Toda vez que aparece um atirador maluco nos EUA, os progressistas falam em regular armas. A direita de lá tem sacado um relatório da RAND Corporation para mostrar que leis proibitivas não diminuem os atentados. Cá no hemisfério sul, o debate acerca da liberalização das armas costuma apontar a impotência das leis restritivas perante o comércio ilegal de armas – sendo este, de longe, o maior problema em relação a armas no Brasil.
Pois bem: descontadas as questões legais, ninguém há de negar que é fácil conseguir uma arma no Brasil. Se a sua intenção for disparar no máximo de crianças possível e se matar em seguida, como fazem os doidinhos dos EUA, não há por que se preocupar com legalidade. Como o comércio ilegal de fuzis no Rio de Janeiro deve superar em muito o comércio legal de fuzis em qualquer área residencial dos EUA, devemos supor que é mais fácil um doidinho arranjar um fuzil no Brasil do que nos EUA. Ainda assim, fato é que atentado de doidinho em escola não é um problema comum por aqui. As armas até entram nas nossas escolas – mas pela mão mercantilista do narcotráfico, interessada em faturar o máximo e não em atirar nos alunos a esmo.
Assim, só podemos concluir que o problema dos EUA precisa de uma explicação de ordem imaterial; de uma explicação que se valha da cultura, dos valores, dos costumes. Os progressistas que apontam para a disponibilidade de armas como a causa do problema têm a ilusão de que o mundo humano é explicado suficientemente pela matéria. São os mesmos que explicam a criminalidade violenta por carência material (pobreza) e se acham capazes de resolver os problemas do mundo distribuindo renda.
Uma explicação diante do nariz
Tucker Carlson abordou o problema em seu programa. Segundo os dados trazidos por ele, há um aumento generalizado de todo tipo de violência nos EUA, de modo que os ataques deveriam ser enxergados dentro desse quadro geral. Não foi a posse legal de armas que causou esse aumento, pois ela só faz diminuir nos EUA desde os anos 80. “O problema,” diz Tucker, é que “as pessoas mudaram; os homens jovens mudaram. Eles estão mais violentos. Por quê? Esta é a conversa bipartidária que precisamos ter agora”.
Com muita prudência, Carlson diz que deve haver múltiplas causas para isso. De todo modo, um objeto de correlação mais promissor do que a posse legal de armas (que diminuiu) é o uso de antidepressivos, que aumentou junto com a violência. Entre 1991 e 2018, segundo ele, o uso de antidepressivos aumentou mais do que 3.000% nos EUA. Claramente já havia algo de muito errado com a sanidade mental daquele país. E o problema ainda piorou muito com a política de confinamento. Segundo os dados trazidos por Carlson, depressão, ansiedade e suicídio explodiram entre os jovens, impactados pelas escolas fechadas. Seria de estranhar que um aumento geral de doenças mentais entre jovens não fosse acompanhado por um aumento de doidinhos praticando atentados em escolas.
Carlson acha ainda que a indústria farmacêutica merecia ser cobrada, já que essa montanha de antidepressivos não parece estar funcionando. Nisto ele tem razão. A este respeito, veja-se o artigo de Eli Vieira sobre a duvidosa eficácia dos antidepressivos, que não são desacompanhados de efeitos colaterais desastrosos à saúde mental dos jovens, tais como perda de libido (imagine uma adolescência sem libido. Não seria de estranhar que os jovens fossem confusos quanto à própria sexualidade se tornassem mais suscetíveis ao contágio social da ideologia de gênero).
No mais, Carlson aponta que o hábito de ficar trancafiado em casa mexendo na internet subiu bastante, e que um dos atiradores recentes certamente vivia assim. Registro isso apenas porque o atentado brasileiro mais conforme ao estilo dos EUA, o de Realengo, foi protagonizado por um sujeito com esse perfil. Rejeitado pelas meninas nos tempos de escola, ele passava o dia na internet curtindo um ódio generalizado às mulheres. A despeito de todas as restrições legais às armas, invadiu a antiga escola armado mirando nas meninas (este é um raro caso em que se morre, de fato, “por ser mulher”. E não os crimes passionais que as feministas chamam de "feminicídio").
E a Europa, como vai?
Não será nada ousado dizer que os EUA estão cada vez mais cheios de doidos violentos. Nem todo doido é violento, porém. Lendo uma notícia do Telegraph, é inevitável concluir que os britânicos estão fora da casinha. “Crianças tamagotchi que não existem podem resolver o problema populacional”, diz o jornal britânico, acrescentando que a “prole virtual poderia se tornar plenamente aceita na sociedade, seria barata de criar e nem teria que crescer”. Por que gente assim não arranja um cachorro ou um gato?! A ideia é de uma tal Catriona Campbell, autoridade em inteligência artificial na Grã-Bretanha. Numa pesquisada, descobre-se que é uma figurona da – pasme – psicologia, área que é um chamariz de doido.
Os bebês existirão no Metaverso e serão parecidos com os pais, insiste o jornal. Aprendemos ainda que criatura apareceu com essa ideia após uma pesquisa revelar que 10% dos casais sem filhos optam por não terem filhos por causa de preocupações com a superpopulação do mundo e com os custos de ter um filho. A Dona Catriona “argumenta que as preocupações com a superpopulação levarão as sociedades a abraçarem crianças digitais. É uma transformação demográfica que ela apelidou como ‘Tamagotchi generation’”. Se um casal decide não ter filhos por causa dos custos, o que fazer? Ofertar-lhe um tamagotchi. Parece o método Michael Jackson de tratar vitiligo. Por alguma razão, o pressuposto é que as pessoas que deixam de ter filhos por causa de custos devem ser ignoradas, ao passo que os doidinhos neomaltusianos devem ser atendidos, porque irão se multiplicar dentro da população já existente. Ah, é claro que um gênio desses estava em Davos no mês passado, palestrando no WEF de Klaus Schwab.
