Quem já reparou que revista de homem pelado é feita para homem? Já que a maioria da população de ambos os sexos sente atração pelo sexo oposto, seria de esperar que a maioria de interessados em fotos de homens pelados fosse feminina. No entanto, o que tínhamos era uma coleção de publicações com foto de mulher pelada para a maioria masculina de homens interessados em mulheres, e uma ou outra revista com foto de homem pelado para a minoria de homens interessados em homens. Isso nos levaria ao tabu de que homens são diferentes de mulheres. Para evitá-lo, os progressistas recorrem ao dogma de que toda diferença se explica por opressão. Assim, as mulheres estariam todas loucas para comprar revistas com modelos pelados pra ficar olhando para um monte de pênis de anônimos, mas o patriarcado não deixa. Será?
Agora as bancas estão em baixa, por causa da internet. Vou acudir então à memória do leitor e pedir que se lembre daquelas coleções cor-de-rosa com nome de mulher (tipo Sabrina). As vovozinhas adoravam e os netinhos raramente pegavam pra ler. Curiosa que sou, certa feita já peguei a da minha vovozinha (não a que gostava de cantada de pedreiro, a outra), folheei e encontrei lá, mais pro fim, o herói do romance sugando “com sofreguidão” os seios da heroína. A fórmula é sempre a mesma: mocinha romântica vai para um ambiente desconhecido e encontra um homem intrépido ou taciturno que se rende aos seus encantos. Casam e são felizes para sempre.
Tem pornografia? Tem. E faz jus ao “grafia” de pornografia, porque é tudo escrito, sem imagem nenhuma. Trata-se justamente de atiçar a imaginação da leitora. Até onde eu saiba, não existe uma coleção azul em que os porteiros fiquem lendo histórias de paulatinas conquistas amorosas que, só mais pro fim, culminam em sexo. Alguma progressista vai dizer que os homens têm uma vontade acachapante de ler histórias picantes reprimida por alguma espécie de opressão? Se for verdade, recomendo a criação da coleção "Tonho", a ser vendida para os porteiros que passam o dia nas portarias e têm tempo para ler. Na Coleção Tonho, o herói sempre conquista uma mulher difícil.
Enquanto ninguém faz o teste, dou-me o direito de apontar que os homens são mais atiçados por imagens explícitas e as mulheres pela imaginação.
O fim das bancas
Com o fim das bancas de revista, para onde foi a pornografia feminina? Bom, um exemplo evidente é 50 Tons de Cinza, que foi chamado de “pornô para mamães” e apresentado como grande novidade por isso. A mocinha virgem conhece um cara taciturno e poderoso que gosta de práticas sádicas de submissão, que incluem ciúmes extremos e cintadas no lombo. No fim, se casam.
Se a memória não falha, Jordan Peterson diz, numa dessas conferências baseadas em filmes infantis, que o arquétipo feminino do Herói está representado em A Bela e a Fera, no qual a mulher doma a fera. Se é arquétipo de Herói, eu não sei. Mas é difícil negar que ele tenha razão ao apontar a generalidade desse ideal. E não darei nenhum passo extravagante ao afirmar que existe, no mundo feminino, um fetiche romântico por domar uma fera. Isso tudo está na imaginação, e não tem nada a ver com fotos explícitas. Estas fotos são coisa do sexo masculino.
Naturalmente, a própria ideia de herói ou de conquista traz a possibilidade de fracasso. O fracasso pode ocorrer tanto pela falta de feras (que seria de São Jorge sem um dragão?) quanto por não se conseguir domar a fera. As feministas têm dito a plenos pulmões que querem homens mansinhos, que a masculinidade é tóxica etc. Alguns homens por alguma razão acreditam no que elas dizem, então tentam parecer ou ser um bando de abobado e depois ficam na internet reclamando que as mulheres só gostam de malvados.
Continuemos mais um pouquinho em nossa busca. A pornografia masculina sabidamente migrou para a internet – como quase tudo o que era papel antes. Será lógico que a feminina tenha migrado também. Onde encontramos narrativas sobre homens que parecem dragões implacáveis a serem combatidos? Nos blogues e perfis de feministas. Nos textões, os homens são sempre abusivos, implacáveis, dotados de uma masculinidade tão inebriante que intoxica as leitoras. São ciumentíssimos e estão sempre prontos para dar tabefes. A diferença é no fim do roteiro, já que a Bela não conquistou a Fera.
