Mário Celso Petraglia é o principal personagem da Copa do Mundo em Curitiba. Desde o início, ele conduziu toda a articulação de bastidores para que a Arena — e por consequência a cidade — estivesse no Mundial. Foi ao Rio de Janeiro falar com Ricardo Teixeira. Foi a Brasília bater na porta do governo federal. Movimentou governo do estado, prefeitura, Câmara dos Vereadores, Assembleia Legislativa. Não é à toa que no dia mais importante da Copa em Curitiba seja ele o personagem central.
A essa altura, não é segredo para ninguém que Jérôme Valcke só incluiu Curitiba no seu roteiro pelo Brasil esta semana porque somos a sede mais atrasada. E que esse alerta soou bem alto porque Charles Botta, o consultor de estádios da Fifa, encontrou um canteiro parado demais e vazio demais para um estádio que deveria estar pronto há 20 dias e não dá esperança de que estará pronto em 35 dias.
Valcke quer respostas convincentes a quatro questões:
– Quando o estádio estará pronto?
– O que será feito para que o estádio esteja pronto neste prazo?
– Quanto vai custar para que se faça o necessário para o estádio estar pronto neste prazo?
– Quais as garantias reais de que, a esse custo, será feito o necessário para o estádio estar pronto neste prazo?
As quatro respostas passam inevitavelmente por Petraglia. Petraglia é a solução. E também o problema. E todos os envolvidos no processo sabem disso.
Luís Fernandes, secretário-executivo do Ministério do Esporte, chegou em Curitiba já nesta segunda-feira. Conversou com Gustavo Fruet, depois com Beto Richa. Reuniões para atualizar o andamento da Copa na cidade e afinar um discurso para a reunião com Valcke. Horas antes do encontro com o secretário-geral, outra reunião colocará os últimos pingos nos is. Um esforço que, todos sabem, pode ser simplesmente anulado por Petraglia.
Petraglia pode sacar da manga uma solução genial para todo o impasse. Apresentar um ajuste no orçamento que acomode a demanda da Fifa por mais operários e entrega no prazo sem mexer em um centavo do orçamento. Também pode jogar na mesa uma conta nova, mais alta, olhar para prefeitura e estado, dizer que a Copa é deles e soltar um “se virem para pagar”. Pode ser um. Pode ser outro. Pode ser um pouco de cada. Pode não ser nada disso. A imprevisibilidade de Petraglia ditará o caminho de saída do buraco em que a Copa em Curitiba se meteu.
Acompanho desde o início a operação da Copa em Curitiba e, por motivos óbvios, nos últimos dias tudo tem girado em cima das consequências do atraso na conclusão da Arena. “Curitiba será riscada do mapa do Mundial?” é a pergunta que mais se ouve.
Nas apurações, encontrei algum medo e muita preocupação de que isso possa acontecer; pouca informação concreta e muita especulação. Como, por exemplo, a história de a Arena do Grêmio assumir os quatro jogos de Curitiba (não nos esqueçamos, a Arena do Grêmio foi construída e é administrada pela OAS, construtora que o Atlético preteriu para gerenciar sua própria obra. A OAS certamente está rindo do perrengue atleticano e não seria surpresa se ela tivesse jogado essa isca dos jogos na Arena do Grêmio; que também pode ser mais que uma isca).
Por outro lado, a Fifa está claramente irritada com a incapacidade brasileira em organizar a Copa. Riscar uma cidade seria uma punição ao Brasil pela baderna e um aviso a sedes futuras do Mundial. E Curitiba deu mole. De estádio mais pronto, passou a estádio mais atrasado.
Minha impressão é de que teremos Copa em Curitiba, mas com um belo puxão de orelhas de Valcke na cidade, no estado e, mais ainda, em Petraglia. Uma dura que se tornará mais intensa se Petraglia pedir mais dinheiro ao poder público. Afinal de contas, foi na presença do próprio Valcke que Petraglia disse, em agosto, que todo o orçamento excedente seria bancado pelo Atlético.
Entre a Fifa engolir mais um estádio entregue em cima da hora e lidar com a enxurrada de ações decorrentes de uma exclusão, é mais seguro apostar na primeira opção. Embora, sempre bom lembrar, não exista aposta 100% segura que dependa de Mário Celso Petraglia.