A candidatura de Petraglia não é uma surpresa. Desde o começo do ano ele vinha se escalando para disputar a eleição. Primeiro como “presidente de transição” em uma deposição da atual diretoria, que ele defendeu, mas não conseguiu fazer passar no Conselho. E agora seguindo o trâmite mais usual na disputa eleitoral.
Como também não surpreendem as prioridades que Petraglia deixou transparecer segundo os relatos da coletiva de ontem. Copa do Mundo é obsessão para o dirigente. Uma mudança de discurso, é bom que se frise. Por muito tempo Petraglia disse que o Atlético não precisava da Copa, que a Copa era um tema muito mais caro ao estado do que ao clube.
E de uns tempos para cá enquadrar a Arena nas exigências da Fifa virou questão de honra. O Atlético pode concluir e modernizar a Arena dentro de um padrão de excelência sem que ele necessariamente se ajuste às minúcias listadas pelo Blatter. Copa do Mundo é um bônus que pode, sim, trazer outros investimentos. É por na balança estes investimentos em comparação com o custo que ele exige. Se valer realmente a pena, ok, que se vá em frente. Caso contrário, não motivos para sacrifício.
Outro ponto recorrente na coletiva foi a necessidade de Petraglia de limpar seu nome dentro do clube. No que ele tem total razão. Caso considere que foi caluniado, difamado, vítima de injúria ou injustiçado, tem mais é que espernear a existir justiça. Mas não precisa estar na presidência do Atlético para isso.
Dos temas mais próximos ao torcedor Petraglia passou longe ou, no máximo, deu leve pincelada. Não explicou, por exemplo, se sabe exatamente como fazer o CT do Caju produzir continuamente fornadas de jovens como na geração de Jadson e Fernandinho ou na de Manoel e não cair no vácuo que houve entre uma e outra, em que nada de bom saía da base para o profissional. Também não falou sobre formação de times competitivos, algo que ele conseguiu quase ininterruptamente de 1995 a 2005, mas errou seguidamente entre 2006 a 2008, a ponto de deixar o comando do Atlético no momento em que o clube parecia irremediavelmente a caminho do rebaixamento.
Ao invés disso, Petraglia falou somente de temas caros diretamente a ele (Copa, negócios e o próprio nome) e apelou ao sentimentalismo barato (mesmo que sincero) de dizer que seus netinhos não aguentam mais perder para o Coxa.
Ao longo dos próximos seis meses, Petraglia terá a chance de mostrar que tem planos tão sólidos e ambiciosos para aquilo que o torcedor que ver quanto para o árduo, mas necessário ambiente de negócios que cerca o futebol. Só não pode perder de vista que o Atlético está em um momento delicado e qualquer movimento dele terá reflexo em como o clube terminará o ano. Petraglia tem todo o direito e conhecimento de causa para ser candidato. Mas, antes de tudo, deve ser atleticano.
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Como sei que o assunto é delicado e as pessoas tendem a escolher um lado, quero deixar bem claro. Não apoio candidato algum e em nenhum dos espaços que tenho (este blog, coluna na Gazeta, twitter, ESPN etc.) farei campanha para esse ou aquele. Felizmente, tenho amigos e bons contatos dos dois lados da política rubro-negra. Como também sou atendido com cordialidade e respeito pelo Petraglia ou pelo Malucelli sempre que ligo para um dos dois em busca de informação. E é exatamente isso que vocês sempre verão por aqui: informação e opinião, nada de campanha. Combinado?
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