O que depreendo é que, das duas, uma: ou essas senhoras estão pegando um cara manso fantasiando que são umas feras, ou se meteram mesmo numa enrascada da qual saíram derrotadas.
Da internet à polícia
O leitor na certa há de se lembrar daquela história de “estupro culposo” do Intercept. No fim, não tinha nem estupro (era o caso Mari Ferrer), nem o uso do termo “estupro culposo”. Pois bem: o site tinha então uma jornalista que vivia falando de “o meu estuprador”. É “o meu estuprador” pra lá, “o meu estuprador” pra cá. Os seres humanos decentes costumam ficar embaraçados ao relatar as situações degradantes por que passaram.
A jornalista foi ao Twitter acusar um professor de tê-la estuprado. Como a coisa virou assunto de polícia, ela teve ocasião para contar nos mínimos detalhes o suposto estupro. Na mesma ocasião em que explodiu o caso Mari Ferrer, duas mulheres, uma advogada e uma ex-feminista engajada em combate a assédio, tomaram a iniciativa de defender os homens de falsas acusações. Criaram o perfil Manas e Manos com este fito e trouxeram também os detalhes do caso da jornalista, que você pode ler aqui.
Eu resumo: ele é casado e tem um caso com ela. O caso termina. Ainda assim, ela o convida para conhecer o seu novo apartamento. Ele entende isso como um convite para sexo. Ela demora a dar indícios contundentes de que não quer sexo, e, quando o faz, o homem sai correndo assustado. Poupo os leitores das descrições minuciosas que ela deu ao delegado. O que eu queria apontar nessa história é o jeitão de 50 Tons que tem o depoimento na versão dela. É um tal de ser frágil para recusar, mas ser irresistível ao mesmo tempo, e ter diante de si um homem capaz de cometer um crime para possuí-la. Mas ela fez “xô” e ele sumiu; voltou pra esposa. Resta contar para todo mundo na internet que o homem era uma fera.
Essa história terminou bem, já que a falsidade da acusação foi reconhecida pela Justiça.
Fantasias reprimidas
A polêmica do momento é a autocensura de Chico Buarque, que não vai mais cantar “Com açúcar, com afeto”, escrita a pedido do homem branco cis hétero Nara Leão. O problema, naturalmente, é o papel submisso da mulher perante o homem. Ela faz o doce predileto para o marido parar em casa, mas ele só quer saber da boemia.
A minha explicação para isso é simples: repressão da própria sexualidade. Do mesmo jeito que um aiatolá manda cobrir o corpo feminino, que os excita, as feministas mandam cobrir qualquer coisa que remeta à submissão feminina. Porque isto as excita.
Voltemos à fantasia feminina. Eu não li a coleção cor de rosa, mas disponho de um expert no assunto. Senhoras e senhores, Paulo Polzonoff participou da corrupção de vovozinhas. Ele foi tradutor de coleção cor de rosa e garante: não tem tabefe, muito menos cinto no lombo. As heroínas não fazem sexo; fazem amor. De acordo com sua experiência, tabefe aparece com Nora Roberts, que é posterior.
O homem de 50 Tons é um Deus nos acuda. Quem reclamou do livro? Os praticantes de sadomasoquismo, que dizem que ali está tudo errado, e as feministas, que têm um problema com a representação artística ou ficcional da submissão feminina. De todo modo, de admirar é que um livro com um mocinho tão medonho quanto esse tenha encantado as mulheres do século XXI.
Fica a questão, por fim: será que as mulheres de hoje fantasiam mais com submissão, tabefe e até cintada, ou será que as vovozinhas teriam vergonha de ler tais livros? Não está ao meu alcance provar nada, mas eu voto na primeira. Faz sentido que a emancipação feminina, acompanhada pelas campanhas contra a “masculinidade tóxica”, torne a submissão uma coisa mais atraente. É uma nova forma de transgressão.
No mais, anos atrás, um grande amigo galinha que só namora feminista me garantiu que mulher gosta de levar tabefe. Como não é o meu caso, fiquei incrédula e passei a perguntar a mais homens. No meio universitário, todos garantiam que sim, há alta demanda por tabefes. Um dos que ouvi disse que já deixou de fazer sexo por se recusar a dar tabefe. Esse tinha trauma de feminista e sabe que um tabefe consentido pode virar assunto de delegacia, a depender do humor da namorada.
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