Mademoiselle Marcelle Decothé, morena de cabelos lisos, autodeclarada negra. Não gosta de descendentes de “europeus safades”.| Foto: Reprodução/Twitter
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A segunda-feira não foi fácil para a ministra irmã da finada Marielle Franco. Começou gravando um vídeo para as redes sociais se gabando de ir de jatinho da FAB ver o Mengão jogar (e perder) a final do campeonato. Com um grão de decoro, acrescentou que estava indo a trabalho, pois o racismo é um mal terrível nos esportes, e é um mal tão terrível que acaba com o próprio. A argumentação não é das melhores, pois se esporte fosse incompatível com racismo (e não é; as Olimpíadas de Berlim que o digam), ninguém precisaria fazer nada para combatê-lo nos esportes, já que a mera existência de atividades esportivas combateria o racismo. É como dizer “O sol mata os ácaros, e eu, ministra anti-ácaros, vou à praia a trabalho com o meu Detefon.”

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Obviamente, pegou mal. Ela logo dobrou a aposta e fez um fio no Twitter dando a entender que todas as críticas eram fruto de racismo: “É inacreditável que uma ministra seja questionada por ir fazer o seu trabalho de combate ao racismo e cumprir o seu dever. Vemos que as noções estão invertidas quando avançamos em um acordo histórico de enfrentamento ao racismo e somos criticados por isso. O que de fato incomoda?” Se estivéssemos nos anos 10, os militontos espalhariam Facebook afora um slogan como “A casa grande surta quando a senzala vai de jatinho ver o Mengão”.

Poderia colar, até porque, no mesmo fio, no tuíte com erro de crase, ela deu a entender que pode mobilizar o aparato anti fake news para calar os críticos. Mas logo se descobriu que a assessora dela, uma certa Marcelle Decothé, também foi “combater o racismo” da seguinte maneira:

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Nas publicações, a a assessora de Anielle Franco também criticou a suposta ascendência europeia dos são-paulinos que assistiam ao jogo.| Foto: Reprodução / Instagram

No começo, achei que fosse uma piada fraca; que fosse alguém tentando imitar perfis de humor como a Jessicão. Neorracistas são normais dentro da esquerda woke, mas o gênero neutro era demais. Pior: gênero neutro em "pauliste", sendo que "paulista" já é neutro. (Aliás, reparem como linguagem neutra é uma coisa absolutamente idiota: "safade", neutro, deveria concordar com "europeu", que está no masculino e ninguém propôs como deve ser o neutro de palavras que terminam -eu ou -eia.) Assim, fui xeretar de onde saiu essa pessoe de nome e sobrenome francês.

No seu Lattes, aprendemos que cursa desde 2020 o doutorado em sociologia na UFF, mas é egressa da UFRJ, onde fez mestrado em "Políticas Públicas e Direitos Humanos" e graduação em "Defesa e Gestão Estratégica Internacional". Sem dúvida, Defesa é um assunto muito importante; por isso mesmo, é estranha a existência de um curso de graduação que pegue alunos verdes, egressos do Ensino Médio, para tratar de um assunto tão especializado e que requer muita experiência. Como sói acontecer, esse curso estrambólico foi criado pelo infame Reuni. Anos atrás expliquei em detalhes o Reuni foi, a um só tempo, o programa de ideologização especificamente identitária e o sucateamento das federais durante a passagem de Fernando Haddad pelo MEC. Vocês podem ler aqui.

Já um mestrado em Direitos Humanos na UFRJ dificilmente não tem dedo da Fundação Ford. Esta ONG é responsável por criar e promover o neorracismo negro no Brasil desde a década de 60 (e por fazer um presidente também, Fernando Henrique Cardoso). Nesta matéria da Gazeta, de 2021, vocês podem ler sobre dinheiro da Fundação Ford na UFRJ desde 2006. Quanto ao tema de "direitos humanos", é simples. No século XXI eles deixaram de significar a declaração de 1946 e passaram a significar coisas como quota racial na pós-graduação. E são, também, pretextos usados somente pelos EUA e seus aliados ou subordinados para impor às suas populações, via judiciário, coisas que jamais seriam aceitas em plebiscitos ou por legisladores eleitos.

