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Bruna Frascolla

Bruna Frascolla

O dia em que o Talibã libertou as mulheres

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Combatentes do Talibã são vistos na traseira de um veículo em Cabul, Afeganistão, em 16 de agosto de 2021 (Foto: EFE/EPA/STRINGER)

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Como sabe qualquer leitor e espectador do jornalismo comum, praticamente todas as mulheres do mundo são feministas. Só Janaína Pascoal, Bia Kicis e mais umas duas ou três que não são. As mulheres vivem oprimidas pelos homens no mundo inteiro, mesmo sendo o gênero uma mera construção social. Por alguma razão que eu não perguntei a Judith Butler, existem homens e mulheres entre esquimós, bantus, maoris, ucranianos e tupinambás.

E em todo o mundo os homens-que-não-nasceram-homens (porque é construção social), mas por acaso têm um pênis, conspiram para oprimir mulheres-que-não-nasceram-mulheres, mas por acaso têm uma pissiguida. O que explica tamanha coincidência global? Um Protocolo dos Sábios da Borracharia?

Mas não façamos perguntas difíceis, porque hoje é um lindo dia para comemorar a libertação feminina. Varões antiimperialistas de barbas mais fartas que os hipsters e gostos mais alternativos do que os do Leblon tomaram o Afeganistão das garras do Tio Sam e libertaram as mulheres do jugo patriarcal exercido pelo capitalismo. Neste artigo, os leitores verão a ampla gama de liberdades alcançadas pelas nossas irmãs afegãs.

Chega de padrões de beleza inalcançáveis

No Afeganistão, não há o menor risco de uma mulher se deparar com um anúncio de cerveja exibindo o corpão de uma Juliana Paes dos anos 00. Não há cartazes com modelos magricelas usando roupas estrambólicas. Ora, quando as mulheres se deparam com tais imagens, desenvolvem anorexia, bulimia, ansiedade, depressão, e no fim se matam.

Com o uso generalizado da burca, as mulheres não mais serão vítimas de gordofobia. (A menos que a rotundidade seja tamanha que se possa perceber pelo formato da burca.) Todas cobertas das cabeças aos pés, nenhuma é mais bonita do que outra. Assim alcança-se uma espécie de socialização da beleza, de maneira que o patriarcado nem pode lançar dissídio entre as mulheres. Aqueles agentes do patriarcado que se infiltravam em ambientes femininos para dizer coisas como “Miga, essa sombra está uó” serão punidos com a morte.

Chega de pagar contas

Desde a chegada dos Talibãs, as mulheres puderam finalmente parar de se submeter à educação bancária das escolas neoliberais, que lhes ensinavam somente coisas úteis ao capitalismo patriarcal – tais como ler, escrever e fazer contas. Agora estão livres não só de aulas, como também do patrão. Em casa, as mulheres ficarão todo o dia livres do convívio com os homens. Juntinhas, exercitarão seus saberes e conheceres femininos ancestrais.

As consequências disso para o planeta são alvissareiras. Como diz a douta geógrafa da USP Larissa Bombardi, atualmente autodeclarada vítima de ataques e autoexilada do Brasil, a terra é fêmea e os agrotóxicos são machos. A técnica aplicada sobre a terra, é como estupro. Longe das salas de aula, é de se esperar que as mulheres façam cirandas ao luar para aumentar a colheita.

Todo o sustento das mulheres será providenciado pelos homens. Estes reconhecerão que têm uma dívida histórica com as mulheres e então passarão a sustentá-las. Uma ideia verdadeiramente inovadora na história da humanidade.

“Palavra da vítima”

Como as mulheres deixarão de ter chefes homens e colegas homens, resulta que nunca mais serão assediadas e estupradas por eles. E qual é o método para sabermos se uma mulher foi mesmo assediada ou estuprada? Ora bolas, a palavra da autodeclarada vítima! Não precisamos usar do bom-senso, nem devemos pedir provas materiais. Basta acreditar em qualquer mulher que faça qualquer acusação, por mais que descabida, contra um homem. O devido processo legal é um arcaísmo. A “palavra da vítima” é o método infalível de determinar se um homem estuprou uma mulher.

Assim sendo, não há palavra da vítima que se levante contra os homens numa teocracia islâmica. O que só pode significar que não há estupros nos países islâmicos. Ora, já não aprendemos que o Brasil é o pior lugar para ser gay no mundo inteiro? Sinal de que o mundo islâmico é melhor do que nós não só com as mulheres, mas também com os gays.

Mas nem tudo é perfeito

No mundo islâmico, a mulher só não se livrou de duas coisas: do sexo reprodutivo e da família. Falta muito para as nossas irmãs muçulmanas deixarem de fazer sexo com os seus maridos e de terem uma família. No futuro brilhante que se abre para as mulheres, vemos a possibilidade de ser sustentadas por homens através de pack de nudes – ou seja, sem nem toque, que dirá penetração. Sem penetração, sem filhos. Mas se tiver penetração desprevenida, isso serve para a Planned Parenthood tirar uma graninha vendendo material fetal.

Então ficamos assim: é melhor ser uma afegã sob os Talibãs do que ser uma trabalhadora brasileira. Mas melhor mesmo do que ser uma afegã, só mesmo ser uma ninfeta que vive sozinha à base de drogas lícitas e ilícitas vendendo foto pelada para desconhecidos.

Quer levar uma vida sexual liberal, destituída de qualquer aspecto pecuniário? Não pode. Com o novo feminismo, isto fica para trás. Quer constituir família? Isso dá, desde que o homem esteja disposto a enfiar a mão no bolso e comprar uma esposa a ser sustentada. Com o novo feminismo, também ficou para trás o casamento espontâneo entre homem e mulher que se veem como iguais.

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