A Pluri Consultoria divulgou, nesta terça-feira, a lista das 100 maiores transferências do futebol brasileiro. A relação completa está neste link e mais para o fim do post eu comento um aspecto dela. Antes, quero trazer um recorte diferente do ranking.
A pedido do Bola no Corpo, a Pluri elaborou um top 5 de transferências do futebol paranaense (obrigado, Fernando Ferreira). Uma lista que – imagino não ser surpresa para ninguém – é dominada pelo Atlético. A outra transferência é assinada pelo Coritiba. Confiram, considerando que valor histórico é o montante pago na época e o corrigido é o correspondente a valores atuais:
Jogador | Ano | Comprador | Vendedor | Valor Histórico – € Milhões (1) | Valor Corrigido – € MM (2) |
LUCAS | 2001 | Rennes (França) | Atlético Paranaense (Brasil) | 21,3 | 27,1 |
KLEBERSON | 2003 | Manchester United (Inglaterra) | Atlético Paranaense (Brasil) | 8,6 | 10,6 |
FERNANDINHO | 2005 | Shakhtar Donetsk (Ucrânia) | Atlético Paranaense (Brasil) | 7,8 | 9,2 |
JÁDSON | 2004 | SHAKHTAR DONETSK (Ucrânia) | Atlético Paranaense (Brasil) | 5,0 | 6,0 |
RAFINHA | 2005 | SCHALKE 04 (Alemanha) | Coritiba (Brasil) | 5,0 | 5,9 |
Algumas curiosidades dessa lista:
– Todos os negócios datam da primeira metade da década passada, período em que o futebol paranaense teve três clubes na Série A, fez um campeão e um vice brasileiro e esteve três vezes na Libertadores (uma na final). Em suma, o melhor período do nosso futebol em campo foi o melhor também nas finanças;
– O domínio atleticano mostra a inegável vocação do Petraglia para vender jogadores, mesmo que no caso específico de Lucas, tenham ficado alguns esqueletos no armário;
– O PSTC lucrou demais com esses negócios. Levou metade das vendas de Kléberson, Fernandinho e Jádson, além de um percentual na saída de Rafinha;
– A venda de Rafinha acabou sendo o único bom negócio de uma geração que poderia ter rendido mais ao Coritiba. Adriano saiu para o Sevilla por 2,1 milhões de euros e Miranda seguiu ao Sochaux por 2 milhões de euros;
– A venda de Lucas impressiona pelo valor, mas a de Kléberson chama mais atenção, por ser a única para um clube top da Europa.
Uso esses dois últimos destaques para voltar à lista da Pluri. Das cinco grandes negociações paranaenses, a única entrar no top 100 nacional é venda de Lucas para o Rennes. Ocupa um respeitável 29º lugar – com valores corrigidos, sobe para 24º.
Mais incômodo, porém, do que ver apenas uma venda de times paranaenses no top 100 é ver um bom número de jogadores que saíram daqui terem protagonizado grandes negócios, mas nas suas revendas por times europeus ou mesmo por equipes brasileiras.
Fernandinho, cria do Atlético, está no top 10 pela sua venda do Shakhtar Donetsk ao Manchester City, fechada no início de junho. São 40 milhões de euros, dois quais virão apenas cerca de R$ 2,2 milhões para o Furacão, via mecanismo de solidariedade.
Na mesma situação estão Michel Bastos (37º, 18 milhões de euros do Lille ao Lyon); Keirrison (57º, 14 milhões de euros do Palmeiras ao Barcelona); Giuliano (77º, 11 milhões de euros, do Internacional ao Dnipro); Jucilei (84º, 10 milhões de euros do Corinthians ao Anzhi); Sandro (84º, 10 milhões de euros do Internacional ao Tottenham); Alex Sandro (97º, 9,6 milhões de euros do Santos ao Porto); Adriano (99º, 9,5 milhões de euros do Sevilla ao Barcelona).
Oito negócios. São milhões de euros que Atlético, Coritiba, Paraná, Londrina e Corinthians Paranaense deixaram de ganhar porque suas revelações precisaram receber o carimbo de um clube maior, seja do Brasil ou do exterior, para que fosse feito efetivamente um bom negócio. Em alguns negócios os clubes do estado ainda permaneceram com um percentual, o que possibilitou uma bolada na revenda, como mostra o descritivo abaixo.
Fernandinho
Atlético ⇒ Shakhtar Donetsk: 7,8 milhões de euros por 80% (em outubro de 2007, o Atlético vendeu mais 20% por 1,5 milhão de euros, elevando o faturamento para 9,3 milhões)
Shakhtar Donetsk ⇒ Manchester City: 40 milhões de euros
Michel Bastos
Atlético ⇒ Lille: 2 milhões de euros por 80%
Lille ⇒ Lyon: 18 milhões de euros (o Atlético levou 20% dessa revenda)
Keirrison
Coritiba ⇒ Palmeiras: R$ 2 milhões
Palmeiras ⇒ Barcelona: 14 milhões de euros
Giuliano
Paraná ⇒ Internacional: R$ 4,5 milhões
Internacional ⇒ Dnipro: 11 milhões de euros
Jucilei
J. Malucelli ⇒ Corinthians: R$ 2 milhões por 50%
Corinthians ⇒ Anzhi: 11 milhões de euros (50% para o J. Malucelli)
Sandro
O volante pertencia ao Astral, time de empresários de Curitiba, quando foi emprestado ao Londrina, para a Copa São Paulo de 2007. O LEC não ficou com o jogador, que foi repassado ao Internacional e de lá seguiu para o Tottenham.
Alex Sandro
Atlético ⇒ Deportivo Maldonado: 2,2 milhões de euros
Santos ⇒ Porto: 9,6 milhões de euros
Adriano
Coritiba ⇒ Sevilla: 2,1 milhões de euros
Sevilla ⇒ Barcelona: 9,5 milhóes de euros
Em partes, esse cenário paranaense é um retrato do mercado de jogadores brasileiros. São poucos os grandes clubes europeus que arriscam milhões para buscar um jogador no Brasil. A não ser que seja um fenômeno como Neymar hoje, ou, com a devida proporção, como era Kléberson em 2003, acaba sendo muito mais seguro deixar o jogador passar por um período de adaptação em um mercado ou um time menor, para aí sim investir.
Mas há, também, uma fragilidade típica do futebol paranaense. A falta de outras fontes fortes de receita faz com que os clubes se vejam obrigados a negociar um atleta diante da primeira proposta, sem tempo para esperar uma valorização mais condizente com o potencial do garoto. Aos poucos, especialmente a dupla Atletiba começa a construir alternativas que lhe permitam esperar para fazer grandes negócios com exterior. É o plano de sócios do Coritiba, é a rentabilidade quase integral que o Atlético terá com a nova Baixada. Quando essas duas receitas estiverem a pleno vapor, será possível ao menos à dupla atualizar o ranking de transferências do estado. E ter uma presença mais relevante no top 100 nacional.
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Adendo necessário, por sugestão do camarada Fabiano Klostermann. O ranking da Pluri leva em consideração os valores declarados pelos clubes, por isso a venda de Lucas para o Rennes em posição de destaque. Mas, como bem explicado em reportagem do André Pugliesi, há um carimbo uruguaio na transferência de Lucas. Mesmo considerando a venda em duas etapas para o Rentistas (por R$ 500 mil, que em 1998 equivaliam a US$ 500 mil, e depois US$ 7,5 miljhões), a venda de Lucas ainda é alta. Os US$ 8 milhões a colocam em segundo lugar no top 5 estadual, atrás da transferência de Kléberson. Mas fora do top 100 nacional.