Há cinco estados brasileiros em que a torcida pelos times locais é maior do que por forasteiros. Quatro são óbvios: Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, maiores potências futebolísticas e, especialmente no caso gaúcho, com uma história forte de bairrismo. O quinto é uma surpresa, Pernambuco, um foco de resistência em uma região tradicionalmente influenciada pelo futebol carioca.
Nos últimos dias, esta resistência ganhou um motivo extra para se fortalecer. A administração da Arena Pernambuco comprou a realização do clássico carioca Botafogo x Fluminense, no próximo domingo. Para acomodar o jogo entre forasteiros, puxou para sábado o jogo do Náutico com a Ponte Preta. Foi o suficiente para despertar a revolta das três torcidas, que preparam uma resposta.
O Movimento Popular Coral iniciou uma mobilização de torcedores do Santa Cruz, único dos três clubes do Recife em campo no domingo. A ideia é por mais gente no Arruda, para Santa Cruz x Cuiabá, do que terá na Arena, para o Clássico Vovô. Conversei com Lucas de Souza, estudante de 21 anos, um dos líderes do MPC, para explicar essa reação da torcida pernambucana, um belo exemplo para nós, paranaenses.
Qual foi a reação inicial das torcidas ao agendamento do Botafogo x Fluminense para a Arena Pernambuco?
A primeira reação foi de revolta. Deslocaram o jogo do Náutico para sábado para dar vaga a esse Botafogo x Fluminense só com intenção financeira e de fazer os nossos torcedores torcerem por times de fora. Os pernambucanos sempre foram resistentes a times de outros estados e agora a revolta foi grande e rápida. A própria administração da Arena ficou surpresa pela reação. Conseguiram provocar uma rejeição das três torcidas.
E como se decidiu dar o passo seguinte, o da mobilização para ter mais gente no Arruda do que na Arena?
Como só o Santa Cruz jogaria no domingo, vimos que quem tinha de responder a essa afronta era a torcida do Santa. Vamos por mais público no Arruda para desmoralizar esse clássico carioca.
Como tem sido a adesão do público?
A torcida do Santa é do povão, então a minoria tem acesso à internet. Vamos passar a ideia nas rádios, que é o veículo que a torcida mais acompanha. Na internet todo mundo está comprando a ideia. Estamos sugerindo, inclusive, a quem puder que compre dois ou três ingressos para dar a quem não tiver condições.
A imprensa local também comprou a ideia?
O movimento começou ontem na hora do almoço e a imprensa já está entrando em contato para marcar entrevistas. Eles também estão contrariados com esse jogo.
O que explica Pernambuco conseguir se manter imune à influência dos times de outros estados?
É uma questão histórica. O Campeonato Pernambucano tem cem anos, dois dos três clubes da capital também já passaram dos cem anos. O estado mesmo tem uma história de resistência e luta que contribui contra a disseminação dos times do eixo por aqui. O torcedor é apegado aos clubes locais e o futebol sempre foi forte. É algo que foi passando de pai para filho. No interior você tem gente começando a torcer pelos times da capital, mesmo com as parabólicas [que transmitem jogos de clubes cariocas e paulistas]. Pernambuco respira futebol e não vamos abaixar a cabeça, mesmo com algumas entidades querendo nos tornar um polo de torcedores de times de outros estados.
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