Continuemos com as opiniões dessa senhora: “Crianças virtuais podem parecer salto gigante agora, mas dentro de 50 anos elas terão avançado tanto que os bebês que existem no Metaverso serão indistintos dos do mundo real. À medida que o Metaverso evolua, posso ver crianças virtuais se tornando uma parte aceita e totalmente abraçada em muito do mundo desenvolvido”.
Como eu não sou formada em psicologia, eu sei que filho dá trabalho, e sei que as pessoas gostam de mascarar a preguiça com intenções nobres. Não sei quantos desses casais não são simplesmente gente que quer ficar sossegada, sem esquentar a cabeça com criança, mas acha mais bonito dizer que está fazendo um sacrifício em nome da pseudociência elitista da vez. De todo modo, como fanatismo de fato existe e alguns casais de fato devem temer o fim do mundo, eu me pergunto qual será a sanidade mental dessas pessoas planejadas pela cientista, que criam um boneco virtual para aplacar a frustração de não ter um filho. Tem como dar certo isso?
Na Itália, menos mal
O tópico do custo dos filhos, na Europa, também me chama a atenção. Onde há Estado de Bem Estar, os pais não têm por que gastar com escola nem plano de saúde. Os custos do filho seriam com comida, mas quem é pobre ganha auxílio estatal. Assim, ao menos antes da inflação de alimentos causada pela guerra na Ucrânia, só posso presumir que o problema dos europeus seja o alto padrão de consumo – e não deixo de pensar que partilhem da mentalidade do WEF, pois em vez de baixar o padrão, optam por não ter filhos. O WEF planeja um mundo cheio de quinquilharia tecnológica e com pouca gente, em tese por causa de ambientalismo. Não faria mais sentido cortar a quinquilharia tecnológica? Precisa dar iPhone pra criança, mesmo estando associado ao aumento de doenças mentais? E precisa lançar um iPhone todo ano? Nenhum desses tecnoiluminados do WEF trata obsolescência programada como um mal a ser combatido. Eu passei 8 anos com um computador por não usar a quinquilharia do herói globalista Bill Gates, que transforma rápido qualquer máquina em calhambeque.
Dado o quadro geral da Europa e a agenda que o WEF nos empurra, é alentadora a notícia de que a Itália resolveu fazer propaganda pró-natalidade, em aberta campanha contra o antinatalismo verde. No entanto, o expediente é um mau déjà vu: eles vão estimular a natalidade pagando. A matéria da Aceprensa que traduzi neste jornal dizia que os detalhes estavam por vir; pesquisando, encontrei a informação de que a pensão seria dada às mulheres. Será que pagar às mulheres para serem mães pode ser uma boa ideia? Creio que o caso do menino Rhuan deveria ser levado em conta em toda política que envolva estímulos puramente financeiros à maternidade; afinal, só esse tipo de estímulo poderia levar uma lésbica misândrica a engravidar. No caso, a mãe de Rhuan e a sua namorada, cada qual com um filho, somavam as pensões descontadas dos salários dos pais das crianças. Quando o pai de Rhuan conseguiu suspender a pensão porque ela tinha sumido com o menino, a psicopata viu na criança apenas uma boca extra, torturou-o e matou-o. A maioria das mães não é psicopata, mas a maioria das mulheres se torna mãe por razões alheias à economia, e às vezes contra a economia. Criando-se um pagamento, cria-se um estímulo para que psicopatas botem filhos no mundo. O perfil da mulher que se torna mãe muda, e isso não pode ser bom.
O artigo de Massimo Calvi citado pela Aceprensa expressa uma perspectiva assemelhada à minha e agrega informações. Também ele considera que não é a natalidade, mas sim o consumo ilimitado o que deveria pesar nas preocupações com o meio-ambiente. Mencionou também que um medo das mulheres é o de não poder dar o melhor para os filhos – coisa que responde às minhas dúvidas quanto à questão do padrão entre os europeus; de fato, eles preferem não ter os filhos a dar um padrão mais baixo (eu já acho que filhos sem iPhone valem mais a pena do que filhos com iPhone). Os motivos de temores das italianas citados por ele que me parecem razoáveis seriam a recolocação no mercado de trabalho e a escassez causada pela guerra. O primeiro destes problemas seria questão para legislação trabalhista, me parece. Mas injeção de dinheiro deve causar inflação de alimentos, que é ainda mais preocupante em época de guerra. E falta de comida seria, no fim das contas, o único motivo material absolutamente incontornável para europeus deixarem de ter filhos.
Os EUA acabaram com as comunidades negras dando dinheiro a mães solteiras: tornava-se financeiramente mais viável botar o marido para fora do que ter um lar estável. O resultado se vê até hoje, com a criminalidade nas alturas. Se a Itália vai fazer um programa para qualquer mulher que se torne mãe, é possível que caia em problema semelhante, já que pode ser rendoso botar uma criança no mundo sem a menor vontade de criá-la direito.
Massimo Calvi menciona os italianos consumistas que até puseram um filho no mundo, mas não são pais para esses filhos. Admira-me que ele apoie esse pagamento, já que dinheiro é tudo para consumidores e não transforma ninguém em pai ou mãe decentes.
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