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O Coritiba não tem o direito de se calar diante da truculência contra a fã de Lucas


Confusão por causa de uma camisa: é fácil identificar os valentões.

Difícil saber o que é pior na confusão envolvendo a menina que foi pedir a camisa de Lucas após o Coritiba x São Paulo de ontem. A truculência em si de alguns torcedores, claro, é lamentável. Mas as “justificativas” não ficam atrás. Vejam alguns exemplos que eu li e ouvi em rodinhas virtuais e reais. Todas me deixaram tão envergonhados quanto o ato em si, um vexame para o futebol paranaense:

– A menina não deveria ter feito isso estando na torcida do Coritiba;

– Lucas errou ao jogar a camisa com torcedores do Coritiba ainda no estádio;

– A menina é são-paulina e estava infiltrada na torcida do Coritiba (os “justiceiros” chegaram a essa conclusão vasculhando os perfis dela no Twitter e no Facebook);

– Queria ver se o Lucas protegeria um torcedor do Coritiba que estivesse no meio da torcida do São Paulo.

Perco a esperança no ser humano quando vejo essa incapacidade de conviver com um gosto diferente. Torcedor de outro time não é inimigo, tampouco admirar um craque de outra equipe é crime.

Há alguns meses escrevi que esperava ver um dia novamente as arquibancadas sem divisão de torcidas, sem grades e cordões de isolamento que enjaulam os torcedores. Que aceitar isso corresponde a achar que viver em condomínio de muros altos e cerca eletrificada é sinônimo de liberdade.

Pelo que é possível conferir nas imagens da Band, os torcedores que cercaram a menina e o pai dela são jovens demais para terem frequentado um estádio sem divisão de torcida. Se tivessem vivido essa experiência, talvez sua reação fosse diferente. Provavelmente considerariam mais natural dividir espaço com alguém que admire o craque do adversário. Também poderiam ter a mesma tolerância com uma educação melhor, algo que claramente falta a todos.

É evidente que não dá para generalizar ou satanizar a torcida do Coritiba por causa disso. Mais triste do que o fato e a maioria das reações a ele é saber que o mesmo teria acontecido em qualquer outro estádio brasileiro.

Mas aconteceu no Couto Pereira e com o Coritiba, o que exige uma ação da diretoria. As imagens são claras demais. É possível identificar os valentões truculentos que coagiram a menina. Alguns, inclusive, devem ser sócios do Coxa, o que até facilita uma punição interna – fora medidas legais.

Se um banal pedido de camisa a um adversário já causou essa reação irracional de alguns torcedores, imagine o que um rebaixamento em casa faria. O Coritiba nem precisa imaginar. Basta olhar para o dia 6 de dezembro de 2009 e lembrar que este ano o clube pode, novamente, cair para a Série B dentro de casa.

Três anos atrás, a permissividade da diretoria com parte da torcida desencadeou o mais triste dia da história coxa-branca. Naquele episódio até havia a justificativa de que não se poderia imaginar uma barbárie daquelas. Agora não há essa desculpa. O Coritiba tem a chance de evitar que a tragédia se repita. E de sair maior de um episódio em que uma dezena de torcedores maculou a imagem que o clube se empenha em reconstruir.

*****

Eu ainda estava no estádio, escrevendo o material do jogo para a Esportiva desta segunda-feira, quando o tumulto aconteceu. Frise-se que o pior só foi evitado pela ação dos seguranças e orientadores do Coritiba, que de dentro de campo e na arquibancada correram para conter o tumulto e tirar tanto a torcedora como seu pai do estádio em segurança.

A PM chegou atrasada. Quando o tumulto estava acabando, policiais corriam do segundo anel da Mauá para a arquibancada inferior. Chegaram e havia pouco o que fazer. O que, no fim, foi até bom. O histórico de truculência da polícia militar em estádios permite imaginar que alguém se machucaria com gravidade caso a PM estivesse por perto no momento da confusão.

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