Coluna publicada na Gazeta do Povo impressa desta sexta-feira
Jornalistas são inconvenientes por natureza. Graças ao telefone celular, já peguei entrevistado em velório, porta de maternidade e na cama do motel – tem músicas que só tocam no motel.
Ontem a vítima da minha inconveniência involuntária foi Vilson Ribeiro de Andrade. Ele aproveitou o aniversário e o feriadão para tirar uma microférias em Salvador. O vento forte durante toda a ligação não deixava dúvida de que ele estava na praia, enquanto eu me refrescava no ar-condicionado e me bronzeava sob a luz da lâmpada fluorescente.
A certa altura da conversa, perguntei sobre estádio e recebi a seguinte resposta: “Novo estádio é a solução. Depois da Copa de 2014, quem não tiver um será coadjuvante no futebol brasileiro.”
Me surpreendi. Por um momento, me perguntei se não estava conversando com o Mário Celso Petraglia. Eu já havia ouvido a mesma ideia da boca do Petraglia no começo do ano passado. E, no geral, essa é uma ideia que ele defende a toda hora, em entrevistas, no Twitter, talvez até rabiscando a areia da praia com o dedão do pé.
Encerrei a conversa com o Vilson falando amenidades e depois mergulhei na repetição de ideias dos dois dirigentes. A dedução lógica é que o Vilson e o Petraglia não pensam igual somente quanto a estádio.
Logo que assumiu a vice-presidência, Vilson encabeçou uma cruzada contra a Império Alviverde. A organizada perdeu o direito de entrar no estádio com seus adereços, foi desalojada da sede anexa ao estádio, tornou-se ré em uma ação movida pelo clube. Paralelamente, o Coritiba jogou o preço dos seus ingressos na estratosfera, com a justificativa de fortalecer o plano de sócios. Todas ideias que o Petraglia já havia lançado no Atlético, quase sempre com rejeição – e, como a hipocrisia não me cabe, reconheço que na época critiquei algumas dessas posições.
Qual a diferença? O afoito vai dizer que é coisa da imprensa verde, ao que eu respondo: não diga bobagem. Está no instinto do ser humano reagir negativamente ao novo. Quando ele deixa de ser tão novo, a ideia torna-se mais aceitável. O pacote de mudanças administrativas no Coritiba veio no momento em que o clube estava no fundo do poço, não havia mais para onde piorar. A desgraça aumenta a tolerância. E há a maneira como se coloca as coisas.
Vilson é um sujeito extremamente afável, daqueles que é capaz de te ofender e você ainda dizer “muito obrigado, não mereço tanto”. Petraglia é mais truculento, mete o pé na porta, parece ser capaz de te deixar arrasado com um elogio.
Há uma forte crença de muitos atleticanos de que somente Petraglia será capaz de reerguer o clube. Um sentimento que tende a se fortalecer em caso de rebaixamento. Haveria a união na desgraça. Haveria predisposição a aceitar o novo. Mas e a forma de expor as ideias? A maneira como Petraglia tem ex-posto algumas de suas ideias na internet mostra que ao menos nisso o dirigente não mudou.