Está cada vez mais difícil fazer de conta que não vivemos num hospício a céu aberto. Eu graças a deus estou numa cidade interiorana, e os doidos que me aparecem são dos mais inofensivos. Apenas andam na calçada falando com pessoas inexistentes. Na verdade, hospício e céu aberto sejam duas coisas desejáveis em comparação ao atual estado de coisas, pois com um hospício se determina quem é doido e quem não é doido, e com céu aberto a gente fica menos suscetível a xeretar a internet e se sentir naquilo que não é um hospício a céu aberto, mas sim um local de terapia para pessoas neuroatípicas ou portadoras da condição tal. Porque agora não tem mais hospício nem doido: tem o espaço comum cheio de gente medicada. Não dá para simplesmente presumir que a pessoa diante de si seja senhora de sua própria razão; por conseguinte, não dá pra diferenciar doido de não-doido.
Vejam vocês a dama em São Paulo que resolveu imitar Frank James, o supremacista negro que saiu tiroteando no metrô de Nova Iorque. A James fêmea foi ao metrô paulistano para esfaquear homens, mirando na jugular. Como vimos, as ideias de Frank James são indistintas do jornalista médio (que é progressista). Quanto à nossa dama anônima, a polícia conta: “Quando a ouvimos, primeiro, ela negou que tinha cometido o crime. Depois, confessou informalmente que tinha cometido os dois crimes. […] Por fim, alegou que estava sendo assediada. Mas nós checamos os dois homens que ela feriu, são pessoas de bem, trabalhadoras e não possuem nenhuma conexão com ela”. Infelizmente o nome dessa senhora não veio a público. Se viesse, eu tenho certeza absoluta de que também apareceria uma intensa vida online dedicada ao ativismo feminista.
Não sabem o que querem
O fato é que o ativismo feminista se provou incapaz de propor qualquer ideal às mulheres comuns. No começo, vendia-se a ideia de que o lar era a prisão da mulher. Liberta da opressão patriarcal, a mulher poderia se realizar por meio do trabalho. Isso pode ser verdade para algumas mulheres, assim como é verdade somente para alguns homens que o trabalho é fonte de realização pessoal. Existem pintores e existem cortadores de cana. Pintura é um hobby para alguns homens. Pintar é uma profissão legal. Cortar cana não é um hobby para ninguém. Cortar cana não é uma profissão legal. Se alguém dissesse à totalidade ou à maioria dos homens que eles devem ir trabalhar para se realizarem com carreiras gloriosas, é claro que seria um mentiroso. Então por que as pessoas acharam bonito dizer isso às mulheres? Fato é que a possibilidade de se realizar como rainha do lar estava ao alcance de ricas e pobres; já o de se realizar como profissional está ao alcance de poucas. É verdade que lésbicas caminhoneiras teriam mais dificuldade em se realizar como rainhas do lar. Deixo ao critério do leitor qual é o contingente maior de mulheres no mundo: as lésbicas caminhoneiras ou as mulheres com profissões chatas e pouco remuneradas.
Ser “função cuidadora”?
A propaganda feminista esqueceu o trabalho como fonte de realização da mulher. Mas a campanha contra a maternidade como forma de realização pessoal continua. Neste dia das mães, a Folha de S. Paulo fez uma matéria intitulada “Mães solo pagam pelo próprio presente no Dia das Mães em escolas”. O termo “mãe solo”, por si só, já é de cair o queixo. Solista é o músico ou dançarino se apresenta sozinho num espetáculo. A mãe é solo porque não é duo, isto é, não faz um dueto com o pai. Consigo imaginar uma solista no palco erguendo um violino, mas não um bebê. Maternidade é algo feito para uma plateia, e não para o filho. Em resumo: ter filho serve pra se exibir em rede social.
A Folha ouve uma especialista: “Especializada na defesa dos direitos das mães, Ana Lucia Dias afirma que a ação das escolas é mais uma opressão. ‘Os presentes não costumam ser para a mulher, são sempre para a função cuidadora.’ Para ela, situações como essa mostram como a sociedade considera que, ao virar mãe, a pessoa deixa de existir como indivíduo. ‘É como se ser mãe fosse só o cuidado e não é. A gente vê nessa relação da maternidade o apagamento total da mulher’”. Daí se depreende que, caso a escola fizesse as crianças darem um vibrador no dia das mães, aí sim deixaria de ser opressão (bote no Google “vibrador empoderamento” e veja a profusão de resultados). Não sei que tipo de sociedade espera esse povo, na qual as crianças devem deixar de enxergar as mães na sua “função cuidadora” e passar a enxergá-las como mulheres, presumindo-se que as duas coisas tenham de existir separadamente. Tem que ser muito narcisista uma mãe que olhe para a criança e reclame por ser vista em sua função cuidadora. As “mães solo” ouvidas alegam que o presente foi escolhido pela escola sem nem atinar que não é um presente da escola para as mães, mas um presente que a escola ajuda as crianças a darem às mães. O dia das mães escolar é feito para a criança, não para a mãe. Na falta de um pai que ajude o filho a escolher um presente para dar para a mãe, a escola faz isso: ensina a criança a presentear a mãe. Essas narcisistas não conseguem enxergar que não estão sozinhas num palco na escola dos filhos.
