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Bruna Frascolla

Bruna Frascolla

A pressão por pensamento único na direita, parte 4

Não tem amparo na realidade a ideia de que o MBL descobriu que Bolsonaro era corrupto (Foto: )

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No último texto vimos o movimento dos ayanistas, que surgiram entre os olavetes, infiltraram-se entre eles e, durante as eleições, estenderam sua infiltração para a generalidade da direita organizada. Os ayanistas estiveram disfarçados de olavetes e bolsonaristas até 2019, quando se tornaram antibolsonaristas. Parte deles (tenho o MBL em mente) se apresenta como militante anticorrupção – o que não serve para explicar a mudança, já que a corrupção apontada em Bolsonaro é o mau uso daquelas benesses dos parlamentares.

Na eleição todo mundo sabia da Wal do Açaí; todo mundo sabia que Bolsonaro usava apartamento funcional “pra comer gente”, como ele mesmo disse. Não tem amparo na realidade a ideia de que o MBL descobriu que Bolsonaro era corrupto. O MBL é que tem que explicar o indício de corrupção graúda apontado pelo Ministério Público de São Paulo. A outra postura adotada é a da madalena arrependida que finalmente descobriu que os “bolsolavistas” são terríveis e fica pedindo perdão pelo pecado do antipetismo. A primeira postura é feita para o consumo da direita; a segunda, para o da esquerda.

Há, portanto, também, uma nova infiltração da esquerda ampla para difundir lá a tese do Golpe do Zap-Zap. Passei um bom tempo resenhando o livro de João Cezar de Castro Rocha sobre a nova direita. É um livro feito para o consumo da esquerda e vende para ela a tese do Golpe do Zap-Zap. Embora seja hoje um nome conhecido na arena política como “de esquerda”, João Cezar de Castro Rocha nunca foi conhecido dentro da esquerda como uma referência de análise política. Se você virar para um esquerdista raiz e falar dele, ele não vai saber quem é. Acontece que João Cezar de Castro Rocha também era olavete! Ele é de Letras, que, junto com Filosofia, é uma das cadeiras universitárias mais propensas a receber olavetes. Juntos, João Cezar e Olavo se empenharam em editar a obra de Otto Maria Carpeaux. Quem apresentou João Cezar como intelectual público versado em política? O MBL, que pode então posar de tolerante e maduro, aberto ao diálogo com um “esquerdista”.

Do lado da esquerda, a pupila de Ayan Michele Prado faz uma performance escalafobética de madalena arrependida enquanto vende o passe de expert em extrema-direita. É promovida por sites como o DCM e O Cafezinho. Neste último, podemos ver a tônica do discurso vendido: apenas por ser “bolsomínion”, uma pessoa pode se converter em terrorista e sair disparando tiros. Uma clara desumanização e criminalização de um segmento político. Sobrou até para Paulo Cruz!

Se Michele Prado tem alguma formação, ela não contou. Ainda assim, é tratada como autoridade pelos diplomólatras que viviam apontando para a ausência de formação acadêmica de Olavo.

Para ter uma ideia do panorama geral, você pode clicar neste link do DCM e fazer de conta que é a mídia comum. Ali a “direitista” Michele Prado e o “esquerdista” João Cezar são especialistas que concluem, de modo imparcial, que Bolsonaro e Olavo no zap-zap são uma calamidade pública e seus eleitores são um risco à sociedade. A desmonetização dos políticos de quem não se gosta é defendida.

E os olavetes?

Nesse arco 2016-2020, os olavetes viraram parte do governo. Nos primeiros meses do governo, houve toda aquela conturbação digital, com provável uso de robôs para promoção de barracos. Quando queriam pedir a cabeça de um membro do governo, os olavetes tipo pinscher faziam o que sabem fazer: xingar muito no Twitter.