Onde cabe a Fundação Ford, cabe também a Open Society. Esta matéria da Gazeta mostra que há um laboratório na UFRJ financiado pelo imenso guarda-chuva de ONGs coberto pela organização de Soros. Mas o que mais interessa é que se conta, também, um tal Instituto Marielle Franco... o que nos leva ao currículo de Marcelle Decothé no site do governo, que eu consultei ontem segunda à noite por este link, mas na terça de manhã já estava fora do ar.

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Uma das coisas propagandeadas era a sua posição no referido Instituto Marielle Franco. Outras associações, que printei na segunda à noite, eram estas:

Reconhece-se aí o nome da família Setúbal na ONG presidida por Neca Setúbal e cujo site híper woke pode ser visitado aqui. Neca Setúbal, como se sabe, é herdeira do Itaú e uma notória patrocinadora de campanhas presidenciais de Marina Silva.

Outra coisa digna de ser notada é a relação com Freixo e o Washington Brazil Office. Na última matéria da Gazeta que citei, encontramos informações também sobre o envolvimento das ongueiras de Soros com Freixo. E quanto à associação de banqueiros com racismo contra brancos, recomendo este texto, também da Gazeta, que trata do financiamento de um "Observatório da Branquitude" pelos Moreira Salles.

Aí está, então, a fina flor do onguismo bancado por banqueiros brasileiros e estrangeiros, bem como por grandes capitalistas dos EUA (que "doam" à Fundação Ford).

Uma coisa que não me surpreendeu foi uma neorracista xingar brancos crente que está abafando na sua "luta antirracista" fartamente subsidiada pela viúva. Assim, posso dizer que o incidente me trouxe apenas boas surpresas.

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A primeira delas é que essa gente é tão sem noção que é possível ir galgando postos sem aprender um mínimo de traquejo político. A bonita foi a uma cidade que deu milhões de votos ao PT xingar todo o mundo (não foram só os "europeus safades", mas também os "paulistes" o problema). Qualquer papagaio que repita slogans identitários sobe e vai parar no governo.

A outra surpresa foi grande. Os jornais liberais de São Paulo e do Rio, em vez de pôr panos quentes, partiram para o ataque. Como se sabe, essa esquerda ongueira é abraçada pela turma da Faria Lima — bem mais do que pelos setores mais antiquados da esquerda, que preferem um ditador militar sentado em barris de petróleo a Jean Wyllys e Marina Silva. Eu acho que o normal seria abafarem e, se não tivesse jeito, justificar usando a teoria do racismo estrutural.

No entanto, no final da terça-feira, após o presidente da torcida do São Paulo declarar que recebeu da ministra um pedido de desculpas via telefonema, mas que ainda esperava a demissão da assessora, a cabeça rolou e Mademoiselle Decothé não é mais uma assessora.

Falando em racismo estrutural, Sílvio Almeida, grande propugnador dessa teoria (que eu resenhei), parece que não vai conseguir usar a cor da pele como cartada para o Supremo. Disse Lula: "Eu vou escolher uma pessoa que possa atender os interesses e as expectativas do Brasil, uma pessoa que possa servir ao Brasil [...]. Não precisa perguntar essa questão de gênero e de cor, eu já passei por tudo isso e no momento certo vocês vão saber quem é que eu vou indicar."

Como a grande imprensa está disposta a jogar holofotes negativos sobre Marcelle Decothé, e não está disposta a chamar de "gafe" a declaração acima, parece que os ventos estão mudando dentro do governo Lula, e o presidente está ensaiando dar as costas a Washington.

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Last, but not least, não posso deixar de comentar o físico da nossa anti-branque. Em sua foto de perfil no Twitter, que reproduzi, vemos uma morena de cabelo liso que jamais passaria por negra na maior parte do Brasil, certamente não no Rio. Quando vemos notícias de neonazistas presos, sempre são uns morenos com sobrenome de brasileiro. Agora a nossa militante negra, longe de ser uma deusa de ébano, é mais uma morena, só que de nome francês. Se houvesse uma guerra entre racistas negros e racistas brancos no Brasil, precisaria de crachá pra definir quem é de qual raça.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]