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Bruna Frascolla

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Na Lava Jato, Moro não descobriu nada que a inteligência dos EUA já não soubesse

Sergio Moro Flávio Dino
Foto da Semana: Sergio Moro e Flávio Dino se trataram muito amistosamente durante a sabatina do ministro da Justiça, indicado ao STF. (Foto: Pedro França/Agência Senado)

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A Lava Jato, sem sombra de dúvidas, revelou um grande esquema de saque da Petrobrás para financiar o PT e seus aliados, nacionais e internacionais, além de pagar uma cervejinha. Por mais que surjam objeções legalistas e desmentidos pontuais, creio que nem os petistas se prestem a negar que tenha havido um grande desvio de dinheiro da nossa estatal petroleira. O que os petistas costumavam brandir contra a Lava Jato não era a própria inocência, era um tu quoque: os lavajatistas também querem roubar o nosso petróleo, além de quebrar o empresariado nacional. Certamente é uma defesa ruim, mas nada impede que o fato alegado seja verdadeiro. E os fatos recentes que levaram a direita a (finalmente) se desiludir com Moro deveriam obrigar reavaliar o seu passado. Digo finalmente porque a sua adesão ao fascismo sanitário deveria ter sido a gota d’água.

Creio que, depois da sua afabilidade com Dino, a segunda característica que mais chamou a atenção no episódio foi a docilidade com que Moro pedia e recebia ordens. Um tal de Mestrão sabia o que era melhor para si. Essa figura passiva é o bravo juiz do Paraná que desmantelou o maior esquema de peculato conhecido no Brasil? E se ele sempre tiver recebido instruções?

O tal Mestrão, aliás, é um assessor de Moro investigado por rachadinha, segundo o Estadão. Diz a matéria: "'Mestrão' é o apelido de Rafael Travassos Magalhães, de 28 anos, que trabalha como auxiliar parlamentar de Sérgio Moro desde agosto deste ano […]. Ele recebe um salário de R$ 7.152,04. Antes de assumir o cargo no gabinete do senador, Rafael trabalhou, de novembro de 2016 a outubro de 2018, com o deputado estadual do Paraná Ricardo Arruda. Lá, recebia um salário bem maior do que o atual, de R$ 19.551,64. Arruda é investigado por operar um esquema de 'rachadinha' em seu gabinete, e 'Mestrão' foi citado em uma apuração do Ministério Público do Paraná (MPPR) como uma das pessoas que teriam tido envolvimento com o esquema. […] 'Mestrão' teria o hábito de realizar saques em espécie correspondente a 70% do seu rendimento na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), movimentações que teriam indícios de fracionamento, segundo os investigadores."

É claro que rachadinha é um delito menor em comparação ao saque da Petrobrás; no entanto, a contratação desse tipo de assessor não condiz com as expectativas que Moro (ou seus marqueteiros) incitou no público. Os adeptos da “terceira via” não podem olhar para os bolsonaristas com um rei na barriga por causa das acusações de rachadinhas de Flávio Bolsonaro, quando o seu herói está longe de ser o baluarte da ética prometido. O ex-presidenciável Moro, do infantil slogan “Faça a coisa certa sempre”, é o cara que usa prerrogativas legais para não revelar um voto que, com toda a certeza, trai o seu eleitorado. Cínico, o uso de tal prerrogativa só serve para não ter que dar satisfações.

Mas não para por aí. O genial juiz da Lava Jato não parece ser muito cuidadoso com o seu celular. Assim, ele foi flagrado não só pelo Estadão, como também pelo O Globo. Na conversa publicada pelo jornal carioca, Luís Felipe Cunha dizia a Moro que Deltan está desesperado, tendo ligado e mandado mensagens para si. Passivo, Moro pergunta a Cunha: “Mandou msg aqui. Falo algo aqui? O que acha?” Entende-se que Deltan esteja “desesperado”, já que tanto ele como Moro são os dois herdeiros políticos da Lava Jato, que passaram a representar duas personificações do combate à corrupção. Aponta O Globo: “A conversa continua e Cunha conta a Moro o que disse a Deltan: ‘Estarei ao seu lado sempre, por lealdade, por saber que você é um cara correto’, diz trecho da mensagem. A imagem flagrada pelo GLOBO indica que o senador também conversou por voz com seu suplente [i. e., Cunha] por cerca de cinco minutos antes da troca de mensagens.”

