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Bruna Frascolla

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Globalismo woke

8 de janeiro: Proporcionalidade da pena não existe com Judiciário woke

(Foto: Joedson Alves/Agência Brasil)

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Proporcionalidade da pena é um direito humano, mas ninguém liga há muito tempo. Esta semana o assunto voltou à tona com a sentença de 17 anos de prisão para um baderneiro que participou da invasão aos prédios dos três poderes – aquele evento nebuloso e muito mal explicado, que nenhuma organização da segurança pública impediu. Por meio de memes e textos, a internet já fez mil comparativos que provam a desproporcionalidade da pena: é possível matar e esquartejar o cônjuge, que a pena é menor.

Os maus costumes vêm de longe. Desde a redemocratização, estudante universitário e “movimento social” podem tudo – do contrário, era ditadura. Ainda na época da ditadura, Brizola lançou tendência entre os demagogos de ser contra a polícia, porque a polícia, embora estadual, era da ditadura. Hoje a polícia só pode ser “da democracia”. Nos anos 70, auge da Repressão, Abdias do Nascimento falava em genocídio negro como algo simbólico e que não envolvia mortes. Veio a democracia, e está tudo uma beleza para os demagogos: temos sangue aos montes nas favelas, e a polícia deve ser excluída da área porque agora ela é racista – como tudo neste país de “racismo sistêmico”. Só quem pode matar negro é o traficante, pois traficante, por alguma razão, não é racista. E ele tem que aprontar muito para pegar uma pena grande como a do baderneiro, já que é uma vítima da sociedade. Coitado!

Outra coisa que veio com a democracia de 88 é o ambientalismo pseudocientífico e anti-humano. Foi na década de 90 que as crianças brasileiras começaram a aprender que o mundo ia acabar porque o homem é uma espécie de câncer na natureza. A ECO-92, no governo Collor, aconteceu nesse embalo.

Parece fascismo, só que de cabeça pra baixo: em vez de o Estado mandar nas empresas privadas e doutrinar os cidadãos, as empresas privadas mandam no Estado enquanto tentam doutrinar os “consumidores” e “colaboradores” por meio de propaganda e RH, respectivamente

A eleição seguinte à de Collor, foi a de Fernando Henrique Cardoso, o príncipe dos sociólogos, chamado por Millôr Fernandes de FhC: superlativo de PhD. Hoje, olhando em retrospecto, quando vemos alguém falando em nome da Ciência, devemos botar a mão no bolso. Outra coisa que faria disparar o alarme é que FHC foi, durante décadas, financiado por um think tank da Fundação Ford, o CEBRAP. A Fundação Ford é tipo a Open Society, só que bem mais velha e sem um rosto público. Enquanto a Open Society exibe a face de um banqueiro judeu e acusa os críticos de antissemitismo, a Fundação Ford não exibe face alguma desde seu fundador, o notório antissemita Henry Ford. A Fundação Ford está no Brasil desde 1969; a Open Society só veio a ser fundada em 1993. Ambas têm sede em Nova Iorque. Como a Fundação Ford é reconhecida pelo governo dos EUA como “filantrópica”, os gigantes corporativos podem doar o dinheiro dos impostos federais para ela, em vez dos cofres públicos federais. É o que Bill Gates faz: em vez de pagar imposto, doa para a Fundação Bill & Melinda Gates, também reconhecida como filantrópica pelo governo dos EUA.

Vejam o que FHC dizia em 1997 das ONGs: “são organizações neogovernamentais. Não são não-governamentais, mas neogovernamentais. [...] Bom, é verdade, elas têm que ser neogovernamentais não no sentido de cooptação, mas no sentido de que você tem novas formas de gestão da coisa pública. E isso implica muitas mudanças.”