Não obstante, na mesma matéria lemos que os pais “só pagam pensão”, portanto não pagam a tal taxa de dia das mães. A pensão via de regra é um terço do salário. Qualquer entendido em finanças acha má ideia gastar um terço do salário com aluguel, mas é normal punir os pais solteiros ou divorciados com a perda de um terço da renda e premiar mães solteiras ou divorciadas com um terço da renda do ex. Não bastasse isso, o pai teria que pagar o presente de dia das mães também. A Folha ouviu uma queixosa: “A advogada lembra que o pai do filho paga a pensão, e só. ‘Cuido, faço dever de casa, levo para o futebol, para os treinos, médico e escola’”. Eis que aparece a “função cuidadora” – a ser realizada pelo pai que não mora com a criança, sabe deus como.
É difícil entender o que esse povo tem em mente. É árduo trabalhar na rua e cuidar sozinha de uma criança. Se o pai pagasse a homenagem do dia das mães, ainda seria “só” dinheiro. Tudo se passa como se a maternidade consistisse em receber privilégios sociais, que vão desde poder posar de vítima (“Que horror! Recebi de meu filho de 5 anos um presente de função cuidadora!”) até abocanhar um terço da renda do ex. Ser mãe não tem nada a ver com altruísmo.
Mostrar o físico
As mulheres tradicionalmente gostavam de ser rainhas do lar; agora não pode mais. Tradicionalmente gostavam de ser bonitas. Isso pode. Mas tradicionalmente admitia-se que não é bonito sair por aí se mostrando, já que tanto a vulgaridade quanto a frivolidade não são recomendadas. Neste carnaval fora de época, pipocavam notícias como “Fulana exibe corpão assim-assado em tal lugar”. Só rosto da celebridade aparecia na imagem de divulgação. Quem estivesse interessado no assim-assado tinha que dar um clique. Clicando, tinha-se material para entretenimento adulto (masculino, frise-se) grátis.
Eu acho improvável que um ser humano consiga dar sentido à própria vida arreganhando a bunda para o público. Mesmo que consiga, poucas mulheres terão físico bom o suficiente para viver de arreganhar a bunda. Mesmo que todas as jovens estivessem bonitas – e não estão –, a exibição constante de belos peitos e bundas faria de cada jovem apenas mais uns belos peitos e bunda na vitrine virtual. Que tipo de relação profunda alguém que se enxerga como peitos e bunda pode ter? Até amizade fica difícil. Não há assunto para tratar com uma bunda ambulante.
E ainda tem o envelhecimento. É impossível ter belos peitos e bunda para ostentar à internet aos 70. Talvez seja o caso de fixar uma eutanásia pública, gratuita, de qualidade, para remediar a velhice.
Doida pra todo lado
Assim, não é de admirar que haja doida pra todo lado. Ao contrário de muitas das suas antepassadas, a mulher de hoje não deve esperar aceitação social sendo uma boa dona de casa que escolheu um bom marido e criou bons filhos. Deram-lhe a tarefa de ser uma profissional brilhante, apaixonada pela carreira – mas muitas não arranjam sequer trabalho, que dirá uma carreira apaixonante. Que sobrou? Arreganhar a bunda – mas nem todas têm uma bunda bonita para arreganhar. Aí a mulher endoida e vira militante progressista: começa a procurar sentido na vida repetindo o credo que a mídia e as agências de marketing empurram para ela.
E o pior é que o marketing é realmente invasivo. Nem quando a mulher está quieta trocando o seu modess, o marketing deixa em paz. Olhem só:
Antigamente era necessário algum grau de intimidade para soltar frases motivacionais para alguém. Hoje, é aceitável receber conselho de um objeto inanimado – logo o modess. Quem dá ouvidos a modess é mais doida que o doido que fala sozinho na calçada. A mulher então sai de casa e resolve comprar uma lata de leite condensado para fazer doce de leite na panela de pressão, já que os últimos doces de leite comprados prontos não estavam bons. Lê o rótulo porque não custa nada ver receita, e… Eis que o rótulo conta que “pudim também é terapia”. Agora é normal presumir que a mulher que faz questão de sobremesa precisa de terapia. Terapia à base de pudim, ainda por cima.
Mas é provável que as agências de marketing não estejam loucas, e loucas estejam mesmo as mulheres que acreditam nas agências de marketing e na mídia. Atenção, senhoras: se vocês fizerem muito uso de ideologias lícitas e oficialíssimas, é possível acabar igual àquela doida “de maiô branco, com uma barriga simulando uma gravidez e bonecas anexadas, representando os bebês que estava abortando [e] gritava […] ‘Ajude-me a abortar meus bebês’ […], dançando em volta da igreja”.
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