Então o cidadão brasileiro comum que votou em Bolsonaro para tirar o PT, ou por se sentir oprimido pela interferência da burocracia progressista na educação dos seus filhos, de repente viu esse monte de pinscher fazendo barraco digital. Isso para nem mencionar as postagens sem pé nem cabeça, como a que fez todos saberem o que é golden shower.

É preciso cuidado, porém, na imputação de responsabilidade pelo conjunto da atuação digital difamatória. Afinal, já sabemos do que Ayan é capaz de fazer (vide caso Marielle) e que seus pupilos estavam juntos e misturados com os olavetes no primeiro semestre do governo. É perfeitamente possível que algumas difamações tenham sido cometidas por Ayan no governo (ele trabalhava na assessoria da líder do governo!) com o fito de imputá-las aos olavetes.

Os olavetes têm uma cosmovisão política que pode ser resumida rudemente assim: bata no liquidificador um anticomunismo, gramscismo e sebastianismo. Olavo, que passou pelo PCB pós-Kruschov e saiu de lá culturalista, partilhando com Gramsci a tese de que a cultura é a principal fonte de poder político.

Mas se Gramsci queria a hegemonia cultural para que as massas conscientes fizessem a Revolução Comunista, Olavo quer que as massas conscientes, direitistas, façam a Revolução Brasileira, ungindo O Esperado, que vai derrubar as instituições apodrecidas pelo comunismo e criar, sabe deus como, um happy ever after. Bolsonaro foi adotado meio que no susto, já que acabou ungido pelas manifestações de massa. A Revolução, toda catártica, não aconteceu; em vez disso, houve uma prosaica vitória eleitoral.

A leitura dos fatos óbvia para um olavete do governo é que, se Bolsonaro se elegeu após as manifestações de massa, é porque as massas “tomaram consciência”, isto é, pensam igualzinho a eles. Essa má leitura da realidade os levou a um comportamento muito arrogante; sentiam-se os únicos vencedores legítimos das eleições. Espichavam as pernas no pufe e tratavam mal os apoiadores de Bolsonaro não-olavetes, como os liberais, os militares e antipetistas avulsos. Junte-se isso ao mau hábito de fazer malcriações na internet e pronto: temos os vencedores do prêmio de Mr. Antipatia.

Difamação dos olavetes

Voltemos à turma de Ayan. O Golpe do Zap-Zap vai pari passu com a desumanização do olavete (especialmente), do bolsonarista e, potencialmente, de quem não aderiu ao antibolsonarismo, ou não foi tão antibolsonarista quanto desejado (vide Paulo Cruz, crucificado por Michele Prado). É gente perigosa para a democracia que acusa os outros de fazerem o que eles mesmos fazem. Eles começaram com os Mr. Antipatia, mas irão atrás de você.

As discípulas e associadas de Ayan, sendo mulheres, granjeiam a caridade do público alegando que aquele bando de marmanjo que as xinga muito no Twitter está ameaçando de morte e vão partir para a violência física. Juram receber mil ameaças sem nem fazer um mísero BO. Como vocês podem ver aqui, Ayan concorda com a ideia de que é um bom jogo contar uma história trágica a seu próprio respeito, dizer-se vítima e perseguido, a fim de granjear admiração.

Assim, toda vez que uma mulher desse grupo político é pega com a boca na botija, alega que os olavetes querem matá-la. Minha filha, se estão lhe ameaçando de morte, vá à polícia! Reclamar só em rede social é clamar por linchamento moral, tática idêntica à dos progressistas, que também vivem se dizendo vítimas.

Quero dizer então que a minha descrição dos olavetes como pinschers se dá por experiência própria. Cansei de ter olavete em perfil meu me xingando. E a sensação é precisamente a de ter uma matilha de pinschers na janela de casa rosnando e fazendo au-au-au, brabinhos. É chatíssimo. Não dá pra bloquear todo mundo, então resta esperar passar.

