Vilson Ribeiro de Andrade manifestou-se sobre o Atletiba de Cinzas ter torcida única no Ecoestádio. Lamentou pelo prejuízo financeiro e para a história do clássico, mas disse que, sendo lá no Barigui, não há outra opção fora permitir a entrada apenas da torcida do Atlético. E reivindicou que, se for assim, o do returno, no Couto Pereira, também deve ter apenas a torcida mandante.
Sexta-feira escrevi na Gazeta impressa sobre o cheiro de Atletiba com torcida única que pairava no ar. Sou contra. Considero uma derrota da sociedade para a violência. Mais uma, aliás. Ao invés de se combater o problema e punir quem é responsável por ele, reduz-se o direito do cidadão de bem.
É o mesmo princípio que fez nossas casas ganharem muros, depois grades, então câmeras de segurança, guaritas e, por fim, fez com que elas fossem agrupadas em condomínios superprotegidos. Tem alguns, bem luxuosos, cujos muros altos, as câmeras, o arame farpado e as guaritas podem induzir alguém mais desatento a achar que está diante de um presídio de segurança máxima. Mas não, é um condomínio de alto padrão, caríssimo, onde as pessoas vivem felizes e contentes, sentindo-se uma parcela privilegiada da sociedade. Gente diferenciada.
Quando eu era criança, ouvi várias histórias de Atletibas com o Couto Pereira (ou o Belfort Duarte) dividido, ou nem isso, com os torcedores misturados mesmo. Cresci assistindo do estádio a clássicos em que a torcida visitante se esparramava por uma curva inteira, fosse no Alto da Glória, fosse no Pinheirão. Como repórter, fiz muito clássico com os visitantes espremidos em espaços minúsculos, tratados como bandidos pela polícia e como invasores pelo time mandante (atenção: vi isso tanto no Couto quanto na Arena em iguais medidas; o mesmo nos clássicos envolvendo o Paraná). E agora, por circunstâncias profissionais relegado à tabelinha pague-pra-ver/ ar-condicionado, estou prestes a ver o primeiro Atletiba de torcida única. E em um estádio onde não cabem nem 4 mil pessoas. Estamos regredindo velozmente, tenho até medo de imaginar o que vem pela frente.
Respeito quem é favorável a torcida única e cita exemplos de outros países e estado. Respeito, mas discordo totalmente. Para mim, bonaerenses e belorizontinos assinaram seus atestados de incompetência diante da violência ao permitir que seus maiores clássicos, seus maiores patrimônios esportivos, perdessem um dos seus pontos vitais, a presença de duas torcidas dentro do estádio. E não consigo ficar quieto ao ver quem tem poder de decisão aceitar, bovinamente, que seja feito o mesmo no futebol paranaense.
A essa altura você já deve estar com uma lista de argumentos sobre estádio da Copa, aluguel, reciprocidade, isonomia, brigas do passado etc. Que tal deixar isso tudo de lado por apenas um momento? Ao invés de arrancar esqueletos do armário ou discutir todos os problemas do universo, por que não pensar apenas nos dois Atletibas? O Campeonato Paranaense – como, em regra, todos os estaduais – é um morto-vivo que se arrasta por quatro meses e “sobrevive” apenas de alguns espasmos. No nosso futebol, estes espasmos são os Atletibas (especialmente em um ano com o Paraná na Segunda Divisão). Eles merecem um tratamento especial. Ainda mais diante da possibilidade de expor o clássico ao ridículo de ser realizado para menos de 4 mil pessoas.
Há um paliativo para isso tudo, que é trazer de novo o Paraná para a conversa e realizar o Atletiba de Cinzas na Vila Capanema, no velho esquema 10% para o visitante. Não é o ideal, mas pelo menos não se perde nada. O ideal seria um acordo para fazer os dois Atletibas no Couto, torcida dividida e um esquema decente de segurança.
No estádio, região isolada, acesso permitido apenas a moradores e a quem tiver ingresso, policiamento preparado para orientar e proteger, não para confundir e amedrontar. Nos bairros, que é onde o bicho pega, basta um pouco de inteligência. Há dois anos e meio esta Gazeta do Povo mancheteou que dia de jogo era dia de briga em Curitiba. Trabalho fenomenal de Ana Luzia Mikos, Carlos Eduardo Vicelli e Marcos Xavier Vicente, que, entre outras coisas, mapearam locais e horários em que costuma haver confusão quando tem jogo na cidade. De lá para cá a situação não mudou muito, basta cobrir esses pontos e garantir a segurança não só de quem vai ao estádio, mas principalmente do cidadão comum.
Mas para tudo isso acontecer, é preciso que os clubes, a Federação, a polícia e a Sesp se mexam. De nada adianta achar tudo muito bonito e ficar esperando o outro tomar alguma atitude. Não precisa discutir todos os problemas do futebol paranaense ou do universo. Apenas evitar que o Atletiba tenha um capítulo ridículo na sua belíssima história. E aí, quem vai dar o primeiro passo?