Atlético x Sporting Cristal já é um dos maiores jogos da história rubro-negra. Não pelo espetáculo, algo impossível de existir no sentido mais artístico no campo off-road da Vila Capanema. Nem pela classificação à fase de grupos, sem dúvida importantíssima, mas pequena diante do tamanho da vitória atleticana.
O Atlético esteve morto três vezes. Nos acréscimos do segundo tempo que chegavam ao fim com a bola no campo de defesa dos paranaenses. No pênalti de Delgado. No pênalti de Calcaterra. Renasceu as três vezes. No pênalti de Ederson. Na defesa de Weverton. Na bola que quase beliscou o Viaduto do Colorado. E deu vida eterna ao jogo desta noite no petardo de Aquino que explodiu no travessão. Um épico que daqui a 50 anos os sobreviventes dirão que durou dois dias, o que não deixa de ser verdade, pois começou dia 5 e terminou dia 6 de fevereiro.
O Atlético vai à fase de grupos pelo caminho mais sofrido também porque escolheu que fosse sim. Ao perder peças vitais do time do ano passado. Ao dar três semanas de trabalho a um técnico de currículo pobre que ainda está descobrindo o futebol brasileiro. Ao entregar a um time de meninos um trabalho que muitos homens não suportam fazer. O Atlético do planejamento meticuloso e arrojado arriscou além da conta. Apostou e por pouco não perdeu. Mas poucas vezes entrará em um torneio tão Atlético como na fase de grupos que começa semana que vem.
0 Zezinho
Desde o ano passado tenho escrito do excesso de testosterona de Zezinho em jogos mais tensos. Mas a partida desta noite extrapolou. Zezinho já havia se encrencado com dois jogadores do Cristal antes do absurdo lance da sua expulsão, uma sequência de rasgadas com três adversários diferentes, com direito a uma cotovelada no último. Tudo isso em 18 minutos, vindo daquele que deveria ser o cérebro rubro-negro.
1 Antonio Arias
A arbitragem de Enrique Osses em Lima já havia sido ruim. A de Antonio Arias, então, foi uma tragédia. Descontrolado, o árbitro paraguaio queimou muitos cartões amarelos no início e acabou tendo de carregar também no número de vermelhos. Ainda contou com um erro do auxiliar número 2, Carlos Cáceres, no gol irregular do Cristal.
2 Gramado da Vila Capanema
É difícil acreditar que há menos de um ano o Paraná trocou todo o gramado da Vila. O campo está esburacado, irregular, mal cuidado. A cada jogo que passa, fica a impressão de que o Tricolor rasgou um dinheiro que não tinha para um serviço malfeito. O gramado da Arena, plantado há uma semana, está mais apresentável que o da Vila.
3 Estrutura da Vila Capanema
Adoro a Vila Capanema, fiz muitos jogos lá e acho o estádio mais charmoso de Curitiba. Mas é inviável fazer jogos grandes no Durival Brito e Silva. Nesta quarta não tinha nem lugar para os repórteres de rádio e televisão, que não podem ficar em campo nos torneios da Conmebol.
4 Elenco rubro-negro
A classificação foi épica, mas não pode esconder uma verdade: o cobertor do Atlético é curto para a Libertadores. Bruno Mendes e Carlos César são opções muito mais de quantidade do que qualidade. Adriano, por toda a inatividade, será um reforço para se contar por vários jogos em sequência, durante os 90 minutos, provavelmente só no pós-Copa. O time ainda não arrumou um substituto para Paulo Baier. Um cara experiente na zaga será útil. Reforços pontuais vão permitir ao Atlético sonhar alto na Libertadores.
5 Miguel Ángel Portugal
O técnico espanhol ainda se bate um pouco com a falta de pleno conhecimento dos próprios jogadores. Zezinho rende melhor vindo de trás ou aberto pelo lado, nunca como meia mais avançado, como foi escalado. O lado bom é que, a exemplo de Lima, Portugal detectou os problemas do time e melhorou o Atlético no segundo tempo, especialmente com a entrada de Fran Mérida.
6 Antijogo do Cristal
O Cristal veio a Curitiba para amarrar o jogo, contra-atacar, dar um pouco de pancada. Um clássico da Libertadores que castiga os olhos, mas alimenta a alma copeira do torneio.
7 Garotos rubro-negros
Nathan não tem idade para dirigir e nem precisa votar para presidente em outubro, mas teve uma frieza de veterano para organizar o lance do segundo gol rubro-negro. Mosquito, do alto de seus 18 anos, foi armador e centroavante. Manoel, um senhor de 23 anos, fez gol no tempo normal e bateu seu pênalti com categoria extrema. O jovem Atlético entra cascudo na fase de grupos.
8 Ederson
Decisivo de novo. Seu gol em Lima deu ao Atlético uma condição melhor ao jogo de volta. Respondeu com a frieza de um matador de aluguel à pressão de cobrar um pênalti, aos 50 e tudo do segundo tempo. Dose repetida na série de cinco penalidades. Se o Atlético segue na Libertadores, deve isso muito ao seu camisa 9.
9 Volta pra Vila
Muito atleticano já tinha ido embora da Vila ou desligado a TV quando o bombardeio de quatro finalizações fez o Cristal recorrer ao pênalti como tática de legítima defesa. Quem já estava com o pé na Dario Lopes dos Santos voltou. Quem estava escovando os dentes cuspiu o creme dental e reacendeu a luz azulada na sala de casa. Alguns outros só vão se dar conta do que aconteceu quando acordarem na quinta-feira com a certeza da eliminação. Cada atleticano terá para sempre uma história para contar do jogo desta noite.
10 Aqui é Libertadores, hermano!
A Champions League tem os craques, os estádios, o dinheiro, o glamour, a olheruda como prêmio da final de um jogo só. Mas só a Libertadores é capaz de produzir jogos como o Atlético x Sporting Cristal desta virada de 5 para 6 de fevereiro.
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