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Bruna Frascolla

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Our whole universe was in a hot, dense state

O nerd: símbolo do bom-mocismo e da aceitação social para frívolos

Infantilizados, politizados e cheios de virtude para sinalizar, os nerds, antes ostracizados, hoje dão as cartas também no debate público.
Infantilizados, politizados e cheios de virtude para sinalizar, os nerds, antes ostracizados, hoje dão as cartas também no debate público. (Foto: Bigstock)

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Ainda não falei mal o suficiente do Twitter do TSE. Vimos já a maneira como ele lida com o seu público-alvo: dá crenças prontas para os trouxas repetirem irrefletidamente, pois só querem uma opinião bonita para ficar bem na fita, sem se preocupar com a verdade. Agora eu queria comentar que o tuiteiro do TSE (que não sabemos quem é) entope as mensagens institucionais com um emoji de carinha dentuça de óculos. É ele, o famigerado nerd, o símbolo do bom-mocismo e da aceitação social para essa categoria de frívolos.

Em priscas eras, o nerd era, em inglês, algo parecido com aquilo que chamamos de CDF. Não é simplesmente a mesma coisa, porque CDF é apenas o cara que estuda muito e tira notas boas, sendo que isso pode refletir mera disciplina e memória, virtudes de concurseiro. O nerd, não. O nerd é aquele que estuda muito porque gosta, com um quê de autodidatismo, e tira notas boas em reflexo disso. Cerebral e feioso, o nerd clichê apanha dos colegas e é desprezado pelas meninas. E eis que surge no cenário imaginativo a lenda de Bill Gates como o Nerd Ideal que alcançou a redenção: depois de muito apanhar e de sofrer muitas rejeições, usou sua inteligência para ganhar bilhões de reais e hoje olha de cima para os colegas de escola. A idade até melhorou a aparência.

Essa lenda ganhou fôlego no imaginário pop. Se antes era feio ser nerd nos EUA e a palavra era desconhecida em português, de repente o rótulo passou a ser reivindicado por gente de classe média do Ocidente inteiro, e uma seção nerd passou a ser de lei em grandes livrarias.

Os feios e desprezados sempre existiram em ambientes escolares. Com a lenda Bill Gates, eles puderam dizer que sua própria feiura era signo de um cérebro privilegiado e o desprezo que sofriam era consequência da incompreensão de um gênio. Com uma lenda tão promissora, não é de admirar que meio mundo tenha passado a se dizer nerd.

De loser a nerd

Agora quem tem pretensões cerebrais acha que é bonito ser feio: as mulheres botam uma argola de boi no nariz, fazem um monte de tatuagens bobas e lutam contra a gordofobia comendo muita comida de aplicativo. Alardeiam que não sabem cozinhar, pois isso significa que estão fora dos padrões impostos pelo patriarcado. Também são grossas e emocionalmente instáveis, o que significa que são “autênticas”. Depois, quando não arranjam um namorado, isso quer dizer que os padrões de beleza são opressivos e os homens não estão preparados para mulheres autênticas.

Quanto aos homens, sua preocupação consiste em seguir modas, em detrimento do físico. Com camisa de botão, óculos grossos, barba, gatinhos, fofura e slogans corretos, conseguem passar o rodo em todas as feministas novinhas que ainda não avançaram no processo do enfeiamento. Depois, quando descobrem que ele passava o rodo, tem-se a comprovação de que as manas estavam certas desde o início: os homens não prestam. Resta entregar-se aos prazeres do chocolate e adotar um gato vegano.

Olhando de fora, qualquer pessoa sensata diria que essa subcultura é um inferno de jovens que se autossabotam. Mas eles, se olhando de dentro, têm certeza de que são gênios incompreendidos.

Todo mundo é gênio – sem estudar

Reparem que o ambiente escolar segue sendo referência para esses adultos. E, nas seções nerds de livrarias, encontramos bonequinhos de super-herói e filmes. Súbito, ser inteligente e cerebral consiste em não deixar o ambiente escolar jamais, aí inclusas a idade mental e gostos.

Antes da ascensão do nerd, existia o intelectual. Urgia botar uma gola rulê e andar com um livro de filosofia ou literatura no sovaco. As mulheres mais elitizadas – que ainda eram capazes de cuidar de si mesmas e fazer o próprio almoço – selecionavam os rapazes que pareciam inteligentes e cultos. Convenhamos que ter uma opinião formada sobre “O ser e o nada” requer não só muito mais inteligência e cultura, como também maturidade, do que ter uma opinião formada sobre o último filme do universo de Star Wars.

Com o intelectual de boteco, ainda se tinha uma noção de erudito. Mas a noção de erudição simplesmente inexiste quando paramos de falar de intelectuais para falar de nerds.

Não sou nenhuma apologista de intelectuais, e este texto não é uma apologia de intelectuais. Em outra ocasião, já contrapus a figura do erudito, típica da Renascença, à figura do intelectual, surgida na Idade Média e exaltada pelo marxismo. A questão aqui é que ser um intelectual – ou um erudito – requer estudo. Ser um nerd, não. É algo que qualquer loser pode fazer. Basta abrir a boca e ficar falando de filminho.

Assim, para ficar bem num círculo de gente que se acha a nata do espírito, ninguém precisa ler nada. Basta falar de filmes e séries.

Escola fora da escola: a Faculdade de Comunicação

O típico destino do nerd depois da escola é a Faculdade de Comunicação de alguma universidade conceituada. Lá, terá as áreas de “contemporaneidade” e de “cultura pop” para levar uma vida de eterno adolescente mimado, falando de seus gostos frívolos que súbito ganharam status acadêmico de objeto de pesquisa. Depois essa criançona ganha um diploma que a habilita a trabalhar em jornais e em área de publicidade.

Aí a gente entende por que o jornalismo tradicional está como está, ou por que aparecem propagandas antieconômicas como a do Burger King pró LGBTQIA+ e a da Heineken contra o consumo de carne.

Como esse é um nicho que inevitavelmente acumula poder, no fim ficamos recebendo ordens de gente que não se diz nem mais culta, nem mais forte, nem mais inteligente. Temos que fazer as coisas que mandam porque são fofos e têm os mesmos hobbies que os personagens de "The Big Bang Theory".

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