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Mário Celso: postura indefensável.

Mário Celso Cunha está há tanto tempo no futebol e na política que sabe bem como os dois meios funcionam no Brasil. No futebol, o torcedor quase implora para ser iludido por promessas de que, no fim, tudo vai acabar bem. Na política, proteger os cofres públicos é secundário diante da necessidade de garantir votos ou defender os próprios interesses.

O discurso de Mário Celso na reunião do Conselho Deliberativo do Atlético, em 2010, revelado pela Gazeta do Povo neste domingo, junta estes dois mundos. Para tranquilizar os conselheiros (que, seja qual for o clube, nada mais são do que torcedores com algum poder), evocou a velha tendência da máquina pública brasileira de absorver para si gastos que, se cobrados de quem se deve cobrar, têm potencial de atrair alguma ou muita antipatia.

O contexto da época da reunião era perfeito para propagar esse ideia. Lula era o presidente e havia feito todas as concessões possíveis para receber a Copa do Mundo, comandada por aqui com mão de ferro por Ricardo Teixeira. As eleições – tanto a presidencial como a para governador – estavam próximas e vender a ideia da anistia era uma maneira de atrair simpatia para quem estava no poder tentando se reeleger ou fazer um sucessor. A tradição brasileira de saquear os cofres públicos para pagar contas privadas tratou de dar cores reais ao cenário sugerido por Mário Celso.

O problema – para Mário Celso, frise-se – é o contexto em que esse vídeo vem à tona. O Atlético acaba de explicar a engenharia financeira para a obra, algo necessário tanto para a lisura do processo como para reduzir o temor pela cessão do CT do Caju como garantia. Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF e do Comitê Organizador por asfixia, depois de meses sem receber oxigênio do Palácio do Planalto e da Fifa. Dilma não é Lula, o que significa dizer que ela não faz metáforas com o futebol a cada discurso, não tomou o grande porre da sua vida depois de ver o Brasil ser engolido pela Laranja Mecânica nem enxergou na Copa do Mundo a chance de realizar o sonho de ver o seu time do coração ganhar um estádio próprio.

Nada disso impede que o governo futuramente transforme em doação (vão chamar de investimento) os empréstimos feitos pelo BNDES – é minha aposta há um bom tempo, embora eu ache o perdão da dívida uma indecência. Vai depender do desempenho da Seleção, pois ninguém vai querer pagar a conta de uma Copa em casa que o Brasil perdeu. Vai depender da necessidade política de quando a conta do Mundial começar a apertar – e não esqueçam que o Proer dos bancos foi obra do governo tucano e que mesmo Dilma, se reeleita, pode precisar dessa margem de manobra. E vai depender de quem estiver em dificuldade, pois é muito mais fácil o Corinthians provocar um Proer da Copa do que o Atlético Paranaense.

Mas a declaração de Mário Celso veio a público em um momento em que há movimentos claros pela transparência e seriedade da organização da Copa de 2014 em todos os níveis. Se no dia seguinte à reunião do Conselho a declaração tivesse vindo à tona, já seria capaz de despertar repulsa de qualquer pessoa de bem. No cenário atual, nem quem está diretamente envolvido com o Mundial deve ser capaz de defender Mário Celso Cunha. Se naquela época o secretário estadual da Copa já teria dificuldade para se explicar, hoje há apenas dois caminhos possíveis para ele: renúncia ou exoneração. Mário Celso, vai com Deus, guri!

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