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Então ninguém fala na semana do Atletiba. Ou, para ser mais preciso, só Antonio Lopes fala pelo Atlético e no Coritiba há uma janelinha hoje, com Marcelo Oliveira e mais alguns jogadores. Embora eu já imaginasse a resposta, fui verificar os motivos para a restrição. Vão da nobre tentativa de não inflamar um ambiente já demasiadamente tenso ao batido “é preciso respeitar o adversário”, fora alguns outros, que, de tão batidos, tive preguiça de ler até o fim.

Vejo as entrevistas como um instrumento muito mais poderoso para coibir a violência do que um estímulo a ela e, gente, até quando vamos seguir com esse vício militaresco de que silêncio é sinônimo de respeito? Mas, embora criticar a restrição fosse a minha intenção quando resolvi abordar o tema, não vou fazer isso, simplesmente porque as entrevistas, com raras exceções, apenas ocupariam com um imenso nada espaços em branco no jornal, na TV, na internet e no rádio.

Entrevistas em clubes de futebol (e nem uso o termo entrevista coletiva porque, a essa altura, já virou pleonasmo) são um sonífero poderoso. Em semana de clássico, para usar o bom português falado lá no Boqueirão, são um legítimo chute no saco. Os jogadores não veem a hora de sumir da frente do microfone e respondem as obviedades de sempre ou aquelas que aprenderam no media training, uma das pragas da comunicação moderna. Nós, jornalistas, por já sabermos o que vem do outro lado, não nos esforçamos para desligar o piloto automático. Virou uma relação burocrática em que a preguiça impera. Há exceções, mas são poucas.

Do outro lado, talvez alguém evoque a perda de exposição na mídia porque o clube está dando menos entrevistas, aparecendo menos e blábláblá. Me desculpe, mas esse pensamento, de botar etiqueta de preço em absolutamente tudo no mundo, é tão nocivo quanto o media training. Todos farinha do mesmo saco, fazendo aquilo em que não acreditam, mas se resignando porque o sistema é assim.

Desculpem-me pelo saudosimo, mas lembro de um clássico bem marcante da minha adolescência, ali pela primeira metade dos anos 90. Era um Paratiba de uma das intermináveis fases do Estadual do Moura. Na prática, valia tanto quanto a minha assinatura em um decreto da Presidência da República.

Durante a semana, Saulo e Norberto ficaram se cutucando, trocando provocações pelas rádios. Provocações esportivas, pois o pessoal tinha a estranha mania de pensar antes de falar naquele tempo. A coisa tomou tal dimensão que só se falava naquele jogo por toda a cidade e num domingo de sol (naquele tempo também fazia sol aos domingos em Curitiba, umas seis vezes por ano) 40 mil torcedores foram ao Couto Pereira para um clássico banal. O Paraná ganhou de 4 a 0 simplesmente porque era melhor que o Coritiba na mesma medida que Saulo era melhor que Norberto. E o clássico foi o que foi graças ao que eles falaram durante a semana. Ganhou todo mundo – o Paraná um pouco mais.

Hoje, só ganham os dirigentes. Como nós precisamos de alguém para falar, voltamos telefones e microfones para os nobres cartolas, que têm sua semana de estrela. Sim, às vésperas do maior clássico da história do futebol paranaense, quem vai te fazer vibrar, torcer, chorar ou sorrir ficará guardado na estrebaria como um cavalo de raça em semana de GP Paraná, enquanto seu dono (os dirigentes) e o jóquei (os treinadores) ficam chamando para si um protagonismo que não lhes cabe. Sei que você vai dizer que o futebol mudou, há muito dinheiro em jogo. Fato: o futebol enriqueceu. E também ficou muito mais pobre.

Ah, sim. O Youtube tem o vídeo com os gols do Paratiba que eu mencionei. Foi em 1994.

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