Lá nos antigamentes, o pessoal do CEBRAP era considerado “direita neoliberal” pela esquerda. Hoje, é considerado “Nova Esquerda” pela direita. Como nomes são arbitrários, é possível que ambas – a esquerda de antigamente e a direita de hoje – estejam corretas em sua avaliação ao mesmo tempo. Porque o que as fundações promovem é conhecido como wokismo e, na sua frente ideológica, é fácil de reconhecer: neorracismo, misandria, sopa de letras e neomalthusiano (“ambientalismo”). À direita, chama-se tudo isso, erroneamente, de comumismo. Não é. Comunismo é um termo preciso, e essa ideologia das grandes corporações não defende o fim da propriedade privada – pelo contrário. À esquerda, chama-se isso de neoliberalismo. Esse é um termo ambíguo e defensável. De fato, é um estado de coisas que se segue à implementação do liberalismo clássico (merecendo portanto o prefixo “neo”), mas que contraria premissas importantes do liberalismo clássico (portanto é duvidoso se merece o nome de “liberalismo”). Parece fascismo, só que de cabeça pra baixo: em vez de o Estado mandar nas empresas privadas e doutrinar os cidadãos, as empresas privadas mandam no Estado enquanto tentam doutrinar os “consumidores” e “colaboradores” por meio de propaganda e RH, respectivamente.

Estamos seguindo passos iguais aos dos EUA; ainda assim, a nova direita teima em falar de Venezuela ou de Cuba como exemplos tenebrosos que estamos seguindo. Ora, Venezuela e Cuba têm Executivo forte.

Mas há uma outra diferença em relação ao fascismo: o internacionalismo. Se os Estados fascistas conquistavam por meio da guerra, as corporações se valem do sistema judiciário, de preferência supranacional. Numa bobeada, políticos transitórios assinam tratados internacionais que comprometem os seus países com metas internacionais da maior importância para gerações futuras. Quando eu tinha 2 anos, os líderes brasileiros da ECO-92, muito dos quais já mortos, decidiram as limitações que governariam a minha vida hoje, bem como a dos que nem tinham nascido. Isso não é democrático – mas assim é a natureza dos tratados internacionais.

A conquista se alastra pelos Estados nacionais por meio de uma juristocracia internacional, portanto. Mas ela se vale de juristocracias nacionais, também. E o paralelismo entre o 6/1 nos EUA e o 8/1 no Brasil chama a atenção até dos observadores mais desatentos: ambas foram invasões às sedes do poder por manifestantes meio abilolados que não confiavam na apuração das eleições, a mídia hegemônica alegou que ambas as invasões (perpetradas por abilolados) eram uma ameaça concreta à democracia; ambas as invasões contaram com uma inacreditável falta de resistência; agora, ambas as manifestações têm réus condenados com penas desproporcionais. Estamos seguindo passos iguais aos dos EUA; ainda assim, a nova direita (também ela abilolada) teima em falar de Venezuela ou de Cuba como exemplos tenebrosos que estamos seguindo. Ora, Venezuela e Cuba têm Executivo forte e foram há muito tempo canceladas por um milhão de trambolhos internacionais de direitos humanos.

Aliás, a única coisa do Brasil que ficou igual à Venezuela com a terceira eleição de Lula foi a oposição. A oposição venezuelana vive fazendo cartinha e mobilizando ONG para denunciar o próprio país para tribunais internacionais por causa de crimes contra os Direitos Humanos. Então temos, no Brasil, supostos antiglobalistas recorrendo a instâncias globalistas para salvá-los do globalismo (?). Como eu disse, são abilolados.

Não percebem que, com a transição do liberalismo para este novo estado de coisas – chamem de neoliberal, de fascista identitário, de woke, de neoesquerdista, de anarcocapitalista, de globalista – houve uma reformulação tácita da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Pelo texto de 1946, ninguém deve ser discriminado pela cor da pele. No entanto, o neorracismo patrocinado pela Fundação Ford fez com que tribunais raciais fossem instaurados nas universidades brasileiras para melhorar os Direitos Humanos. A famosa Declaração Universal de 46 não vale mais nada; a obscura Declaração de Durban (2001) é que é o novo norte da ONU para questões raciais. Quanto às questões de “gênero” – conceito inventado por John Money na década de 70 e portanto desconhecido em 46 --, vale a Convenção de Istambul, que o filósofo belga Drieu Godefridi comentou aqui.

A única surpresa no julgamento dos manifestantes foi a citação do Pequeno Príncipe de Maquiavel. O Ocidente não é mais livre ou democrático faz muito tempo, e as ações coordenadas já deixaram muito claro que uma revolução judiciária imposta de cima traz um código de conduta muito duro e específico.

Os Estado nacionais estão bichados; as corporações woke os comeram por dentro. Espero que os povos ocidentais não se deixem levar pela propaganda anti-Estado e cometam a estupidez de procurar a liberdade por meio das privatizações, vendendo tudo para os capangas de Bill Gates e Klaus Schwab.

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