JR Carrasco atravessou a fronteira entre a inovação e a invenção, hoje, em Paranaguá. A insistência com Nieto pela ponta direita, a escalação de Pablo na lateral direita e a falta de um armador ofensivo tornaram-se adversários extras para o Atlético. Como se já não bastasse o Rio Branco e o calor, o Rubro-Negro ainda precisou escapar nas armadilhas montadas pelo treinador.
De Nieto não há muito mais o que falar. A função original do argentino permite a ele resolver jogos usando apenas a cabeça ou dando um tapa certeiro na bola. Ele não consegue. Imaginem, então, em uma posição que exige domínio de bola, deslocamento, visão de jogo, raciocínio rápido e precisão no passe – tudo ao mesmo tempo. Pelo menos o próprio Carrasco percebeu isso e sacou Nieto aos 29 minutos, lançando mão de um dos seus hábitos mais comuns: substituições antes do intervalo.
Marcelo entrou e as coisas se ajustaram. Com 11 em campo tudo fica mais fácil. O Atlético ganhou mais velocidade na frente, Bruno Mineiro e Ricardinho passaram a ter com quem fazer jogadas. Logo depois que Marcelo entrou o Atlético mandou uma bola na trave. E foi ele, Marcelo, quem ganhou a bola para Bruno Furlan marcar o segundo gol. Hoje, não dá para pensar em um ataque rubro-negro diferente de Marcelo, Bruno Mineiro e Ricardinho.
Bem, mas acelerei um pouco as coisas. Já falei do segundo gol e do próximo jogo, ficaram aspectos importantes pelo caminho. Um é do mesmo lado direito que Marcelo arrumou lá na frente. Pablo sofreu na defesa. Não, ele não foi mal. Se esforçou, até tentou ajudar no ataque. Mas se você joga com três atacantes, seus laterais precisam saber marcar – ou você precisa de dois volantes marcadores capazes de socorrer os laterais a todo o momento.
Pablo não é marcador e o Atlético tinha apenas Deivid como um volante marcador. O resultado foi o Rio Branco atacando muito por ali, especialmente com Denis Neves. As melhores jogadas do Leão foram em cima do improvisado lateral-direito rubro-negro. Se as categorias de base não foram capazes de formar um lateral destro digno de merecer uma chance no profissional, a diretoria precisa contratar um camisa 2 de verdade. O improviso na lateral pode fazer Carrasco queimar Pablo da mesma maneira que Renato Gaúcho fritou Fransérgio o escalando de centroavante.
Agora, a armação. Em três jogos, o único bom momento que se extrai de Marcinho é o passe para Bruno Mineiro fazer o primeiro gol contra o Operário. É pouco. A médio prazo, o problema tende a se resolver com a entrada de Ligüera no time. A curto prazo (o jogo de hoje), o Atlético passou boa parte do tempo com meio-campo e ataque desconectados. Carrasco tentou corrigir com a entrada de Bruno Furlan, o que também não deu certo. Bruno é atacante, não armador.
A solução, então, foi a mesma dos últimos dois anos e meio, e aqui Carrasco acertou muito. Escalado mais atrás, Paulo Baier precisa marcar como um Deivid em não tem mais fôlego para isso. Escalado mais à frente, de costas para a defesa adversário, teria menos espaço e seria engolido pela marcação.
Onde jogou, de 8 (como diria a turma das antigas), Baier teve 30, 40 metros de campo para distribuir a bola. E Paulo Baier com espaço para distribuir a bola é mortal. Que o diga o Londrina, derrotado na semana passada a partir de um lançamento de Baier quase de uma área à outra. Ou mesmo o Rio Branco, cuja tampa do caixão foi fechada hoje com um contra-ataque puxado por Baier. Antes, ele havia se posicionado com a inteligência típica de um centroavante (Nieto não conta) para abrir o marcador.
Encontrar uma função em que o jogo de Paulo Baier flua será fundamental para o sucesso de Carrasco no Atlético. Tanto por Baier fazer o time jogar e decidir partidas como por ser alguém capaz de dar à enxurrada de garotos que estão subindo a tranquilidade necessária para se firmar no profissional.
Não é de hoje, todos no Atlético sabem que diferença faz Paulo Baier jogando bem. Carrasco também está aprendendo. Para o uruguaio, foi a diferença entre ser chamado de “burro” e os aplausos que ele ouviu na saída de campo.
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