Paulo Rink deixou a gerência de futebol do Atlético
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Logo depois da derrota do Atlético para o Avaí, no domingo, começou a circular pelas redes sociais a imagem de Paulo Rink, gerente de futebol do Atlético, disputando um torneio de poker em Florianópolis, horas antes da partida na Ressacada (eu, por exemplo, vi no tuíter do Napoleão de Almeida). Como a derrota ainda estava fresca e eu estava em débito com posts sobre Coritiba e Paraná, deixei para ir atrás da história do poker na segunda-feira – tentando falar com Paulo Rink, para trazer uma informação além das que já circulavam.

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Abaixo, segue a resposta do Paulo Rink, na íntegra, sem cortes ou adaptações. As perguntas também estão na versão original, por isso o tom é de pré-demissão. Os grifos são meus. Lá no pé eu comento o episódio.

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O Atlético chega a dez rodadas do fim do campeonato precisando de 19 pontos em
30 possíveis. Depois da atuação de ontem, o que te faz acreditar na salvação do time?

Eu, como atleticano, sempre acreditei na virada da equipe, pois infelizmente já passamos por esta situação anteriormente e nos superamos nos momentos difíceis. Sempre pensei desta forma, agora como gerente, mesmo não tendo influência direta sobre o time, não tinha dúvidas, até o jogo contra o Avaí. No dia do jogo, tanto eu, quanto o Presidente Malucelli, o técnico Antônio Lopes e até os jogadores foram unânimes na opinião que foi uma lamentável apresentação e que assim o Atlético não sai da situação que se encontra.

O que precisa mudar?
Precisamos ter mais estabilidade no desempenho do time, Ex: fazemos um bom jogo contra o Internacional e depois temos esse fiasco em Florianópolis. Eu aceito até perder jogos quando o adversário for melhor, mas nunca perder na vontade e raça, características históricas de nossas equipes que infelizmente não consegui ver na ultima partida.

Como você percebe seu papel atual dentro do clube?
Meu papel é de gestor de contratos em prol do Atlético, enquanto Gerente de Futebol do CAP realizei a renovação de contratos de jogadores da base que hoje estão no profissional, negociei empréstimos de jogadores que temos reduzido substancialmente a folha de pagamentos do Clube, uma meta que me foi proposta e eu, usando minha experiência e contatos no mundo do futebol, consegui atingir com muito êxito. Prospectei alguns contatos internacionais com empresários e clubes interessados em conhecer nossos jogadores. Opinei sobre os jogadores quando perguntado, no início até trouxe algumas opções de nomes, mas a maioria da vezes minha opinião não prevaleceu e quando percebi que a linha de decisão era muito diferente da minha em termos de contratação, não forcei e tratei de cumprir as metas que me foram dadas. Tentei mudar algumas situações contratuais desfavoráveis ao Atlético, mas esbarrei em empresários que se recusavam a falar comigo pois, sabendo que entendo do assunto, preferiram ir por outros caminhos. Minha consciência está tranquila pois tudo que me foi passado como responsabilidade e meta eu cumpri. Fiz isso como jogador, faço isso na minha vida empresarial e repeti dentro do Futebol do CAP.

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Sente que a sua experiência de futebol e Atlético está sendo bem usada para ajudar o time?
Com quase 20 anos como profissional de futebol, carreira que devo tudo ou quase tudo ao CAP e ao futebol alemão, aos dirigentes anteriores que acreditaram em meu futebol e no meu profissionalismo como executivo de futebol e principalmente à maioria da torcida que sempre me incentivou e que esperava muito de mim, sou obrigado a dizer que não pude ajudar como poderia, mas todas minhas decisões foram sempre em prol do CAP, ao bem comum, às vezes até pondo em risco aspirações pessoais e minha imagem como ídolo da torcida, que sei que não foi abalada, mas isso fica em segundo plano, pois amo acima de tudo a família e o CAP e não gostaria de criar mais situações desfavoráveis ao clube e nem criar desafetos.

