Atlético x Palmeiras foi um jogo estranho. Lembra aqueles filmes de roteiros intrincados, cheios de reviravolta e pistas ocultas espalhadas, que te fazem sair do cinema com a sensação de que é melhor assistir de novo para entender a trama. Sinto informar, mas não assistirei novamente a Atlético x Palmeiras. Não mereço tal castigo. Então espalho as peças por aqui para montar o que foi esse 2 a 2.
A primeira esquisitice foi a mudança em massa promovida por Antonio Lopes, já comentada no post abaixo. A disposição do meio-campo efetivamente foi em losângo, com Deivid ocupando-se primordialmente de marcar Kléber, que logo de cara mostrou suas credenciais ao soltar o cotovelo no volante atleticano. Guerrón de fato jogou escancarado pela direita, nas costas de Gabriel Silva. Um bom caminho para chegar ao gol.
O bicho pegou mesmo na defesa. Héracles começou o jogo perdido, indo seco em alguns lances, chegando atrasado a outros. Coisa normal de um guri lançado na fogueira, um perigo que Lopes decidiu assumir em um momento delicado. Rafael Santos, como era de se esperar, não aliviou o caos aéreo na defesa rubro-negra. Da junção entre a desorientação de Héracles e a crônica fragilidade pelo alto saiu o primeiro gol do Palmeiras, de Henrique, que subiu sozinho para cabecear.
E ali ficou muito evidente todo o momento delicadíssimo que o Atlético enfrenta. O time, moribundo por natureza, morreu de vez. O ânimo era de quem tomava 4 a 0 aos 35 do segundo tempo. Vendo o defunto fresquinho, Marcelo de Lima Henrique tratou de tentar enterrá-lo bem ao seu estilo: amarrando o jogo com faltinhas inexistentes, deixando correr quando as faltas acontecem, distribuindo cartões a granel.
Em meio ao caos desenhado pela combinação gol-nascido-de-erros-antigos-juiz-ruim, o Atlético achou o gol. Um gol que caiu do céu, encomendado por Edilson, ajeitado pela casquinha desajeitada de Marcos Assunção e concluído por um desmarcado Guerrón.
Aí, veio o lance que redefiniu o jogo. Cléber Santana dá o bote (imprudente, é verdade) por trás para desarmar Luan. Pega a bola. Marcelo de Lima Henrique dá falta – que não existiu – e ainda mostra amarelo. Cléber Santana aplaude ironicamente e é expulso. Um lance que começou em uma falta inexistente e terminou em um espetáculo de prepotência do árbitro, que batia arrogantemente no escudo da Fifa para demonstrar autoridade. Uma bronca bem dada resolveria, mas Marcelo de Lima Henrique sempre tem que dar sua contribuição para estragar o espetáculo.
A partir dali, o Atlético voltou para a UTI. Lopes trocou Adailton por Kleberson e deixou o time parecido com o de Adilson Batista: um meio-campo coalhado de volantes e Guerrón aberto na direita como único atacante. Não dava certo quando era o plano A, ensaiado exaustivamente, não daria certo como plano de emergência.
E lá foi o Palmeiras apertar o Atlético de novo. Sempre apostando na bola alta. A partir de uma delas, rebatida por Renan Rocha para a pequena área, Fernandão desempatou, retomando o roteiro do primeiro tempo.
O Atlético mais uma vez morreu. O Palmeiras mais uma vez tirou o pé satisfeito com a vantagem mínima. Mais uma vez o gol de empate desabou do céu. Obra de uma falta cobrada rapidamente, com um chutão que encontrou Guerrón na área e acabou com um pênalti de Marcos, convertido por Marcinho.
A história se repetia. O Atlético, sem jogar bem em momento algum, chegava ao empate contra um Palmeiras que dominava a partida, mas não conseguia matar o jogo – mezzo preguiça, mezzo ruindade. O time de Felipão recorreu à sua única arma, chuveirinhos. Só faltou Marcos arriscar um lá do tiro de meta. O Atlético defendeu-se como pode e saiu de campo aliviado pelo pontinho conquistado.
