O “pênalti” do Pacaembu expõe o maior problema da arbitragem

Sou um ferrenho defensor do auxílio eletrônico à arbitragem. Um observador externo seria capaz, por exemplo, de detectar a ação de Bill no difícil impedimento que decidiu Coritiba x Portuguesa, na semana passada. Mas tem certos vícios da arbitragem que dependem muito mais de um divã do que de um comitê de notáveis munidos de câmeras em alta definição.

O “pênalti” que decidiu Corinthians x Coritiba, ontem, foi, antes de mais nada, um absurdo. O contato entre Luccas Claro e Danilo é totalmente do jogo. Nem um árbitro de basquete apontaria para a cal. Péricles Bassols Pegado Cortez fez o que um árbitro ruim faz: marcou o que era conveniente para o time da casa.

E aqui não estou falando em má-fé. É uma tendência instintiva, já estudada academicamente e batizada de “influência do barulho nas decisões do árbitro de futebol”. A torcida grita e o árbitro, impulsivamente, aponta aquilo que o público quer. É assim em um erro indefensável como o de Bassols. É assim em um erro polêmico como o do auxiliar de Coritiba x Lusa. E você pode elencar aqui todos os outros erros que lembrar ter visto em um campo de futebol; raríssimos fugirão desse roteiro.

A lógica é simples. O árbitro, mal preparado, decide aquilo que lhe for mais conveniente para sair tranquilamente do estádio. No caso, decidir a favor do time de casa. E se ele for um gigante do futebol brasileiro, como é o Corinthians, diante de uma força regional, como o Coritiba, melhor para o árbitro, pois maior a certeza de que ele não será “incomodado”.

É uma realidade perversa, mas infelizmente enraizada no futebol. O Coritiba deve, sim, protestar formalmente. E Bassols merece, sim, uma geladeira. Punição para fazê-lo pensar no erro e se preparar para não repetí-lo — ou ao menos reduzir sua incidência. Só assim para mudar a direção do vento na arbitragem. Um vento que sempre sopra (junto com o apito) para o lado mais forte. A única diferença é de qual lado o seu clube está em cada erro.