Você falou depois do jogo na necessidade de haver foco e concentração do time. Esse pedido não contrasta com o fato de, horas antes da partida, você ter ido disputar um torneio de poker em Florianópolis?
Vamos esclarecer este episódio, pois estão fazendo juízo partindo de uma ideia errada. Primeiro: acredito ter cumprido integralmente meu dever como Gerente de Futebol , ao ter desempenhado todas as funções pré-jogo. Não estava acompanhando a delegação neste fim de semana. Como sabem, estava acompanhando um dirigente de um clube alemão, meu amigo, que queria conhecer nossos jogadores. Esta era minha missão primeira em Florianópolis e a cumpri. Como tenho um envolvimento emocional muito forte com o Atlético, tentei, ao máximo, coordenar isso com o acompanhamento da delegação, mas me reservei ao direito de, no momento de descanso da equipe e que não tinha compromisso com o visitante estrangeiro, sair um pouco para espairecer. Ao invés de correr na praia, tomar café sozinho, ou ler um jornal no quarto ou na recepção do hotel, e como fui convidado por um amigo da organização do evento de poker, que por coincidencia acontecia no mesmo hotel que estávamos, preferi – e todos sabem que este é meu hobby – colaborar com o evento, um dos maiores do calendário nacional do esporte da mente. Todos sabem, isso é público, que enquanto estava fora do futebol, trabalhei muito pela divulgação do esporte da mente que hoje tem mais ou menos 2 milhões de praticantes no Brasil. Até mesmo a emissora da qual você é editor-chefe da revista com a mesma marca, a ESPN, é uma das principais incentivadoras da modalidade. Como sou uma pessoa pública e querida pelo pessoal do esporte, atendi o convite e entendi (e entendo!) que uma pequena participação não causaria nenhum dano à minha função no CAP ou à minha equipe. Deixei claro que não poderia atrapalhar de maneira alguma o meu trabalho, mas me senti na obrigação de ajudar um amigo que há tempos atrás até apresentou uma proposta de patrocínio para o futebol, mas que infelizmente não se concretizou porque o mercado brasileiro ainda não está amadurecido como o europeu na questão de patrocínio de clubes por sites de jogos. O poker para mim é um HOBBY e não uma profissão, jamais participaria de algo assim se entendesse que de alguma forma prejudicaria minha equipe e principalmente o Clube do coração. O Atlético é minha prioridade e tenho certeza que não o prejudiquei. Tanto que o contrato pessoal de patrocínio que tinha para o poker foi suspenso e desde que assumi minha função no CAP cancelei todos os meus torneios programados para o segundo semestre de 2011, um deles até era o maior do mundo, o WSOP, transmitido pela ESPN ao vivo pela primeira vez esse ano para o Brasil. Em Florianópolis uma coincidência aconteceu, e isso foi usado por parte da imprensa de forma tendenciosa para misturar as estações e, somado à péssima atuação em campo, gerar mais e mais polêmica. Todos usaram seus minutos livres da forma que bem entendem, eu não saio contestando jogador ou jornalista de como usam seu tempo de folga desde que não prejudique sua capacidade de cumprir suas responsabilidades. Qualquer coisa diferente disso é pura hipocrisia e oportunismo. Finalmente, segundo: As criticas feitas pós-jogo foram justas, realmente a equipe poderia ter tido um desempenho melhor, senti vergonha e falei. Não estou conseguindo ajudar minha equipe do jeito que gostaria, pois tenho limitações funcionais impostas pela atual Diretoria. Não pude acompanhar a delegação que foi a Salvador, por motivos que ate agora não entendi …Ora!! Se sou o gerente de futebol, e tenho q dar explicacoes à torcida que tem contato direto comigo através das redes sociais e na rua, também tenho o direito de participar integralmente das decisões tomadas, o que não ocorre. Desta forma, não sou somente eu quem vai conseguir salvar o CAP. É preciso uma maior integração. Falo isso com a propriedade de quem já vivenciou inúmeras experiências no futebol.

Você já havia deixado a concentração em outras situações para disputar torneios?
Não. Repito: o poker para mim é um HOBBY e não uma profissão, jamais participaria de algo assim se entendesse que de alguma forma prejudicaria minha equipe e principalmente o Clube do coração. O Atlético é minha prioridade e tenho certeza que não o prejudiquei. Como já disse, cancelei toda minha programação de torneios do segundo semestre desse ano, que já tinha passagem comprada, compromissos, etc, para dar total prioridade para o CAP.

