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Anvisa
Anvisa: medidas impõem máscaras a crianças de três anos| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Li que os suíços aprovaram em referendo o passaporte sanitário com 62% dos votos. Agora a Suíça está junto com a Coreia do Norte na minha lista de países sinistros nos quais jamais pretendo pôr os pés, porque a sua população me assusta. Solidarizo-me com os suíços de bem e desejo que consigam fugir de lá para um lugar um pouco melhor, como o Brasil.

Mas, ainda assim, há algo de invejável na relação dos suíços com o passaporte sanitário: eles votaram para que esse troço fosse aceito. É uma violação dos direitos humanos e do Código de Nuremberg, mas ao menos é um assunto filosófico sério. E se um conjunto de cidadãos livres, num referendo democrático, optar por não ser mais livre e por violar direitos humanos? No século XX nos acostumamos muito a discutir o papel do Estado dando por garantido que o problema é ele e não as pessoas. Presumíamos que todo grande grupamento humano tem uma pequena parcela de gente má, e o Estado deveria dar um jeito nessas exceções. Mas e quando um país se acanalha? E quando as massas começam a apoiar assassinatos burocráticos de gente inocente? Este é o problema que a Alemanha trouxe no século XX e do qual desviamos o olhar. E aí está a Suíça outra vez, esfregando-o na nossa cara.

A situação dos números é interessante: tanto a Alemanha quanto a Suíça tem dificuldades em avançar a vacinação. Estagnaram lá pelos 60%. No caso da Suíça, essa maioria de vacinados bastou para coagir a minoria de não vacinados. Não deixa de ser uma surpresa, já que o ato de se vacinar não implica a defesa do passaporte vacinal. (Daí depreendemos que a Europa está terrivelmente dividida, ou podemos aventar que talvez as democracias estejam sendo sabotadas de alguma maneira, mundo afora. Mas é melhor não aventar nada, porque isso dá cadeia sem o devido processo legal aqui onde vivemos.)

Assim, o que tivemos na Suíça é uma sociedade em que a parte majoritária dos cidadãos exerce poder sobre a parte minoritária. É como se um cidadão classe A, do lado de um policial grandão, erguesse o dedinho para o cidadão classe B e dissesse: você vai ter que tomar uma dessas vacinas experimentais e correr riscos de coágulo e inflamações cardíacas em nome da minha segurança!

A Anvisa no avião

Cá no Brasil, não temos plebiscito. Como o STF liberou, um sem número de desocupados fica dando uma de cidadão suíço majoritário sem ser suíço, nem majoritário. Estão nos RHs, estão em governos de estados… Estão até em grupos familiares ou de amigos organizando festas. Mas, em avião, descobri que temos a Anvisa fazendo as vezes de cidadão suíço majoritário.

Eu já tinha viajado de avião em época de pandemia no ano passado. A aeromoça avisava que o lanchinho seria entregue na saída, para que as pessoas não abaixassem a máscara. Não tinha nenhum textinho anunciando restrições duras.

Agora, cerca de um ano depois da viagem, recebo com desconforto a notícia de que não poderei comer as minhas bolachas num voo de mais de três horas. Baixar a máscara, só se for para beber água. Olhei para o jovem obeso ao lado, que tinha pedido um extensor para o cinto, e pensei que aquela era uma amostra da vida saudável que nos está sendo vendida neste novo normal. O voo atrasou horas, e lá estava o rapaz imenso, com uma máscara de arco-íris bem cravada em cima do nariz e boca inteiros. Eu faço strip tease de nariz com frequência. Segundo o novo normal, minha vida é menos saudável do que a dele – e quem discordar comete os crimes de negacionismo e gordofobia.

Ouso dizer que o cidadão modelo, se vacinado, é aquele ali: ostenta na cara a adesão à ideologia da moda, não mexe na máscara nunca, não disciplina os próprios apetites, se entretém passivo perante uma tela de celular por horas (agora tem wi-fi no avião) e demanda cuidados da autoridade (o aeromoço) toda hora.

Eu só sei de uma coisa: minha expectativa de vida é maior do que a dele. Minha disciplina se reflete no meu peso, que tem impacto na minha saúde – inclusive para resistir à Covid e contribuir com a imunidade de rebanho. Minha recusa à ideologia da moda impede que eu me meta em aventuras médicas para me dizer trans, por exemplo. Saindo de casa, mantive o meu sistema imunológico em dia. E não tomando qualquer coisa experimental que as autoridades queiram injetar em mim, corro menos riscos de ter o fim de Bruno Graf.

Eu olho para o novo cidadão modelo e penso que “redução de carbono” é eufemismo para redução da quantidade de humanos.

Maltratar as crianças

O aviso com as normas da Anvisa dizia que eu estava proibida de comer minhas bolachas, que a companhia estava proibida de dar o amendoim da saída e que os bebês a partir de 3 anos têm que usar a máscara cobrindo a boca, o nariz e o queixo durante toda a viagem.

A Anvisa deve saber que a mortalidade de crianças por Covid é pífia e costuma coincidir com comorbidades. Grosso modo, criança não sofre com Covid. Deixemos claro então que, em nome da saúde de adultos, a Anvisa obriga bebês de três anos a andarem de cara coberta. A Anvisa olha pra criança como se fosse pombo: vetor de doença. Ninguém votou na Anvisa, mas a Anvisa já decidiu que o adulto hipocondríaco é prioritário em relação às crianças.

Criança é um vetor de doença tão poderoso assim? Se fosse, seria de esperar que a reabertura de escolas causasse um disparo em casos – o que não parece ser verdade.

As máscaras mais eficazes na vedação do ar são desaconselhadas para crianças. Assim, a máscara que o bebê vai usar sequer serve para impedi-lo de atuar como um pombo. E como a Anvisa está preocupada com adulto hipocondríaco em vez de criança, ela não se empenha em avisar que certos tipos de máscara fazem mal às crianças.

Ora, se o hipocondríaco tiver tanto medo assim de pegar Covid, que não entre num avião. Vá de carro. Se entrar, que use a máscara de vedação mais eficaz do mundo. Ele tem que ter liberdade para isso. O que não se pode é botar criança em segundo plano e tratar igual a pombo.

Nos aviões do Brasil, criança não vale nada. Quem decidiu isso foi algum burocrata anônimo. Se fosse um político eleito, ao menos saberíamos quem xingar. Nesse caso, nem isso: vamos vendo a democracia ceder perante tecnocratas alinhados com grandes corporações.

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