, assim como os clubes, que não aproveitaram o prazo previsto em lei para contestar a tabela e evitar este absurdo. Preferiram deixar a bomba relógio armada e, claro, ela estourou no último minuto.

No fim, passaremos o feriado sem saber ao certo se valerá o desejo de torcida única dos clubes e da Polícia Militar – e para a PM é uma loucura emendar uma operação de Carnaval com outra para um Atletiba, ainda mais se ele será realizado em uma região de grande fluxo de pessoas voltando de viagem, seja de carro, seja de ônibus. Ou se valerá a determinação do Ministério Público de respeitar os 10% da torcida visitante. Fora a possibilidade surreal de torcedores do Coritiba comprarem ingresso e, no fim, não poderem entrar no estádio.

A única certeza é que já estão bem definidos os papéis daquela velha marchinha de Carnaval. O riso e alegria fica com quem armou esta lambança. Enquanto todos nós, que gostamos de futebol, somos os palhaços no salão.

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