Já jogou alguma vez com jogadores na concentração?
Não. Repito: não misturo as coisas, quem está fazendo isso é a imprensa para ter ibope, agradeço até a oportunidade aqui de esclarecer isso pois além do mal entendido pessoal há um preconceito sobre o poker, um reconhecido jogo de habilidade, igual o xadrez ou o gamão. Precisamos desmistificar isso.

Que mensagem você deixa para a torcida atleticana neste momento?
A mesma mensagem que deixei para os torcedores atleticanos foram incentivar o time no hotel na manhã do jogo e os quais atendi com o maior prazer para fotos ou que, como eu que acompanhava o visitante alemão, foram junto do ônibus da delegação na saída para o Estádio. A situação é difícil, todos tem consciência da realidade, e cada um faz a parte que lhe cabe para sairmos dessa. Voltei com o ônibus da delegação para Curitiba e senti que a responsabilidade de cada um está clara. Jogadores, Técnico, Presidente, Diretoria. Eu faço a minha parte, a que me delegaram e por ela sou responsável. Minha consciência está tranquila. Se pudesse, faria mais. Sei que posso fazer mais. Não hesitaria até em vestir a camisa e entrar em campo para ajudar o time. E não é por falta de preparo físico, pois estou muito bem e nem por questões financeiras pois faria sem pretensões financeiras. Não tenho apego pelo cargo de Gerente, tenho apego é pelo Atlético e pela construção da minha história no futebol, agora fora das quatro linhas.

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Vi as respostas do Paulo ontem à noite, quando cheguei em casa, perto das dez da noite. Enviei mais duas perguntas: se a relação com Petraglia contribuiu para a saída dele e se ele aceitaria voltar ao clube caso seja convidado pelo Petraglia (se o Petraglia for eleito). Até o momento em que faço essa postagem, o Rink não havia respondido. Mas é possível que também não tenha lido. A conferir.

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Vou começar pelo começo (Oh!). Paulo Rink foi contratado como gerente de futebol para acalmar a torcida. O gerente anterior era Ocimar Bolicenho, ex-presidente do Paraná, com quem a torcida tinha tolerância zero com os erros. Rink era o oposto, o ídolo que poderia errar quase infinitamente sem ter seu status arranhado. Politicamente, era a garantia de tranquilidade. Esportivamente, uma incógnita, uma aposta de risco em quem jamais havia exercido o cargo.

Na prática, o trabalho de Paulo Rink era muito menos visível que o de Ocimar. Basta lembrar o quanto Ocimar aparecia comentando contratações, algo que quase não acontecia com Rink.

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Sobre o poker, há, claramente, duas versões. Malucelli diz que Rink não deveria deixar o grupo para ir jogar. Rink diz que não estava acompanhando a delegação, portanto não teria tanta obrigação de ficar o tempo todo com os jogadores. Na minha opinião, se Rink estava com a delegação, deixá-la para fazer outra atividade é um erro, um contrasenso com o discurso de comprometimento. Se a sua presença com o elenco era extraoficial, ok, ele, em tese, estava desobrigado de ficar direto com os jogadores. Mas, diante das circunstâncias e do momento do Atlético, poderia ter evitado o desgaste.

De qualquer maneira, o jogo de poker é uma aspecto de mais visibilidade, porém secundário. O discurso de Rink levanta questões pertinentes para entender o funcionamento do departamento de futebol do Atlético em 2011: Paulo Rink realmente não era ouvido? Se não era ouvido, por quê? A direção do Atlético esperava que ele se transformasse rapidamente no gerente de futebol ideal? Rink estava ali somente para acalmar a torcida? Houve influência do momento político no clube no espaço que Rink teve ou deixou de ter no clube? O Atlético perdeu oportunidades de negócio ou os jogadores ficaram na mão em algum momento por causa das atividades extras que Rink tinha, como colocou Malucelli?

Sobre o aspecto político, abro um novo parágrafo. Todos sabem da ligação próxima entre Rink e Petraglia. Malucelli sabia disso quando convidou o ex-jogador. O cenário atual do Atlético permite imaginar que a turbulência política interferiu na autonomia de Paulo Rink dentro do clube. E permite visualizar Rink de volta ao clube ano que vem, caso Petraglia vença a eleição.