As desavenças públicas de Moro com Bolsonaro começaram justamente por causa da sua indicação de Ilona Szabó, uma ongueira desarmamentista de Soros…

Por ter aparecido com o nome em vez do apelido, a pessoa de Luís Felipe Cunha não chamou a atenção desta vez. Pesquisando o seu nome mais o da Petrobrás, descobre-se, na Veja, que ele começou a ser advogado da Petrobrás durante a Lava Jato em causas trabalhistas. No GGN (de Nassif, de esquerda), aprendemos que “Cunha firmou contratos milionários na Petrobras quando Moro era juiz na Lava Jato e, agora [agosto de 2022], é acusado pelo Podemos – antigo partido de Moro – de querer receber R$ 60 mil sem contraprestação de serviços”. A matéria da Veja pergunta pela legalidade da situação: “Especialistas ouvidos pela reportagem descartam haver algum tipo de irregularidade do ponto de vista jurídico no caso que envolve o escritório de Cunha. ‘Não há irregularidade. Relação de amizade ou parentesco entre juízes e advogados não gera impedimento ou suspeição do magistrado. Não há vedação legal. Outra coisa, porém, é a imagem que essas relações podem transmitir para a sociedade. Não me parece que seja a mais adequada’, afirma Guilherme Jardim, professor de direito administrativo da Fundação Getúlio Vargas.” Mais uma vez, Moro se elegeu com a pretensão de ser a ética na política; não vale esconder-se atrás do legalismo. A matéria do 247 sobre o assunto, anterior à da Veja, aponta mais coisas espinhosas.

É uma possibilidade lógica que todo o mundo esteja errado nessa história. É possível os petistas roubarem a Petrobrás para fortalecer a si próprios e ao Foro de São Paulo, e os lavajatistas roubarem a Petrobrás com a lei debaixo do braço, enriquecendo escritórios de advocacia amigos enquanto atendem a interesses estrangeiros. A legalidade não pode ser uma regra do certo e do errado, mas, como mostrei aqui, essa é uma confusão que Moro tende a fazer. No que depender da ética de Moro, boquiabrimo-nos com qualquer expediente que se use para escapar ao arbítrio do Supremo. No que depender da ética de Moro, não há nada errado com as ONGs de Marina Silva, porque elas operam segundo as frágeis leis brasileiras. Pela ética da Lava Jato, é errado os petistas desviarem ilegalmente bilhões da Petrobrás, mas é certo, com o regulamento debaixo do braço, desviar para a criação de uma ONG lavajatista o dinheiro recuperado. Errado é o desvio ilegal para o Foro de São Paulo, certo é o desvio bilionário legal, com as bênçãos do Departamento de Justiça dos EUA, para implementar projeto político pró-EUA.

Falando em interesses estrangeiros, a coisa que mais me chamou a atenção na arguição de Dino foi esta fala de Moro destacada por Wilson Gomes, que começa assim: “Até me surpreendo que ninguém falou isso até o momento, mas nós vamos ter uma diminuição do número de mulheres no Supremo Tribunal Federal.” A objeção de Moro à indicação de Lula, portanto, é a mesma da esquerda woke, que é totalmente alinhada com o Partido Democrata dos EUA em detrimento do Brasil. Por que não deveríamos supor que Moro seja igual? Suas desavenças públicas com Bolsonaro começaram justamente por causa da sua indicação de Ilona Szabó, uma ongueira desarmamentista de Soros…

Assim, vale lembrar outra vez (já fiz antes aqui em maior detalhe) que a Lava Jato começou após o início da espionagem de chefes de Estado promovidas pelo governo Obama e reveladas pelo Wikileaks. Se a Lava Jato começou em 2014, em 2012 Glenn Greenwald, um jornalista libertário lá nos EUA, já sabia do teor das relações entre os chefes de Estado sul-americanos, que estavam todos grampeados pelas agências de inteligência dos EUA. Ou seja: Moro não descobriu nada que a inteligência dos Estados Unidos já não soubesse. Por isso, não creio que esse sujeito passivo que recebe instruções do Mestrão seja um gênio desbaratador de quadrilhas; creio, em vez disso, que é bom em seguir instruções bovinamente.

Os chamados “bolsopetistas” gostam de mostrar fotos de Deltan Dallagnol com Randolfe Rodrigues. Poderiam mostrar também que a “Vaza-Jato” do mesmo Glenn Greenwald aponta que Deltan usou a Rede de Randolfe para defender as prisões da Lava Jato no Supremo. Surpreende que o partideco de ongueiros ambientalistas defenda uma operação que vele pelos interesses dos EUA em detrimento do Brasil? Nada, estão todos juntos.

Quer saber o que os lavajatistas pensam do Brasil? Pergunte-lhes sobre ESG e soberania na Amazônia.

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