Já aconteceu várias vezes, desde quando eu só tinha no Facebook gente que eu conhecia. Mas postava aberto, eles compartilhavam em grupos e vinham atrás de mim aporrinhar. Nunca um olavete me disse que me pegaria na esquina nem nada do gênero. Eles botavam um apelido, davam um faniquito e com o tempo largavam do meu pé. E olhem que eu já cheguei a ser citada por Olavo de Carvalho em público no Facebook, dizendo que tenho “incultura monstruosa, inadmissível num profissional do ensino superior.” À época, houve quem me dissesse que eu ia sofrer ameaças, que iam fazer doxxing. Nada aconteceu.

E digo mais ainda: André Porciuncula, que hoje está na Secretaria de Cultura, é um que passava o dia xingando todo mundo na internet, e um dos poucos que pode meter medo em alguém. Enquanto a maioria dos olavetes era composta por rapazes franzinos ou gorduchos metidos a beletristas sem saber crasear, Porciuncula era um PM corpulento de Salvador. Enquanto ele era um troll olavete e eu escrevia contra Olavo, morávamos na mesma cidade e qualquer um saberia onde me encontrar, já que eu frequentava o pequeno e isolado campus São Lázaro, da UFBa. Como Filosofia tem olavete e eu sempre chegava a pé, seria fácil ele descobrir onde eu morava ou me achar no trajeto. Digo: nunca me passou pela cabeça que Porciuncula pudesse me agredir fisicamente, por mais que ele fosse o olavete mais chato da internet baiana.

Dá pra dizer que a gestão dele é uma porcaria sem desumanizá-lo ou querer botá-lo na cadeia. Isso é democracia, é bom senso e é o mínimo de moralidade necessário a qualquer tecido social.

Panorama geral da direita

Os olavetes primeiro, e, depois, os bolsonaristas, foram espionados por uma nova seita política. O líder dessa seita entregou seus camaradas ao STF e saiu ileso do Inquérito do Fim do Mundo. No mais, devo dizer que Ayan, ao contrário de Olavo, não se notabiliza por nenhuma finalidade política particular diferente do poder. Olavo quer uma Revolução e o restabelecimento da alta cultura.

E Ayan? Ele alega que em 2011 descobriu um método de guerra política. Há muito lero-lero sobre estratégia, mas não sobre os fins. Seus seguidores me parecem ser niilistas sedentos por poder que fazem alianças fugidias e usam as pessoas. A questão é se não estão sendo usados também – pois eu não tenho nenhum motivo para achar que um ministro supremo seja membro da seita de Ayan.

Na seara liberal, me parece que os institutos citados vão bem, obrigado. Lucas Berlanza está lá com seu Lacerda e seu Friedman no Instituto Liberal, velando pela memória histórica. A turma do Instituto Mises é maior e mais agitada. Nenhum dos dois institutos dão indícios de lacração nem politicamente correto.

Saindo do campo intelectual e entrando nos movimentos políticos liberais, a porca torce o rabo. No caso do Novo, o problema é facilmente identificável com os banqueiros do Itaú, os donos do partido. Se no começo eles disfarçavam seus esforços para impedir o crescimento do partido como uma questão de princípios (qualquer um ligado à política que tentou entrar no Novo vai lhe contar da burocracia infernal e do centralismo atravancador), agora, com o expurgo dos bolsonaristas e a adesão ao antibolsonarismo incondicional, devemos pensar em sabotagem. E é uma sabotagem que favorece o progressismo. O Novo pode botar sua transexual para abraçar a transexual do PSOL em torno de uma pauta única, mas não pode mover uma palha pela liberdade de expressão ou contra prisões arbitrárias.

Tirando a parte dos banqueiros, o que se passa no Livres e no Novo é idêntico ao que aconteceu com os partidos de esquerda: você dá a mão e o progressista pede o braço, até que de repente tomou tudo e você não pode mais abrir o bico sem sofrer linchamento moral.

No próximo texto, apresento sugestões para resolver o problema.

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