Alívio justificado pelas circunstâncias da partida, mas não pelo campeonato. O Atlético tem 19 pontos em 22 jogos. Os primeiros na fila de entrada da zona são Bahia (24 pontos, 21 jogos) e Grêmio (24 pontos, 20 jogos). Com 22 jogos, o mais próximo é o Ceará (26 pontos).
É inegável que o árbitro atrapalhou, mas o pior de tudo para o atleticano é sair do jogo com a estranha sensação de que mesmo uma arbitragem perfeita não seria capaz de mudar a sorte do seu time.
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Notas
Renan Rocha
Tem sua parcela de culpa no caos aéreo da defesa atleticana. Sai pouco do gol, é inseguro quando sai e a zaga transparece sentir falta de uma orientação mais firme. Rebateu duas bolas para o meio da área, em uma delas saiu o segundo gol. Hoje esteve mais para Vinícius que para Neto. 4
Edilson
Sua utilidade restringiu-se às bolas paradas. No primeiro gol, precisou da ajuda de Marcos Assunção para fazer seu passe chegar a Guerrón. No gol de Henrique, o zagueiro do Palmeiras passa do lado dele antes de cabecear sozinho. 5
Manoel
Bem por baixo, perdido mais uma vez pelo alto. 4,5
Rafael Santos
Sua entrada não refrescou em nada o caos aéreo. 4,5
Héracles
Perdido na marcação, melhorou ao longo do jogo. Bem mais pela vontade do que pelo futebol. 5
Deivid
Incansável na marcação como sempre, saiu-se bem na missão dura de marcar Kléber. O Gladiador só deu o passe para o gol porque Deivid estava na área ajudando na marcação. 6
Cléber Santana
Caiu junto com o time após o gol de Henrique e foi expulso injustamente em um lance que mesclou falta inexistente e prepotência. 5
Marcelo Oliveira
Eficiente na marcação, não deu a qualidade na armação esperada por Antonio Lopes. 5
Marcinho
Foi esperto ao bater rapidamente a falta que resultou no pênalti sobre Guerrón, convertido por ele mesmo. Coube a Marcinho a missão de tentar dialogar com o árbitro. 6,5
Guerrón
O artilheiro dos gols inúteis e das chances perdidas em horas impróprias fez seu melhor jogo pelo Atlético. Se o seu problema, segundo Renato Gaúcho, era falta de empenho, não é mais. Guerrón correu muito, fez um gol e sofreu um pênalti após uma matada no peito de quem conhece. 7
Adailton
Teve seu nome anunciado pelo locutor do estádio, cantou o Hino Nacional como qualquer outro boleiro, mal moveu os lábios no Hino do Paraná e atendeu rapidamente à subida da placa indicando sua substituição. 4
Substitutos
Kleberson Recompôs o meio pelo lado direito com a expulsão de Cléber Santana. Marcou bem, mas quase não atacou 5/ Madson Entrou para levar o Atlético ao ataque e fracassou fragorosamente 4,5/ Pablo Entrou porque Guerrón não aguentava mais correr e nem pegou na bola Sem nota
Antonio Lopes
Da sua revolução na escalação saíram um renascido Guerrón, um meio-campo organizado e uma zaga com os erros de sempre. Fez mudanças óbvias, que em nada ajudaram o Atlético a melhorar. 5
Marcelo de Lima Henrique
Apitou 54 faltas (segundo maior índice do Campeonato Brasileiro), mostrou 11 amarelos e 1 vermelho. Deu mais uma aula de prepotência como sempre, causou polêmica como sempre. É um dos piores árbitros da Série A e inexplicavelmente enverga o escudo da Fifa. Pelo menos acertou no pênalti 1
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Para não deixar passar. Alfredo Ibiapina xingou o árbitro no intervalo e foi lá atrás do gol xingá-lo mais um pouco no segundo tempo. Fez o que todo o torcedor gostaria de fazer naquele momento, pode dizer alguém. Ok, mas Ibiapina não é torcedor, é dirigente. Dirigente quando pensa e age como torcedor começa a meter os pés pelas mãos, o que ajuda a explicar a penúria rubro-negra. O protesto era plenamente legítimo e justificável, mas a cena foi ridícula.
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