A nova Arena Pernambuco: resposta do público à sua política de jogos. (Divulgação/ Portal da Copa)| Foto:
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Vamos aos borderôs.

Sábado, Náutico 1 x 3 Ponte Preta. 19.414 pagantes.

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Domingo, Botafogo 1 x 0 Fluminense. 9.669 pagantes.

Domingo, Santa Cruz 1 x 0 Cuiabá. 18.550 pagantes.

 

O torcedor pernambucano cumpriu o prometido aqui no blog pelo Lucas de Souza, do Movimento Popular Coral. Desmoralizou o deslocado clássico carioca – e, por consequência, o futebol de arena que tenta se impor no Brasil. Não só por colocar mais gente no estádio em jogos prosaicos de Náutico e Santa Cruz, mas por comparecer em baixíssimo número à Arena Pernambuco para o tamanho de um Botafogo x Fluminense valendo a liderança do Campeonato Brasileiro.

 

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O episódio pernambucano deve ser visto como um alerta para a nova ordem que está tentando se enfiar goela abaixo no futebol brasileiro. As arenas modernas naturalmente impõem mudanças no jeito de torcer, mas é preciso ter cuidado para não forçar a barra, algo que claramente os gestores destes estádios estão tentando fazer.

 

A primeira forçada é erguer estádios onde não existe futebol, e tampouco elaborar um plano sério para que passe a existir. Brasília vive uma prosperidade artificial, com agenda e arquibancada ocupadas pelos times do Rio, que ainda não entraram em acordo com o consórcio que administra o Maracanã. Quando as coisas se acomodarem entre os cariocas, sobrará o paupérrimo futebol candango para o estádio de 1,5 bilhão de reais. E mesmo que não se acomodem totalmente, em breve haverá Manaus e Cuiabá disputando o direito de comprar um pouco de futebol para seus estádios.

 

Outro erro é o de importar clássicos para localidades onde há futebol forte, vide o que aconteceu no Recife. Ao invés de transformar o novo estádio no vetor do crescimento dos times locais, a Arena Pernambuco, na primeira oportunidade que teve, foi buscar um grande jogo em outro estado. E, no embalo, escanteou o time da casa para uma data menos nobre. Sucessão de erros respondida à altura pelos torcedores.

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Por fim, há a política financeira de toda a operação, das condições impostas ao preço do ingresso. Não à toa que Castelão, Mineirão e Maracanã, estádios historicamente abraçados por todos os times, estão penando para encontrar inquilinos. Como também será difícil mesmo para Brasília manter a casa cheia sempre com o preço que tem se cobrado pelos ingressos. Se é inegável que o futebol encareceu e que um serviço melhor e com mais conforto merece um pagamento maior, também é certo que para tudo há um limite imposto pelo bom senso.

 

Grandes e setorizados, os novos estádios têm espaço para todo o tipo de bolso e torcedor. Basta os clubes e gestores de arena botarem a cabeça para funcionar e cumprirem seus planos de investimento, que, tenho certeza, não previam reaver todo o dinheiro gasto em curtíssimo prazo. E o início da operação dá a entender que o objetivo é esse. Não é assim nos segmentos que os dirigentes atuam (muitos com brilhantimos) fora do futebol, não seria assim dentro do esporte também.

 

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Até o momento, a melhor leitura de toda a situação foi feita por Sérgio Landau, diretor-executivo do Botafogo: “Os clubes negociam tendo em mente os custos dos estádios antigos, enquanto os consórcios olham para uma operação europeia que ainda não chegou. É preciso buscar um ponto de equilíbrio e os gestores ainda estão mais distantes dele.”

 

Que a resposta dada pelos pernambucanos – um belo exemplo para nós, paranaenses sobre como defender o futebol local – deixe esse ponto de equilíbrio mais próximo. Sob o risco de o enorme pacote de benefícios que as novas arenas pode trazer acabar se perdendo na ganância de quem se acha no direito de ensinar o torcedor a torcer. O fracasso das caxirolas já deveria bastar como aviso de que isso não funciona.