Depois de duas semanas de muito mistério, os primeiros 90 e poucos minutos de futebol do Atlético corresponderam parcialmente ao pouco que sabíamos de Juan Ramón Carrasco: algumas improvisações e muitas variações táticas. A ofensividade prometida ficou pra próxima. O time venceu, o que era fundamental na estreia, deixou algumas boas impressões e outros pontos que precisam ser melhorados. Vou blocar a avaliação, porque tem muita coisa pra falar.
3-3-1-3
Foi assim que o Atlético começou o jogo, um desenho bastante usual nos times de Carrasco. Manoel e Gustavo eram fixos na primeira linha; Deivid e Paulo Baier eram fixos na segunda. Paulo Otávio e Héracles se alternavam entre uma e outra, de acordo com a necessidade. As vezes se fixavam na primeira, formando o 4-3-3 clássico.
Paulo Otávio foi a surpresa na escalação. Um garoto de 17 anos, que chegou em setembro do PSTC e sempre jogou como lateral esquerdo acabou improvisado na direita. Era clara a dificuldade do Ninja para ajeitar o corpo e trazer a bola para o pé bom. Mas no geral ele foi bem, fez uma boa estreia e ainda salvou um gol em cima da linha no segundo tempo.
Marcinho era o número 1. Ficou isolado. A bola passou pouco por ele, que manteve o futebol mediano do ano passado. Mas o problema mesmo estava no ataque. Nieto é canhoto, lento e sua (única?) virtude é o jogo aéreo, que funciona melhor com ele centralizado. JR o escalou aberto pela direita. Não tinha como dar certo. Morro García atuou centralizado e mais uma vez foi muito mal. Além do futebol ruim, demonstrou pouca vontade. A pipocada na dividida com Rogério, lá pelos 35 do primeiro tempo, tirou a torcida do sério e justifica a sua volta ao banco de reservas.
Ricardinho passou boa parte do primeiro tempo esquecido do lado esquerdo – o Atlético insistia muito na direita. Até Paulo Baier descolar um lançamento fantástico, no rebote de um escanteio, para o ponta esquerda dominar, avançar contra dois marcadores, esperar a hora certa e soltar um foguete de perna esquerda, na gaveta. O Atlético não jogava bem, não era melhor, mas chegou ao gol quando acionou o seu melhor jogador.
Carrasco também viu
O Atlético estava mal e Juan Ramón Carrasco também viu. Morro García nem voltou do vestiário. Marcelo entrou e o posicionamento do ataque foi corrigido, com Nieto pelo meio, mais adiantado, Marcelo pela direita e Ricardinho pela esquerda, um pouco mais atrás. Os dois recuavam para ajudar na marcação no meio-campo e saíam no contra-ataque. Foram, ao lado de Rodolfo, os melhores jogadores do Atlético em campo.
Árvore de Natal
Héracles começou a ter dificuldades de marcação pela direita e Carrasco voltou a intervir. Pôs Bruno Costa na lateral direita e puxou Paulo Otávio para a esquerda. Com eles, Manoel e Gustavo formaram uma linha de quatro zagueiros que se manteve até o fim. Logo à frente dele estava Deivid e à frente de Deivid vinham Paulo Baier e Héracles, marcando e saindo para o jogo. Mais adiante, Marcelo e Ricardinho ajudavam no meio-campo e encostavam em Nieto, na prática, o único jogador com a responsabilidade apenas de atacar. Em números, um 4-1-2-2-1, ou Árvore de Natal, como diz o pessoal entendido em tática. Foi com esse esquema que o Nacional ganhou do Fluminense no Engenhão, ano passado, pela Libertadores.
A Árvore de Natal de Carrasco variou bastante. Logo Ricardinho cansou e foi substituído por Bruno Mineiro. E por características, Bruno acabava encostando muito mais em Nieto do que ajudando o meio-campo. Lembre da jogada do segundo gol. Marcelo avança pela esquerda e cruza, Nieto fura o toque de letra e Bruno Mineiro fuzila. Um gol de quem está jogando com três atacantes. Lá no meio-campo, Paulo Baier também cansou, mas o Atlético já havia feito as três substituições. Então Baier virou primeiro volante para poder correr menos e Deivid saiu um pouco mais.
Saldo positivo
Rodolfo fez uma estreia muito segura. Ameaça, sim, a posição de Renan Rocha. Paulo Otávio, mesmo fora de posição em mais da metade do tempo, foi bem. Paulo Baier foi escalado totalmente deslocado e segurou o rojão. Ricardinho foi o melhor atacante. Bruno Mineiro e Marcelo entraram durante a partida e se saíram muito melhor que os titulares Morro García e Nieto. Carrasco viu o que estava errado e mexeu rápido e certo. Isso é ótimo.
Saldo negativo
Paulo Baier de primeiro volante, Marcinho de atacante, Nieto de ponta direita e Morro García centralizado são experiências que não precisam ser repetidas. Fracassaram.