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O DM do Coritiba merece ser questionado, mas não acusado

Keirrison recebe "atendimento" de Robinho, após cair com cãibras: reflexo normal de um processo demorado. (Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo) (Foto: )
Keirrison recebe

Keirrison recebe “atendimento” de Robinho, após cair com cãibras: reflexo normal de um processo demorado. (Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)

A sucessão de lesões no Coritiba ganhou contornos bizarros na partida contra o São Paulo. Keirrison saiu com cãibras para a entrada de Geraldo. Geraldo saiu machucado para a entrada de Anderson Aquino. Anderson Aquino saiu machucado para a entrada de Lincoln. Um episódio que aumenta ainda mais a cobrança em torno do trabalho de departamento médico e da preparação física do clube. O instinto é apontar que algo errado nesses dois setores e, por isso, o DM alviverde nunca esvazia. Mas antes de apontar dedo, é preciso fazer algumas ponderações e questionamentos.

 

Começo por Keirrison, o caso mais preocupante, por se tratar de alguém já com um histórico de lesões. É impossível dissociar a escalação do K19 como titular da contusão de Deivid e da terrível forma técnica de Bill e Júlio César. Se um desses três fatores não existisse, Keirrison provavelmente ficaria no banco. O que não significa precipitação na sua escalação.

 

Keirrison havia participado de quatro partidas na temporada. Jogou 11 minutos contra o Santos (21/7), 44 minutos contra o Cruzeiro (3/8, jogo do qual saiu após bater o joelho na trave), 21 minutos contra o Vitória (21/8) e 32 minutos contra o Criciúma (24/8). Há uma progressão no uso do atacante, que fez fortalecimento muscular na semana passada e ontem permaneceu em campo por 51 minutos.

 

“Ah, mas Keirrison saiu machucado”. Ok. Mas é um processo natural para um jogador que ficou tanto tempo inativo. Já quando Keirrison foi contratado, ano passado, escrevi da necessidade de ter paciência com ele. Sua volta em 2012 significaria um reforço de fato para 2013. A volta foi adiada para 2013 e, automaticamente, ter Keirrison como alguém capaz de disputar séries de partidas inteiras e ser decisivo é algo plausível para 2014. O problema é o Coritiba precisar de Keirrison agora, porque Deivid está machucado, porque os seus reservas não dão conta do serviço e porque o garoto da base que deveria estar na fila (Rafhael Lucas) se machucou gravemente no primeiro jogo do ano.

 

Para traçar um comparativo de como a lesão muscular de Keirrison, ontem, está relacionada a falta de ritmo de jogo, basta olhar para a Vila Capanema. Fernando Gabriel havia entrado durante 11 jogos do Paraná até ser titular pela primeira vez, contra o Sport. Como reserva, Fernando Gabriel participou de no máximo 29 minutos de uma partida. Na primeira como titular, suportou 64 minutos e saiu com cãibras, exatamente como Keirrison. É uma consequência natural de não estar em ritmo de jogo. É assim para quem é reserva, é assim para quem ficou dois anos de molho.

 

Vou de Keirrison para Anderson Aquino, que fez sua estreia na temporada ontem. Também era natural Aquino sentir a falta de ritmo de jogo. Entrou para atuar por 38 minutos, o tempo que faltava quando substituiu Geraldo. Suportou apenas nove, até sentir a musculatura atrás do joelho operado, o esquerdo.

 

A questão não é se Aquino deveria ter voltado ou se o seu problema foi mal curado, para ficar nas reações imediatas que pipocaram por aí. Parto do princípio de que o tratamento foi adequado e sua liberação só aconteceu porque era o momento de utilizá-lo.

 

O ponto é se Aquino poderia suportar 38 minutos de jogo. Keirrison reestreou com apenas 11 minutos, mas vinha parado havia quase dois anos. A inatividade de Aquino era inferior a uma temporada. A lesão de Keirrison era reincidente. A de Aquino, não. Fatores decisivos antes de se apontar qualquer responsabilidade.

 

Geraldo no jogo contra o Vasco, quando sofreu a primeira lesão. (Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo)

Geraldo no jogo contra o Vasco, quando sofreu a primeira lesão. (Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo)

O caso de Geraldo é diferente. O atacante ficou fora por três rodadas, com uma lesão muscular. Voltou contra o Inter. Foi substituído contra o Botafogo, novamente com dores. Saiu do banco para o campo contra o São Paulo e suportou apenas 11 minutos.

 

É um caso similar ao de Júnior Urso, que saiu machucado contra o Vitória, passou cinco rodadas no departamento médico, fez cinco partidas e se machucou de novo.

 

Tanto para Geraldo como para Júnior Urso, é possível questionar o grau de relação entre as duas lesões. E tudo isso com a sobrecarga de jogos do calendário brasileiro, um problema cada vez mais crônico, que tem enchido o DM de praticamente todos os clubes do país.

 

O grande número de jogos aumenta a carga física dos jogadores e reduz o tempo de recuperação. O jogador volta a se expor a um esforço físico grande antes de se recuperar totalmente. Departamentos médicos e comissões técnicas estão habituados a lidar com essa situação e trabalham em função disso. Mas — e aqui levanto uma hipótese — e se a sobrecarga sucessiva de jogos, por anos a fio, estiver provocando um desgaste que exige métodos e prazos de tratamento diferentes? É plausível, considerando que hoje se joga mais do que há cinco ou dez anos. Seria, então, uma nova situação que se coloca perante todos os clubes brasileiros, não só o Coritiba, e que talvez ainda não tenha sido totalmente controlada pelos especialistas. Um período de transição e adaptação.

 

É uma dúvida que deve se dar a chance ao departamento médico do Coritiba de responder. Bem como sobre a contusão de alguns jogadores logo após eles voltarem do DM e a forma como quem passa grandes períodos fora é reintegrado à rotina de jogos. Questões fundamentais para serem respondidas com o conhecimento que todos esses profissionais têm de suas áreas, não com o automático “estava no planejamento que isso ia acontecer agora”. Somente assim será possível dissipar essa nuvem que constantemente se coloca diante do trabalho do DM e da preparação física do Coritiba — e ver a real condição física do elenco alviverde.

 

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