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Bruna Frascolla

Bruna Frascolla

Sugestão para o impasse identitário: troca de informação

Os progressistas têm mais informação sobre a nova direita e a velha esquerda do que a velha esquerda tem da nova direita, e vice-versa (Foto: Pixabay)

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Modéstia à parte, acho que na minha última sequência de textos obtive sucesso em mostrar pelo menos uma grande sabotagem interna à direita, que esteve escondida debaixo dos narizes de todo. É Ayan, sabidamente responsável por fake news desde 2018, não só ter ficado livre, leve e solto, como ainda posar de especialista no assunto, junto de autoridades. Enquanto isso, gente que não cometeu nenhum crime, e até tinha imunidade parlamentar, vai presa no inquérito das Fake News.

Vazamento de conversa privada é o grampo do século XXI. Acredito que Ayan tenha planejado grampear os olavetes e os bolsonaristas, e que tenha ido passando conversas privadas ora à imprensa antibolsonarista, ora ao Judiciário.

Outro fenômeno concomitante é a tomada dos movimentos político-partidários de direita por um bom-mocismo identitário.

Se você conhece o ambiente da esquerda ou é de esquerda, você já viu esse filme antes. Abstraia o fato de as vítimas serem gente de direita sem culpa no cartório e considere: Você já viu gente sendo detida em prisão preventiva, sem julgamento, por mais de um ano (Marcelo Odebrecht); você já viu o judiciário chamando alguém de blogueiro pra desrespeitar o direito ao sigilo da fonte (Moro versus Eduardo Guimarães); você já viu, em suma, um judiciário com proatividade inédita se mover para pegar alguém, sob os aplausos da imprensa.

Você não sabe, mas é bem possível que a esquerda inteira tenha sido grampeada por um infiltrado e, em virtude do seu rabo preso, esteja sob chantagem. E, enquanto tudo isso aconteceu, os identitários aboliram dos partidos de esquerda a preocupação com classe social e os transformaram num chá de dondocas. As dondocas negras ficam conversando com as dondocas quatrocentonas sobre como os homens brancos cis hétero são maus e a esquerda agora é isso.

Minha hipótese para a Lava Jato e a velha esquerda

Ao meu ver, faz sentido supor que uma terceira parte se moveu para derrubar o Foro de São Paulo no Brasil e pretendeu usar dos mesmos expedientes contra a direita em ascensão. Mas não adiantou grampear nada, porque a nova direita, neófita na política, não tem rabo preso. Luciano Hang não tem nenhum papel aparentado com o de Marcelo Odebrecht. Aí ficam fazendo escarcéu por causa de rachadinha, de zap-zap, de “genocídio”, de offshore.

Uma vez que a direita é movida por opinião exposta nas redes sociais, resta prender os opinadores e minar as redes sociais. As ameaças à democracia dão na vista – ao contrário da Lava Jato, que deteve um faraônico esquema de corrupção golpista e ganhou simpatia instantânea de praticamente toda a população.

Se você é de direita, provavelmente sabe que dá pra traçar um corte entre a nova esquerda e a velha esquerda, já que Fidel fazia campo de concentração pra gay até ontem e homossexualidade era “vício burguês”. Homofobia à parte, qual é o perfil da velha esquerda brasileira? Terceiromundista, estatista, nacionalista, anticapitalista. Pegue Geisel, subtraia o anticomunismo et voilà. Diplomacia Sul-Sul, criação de estatais, regulação de preços.

Ao meu ver, o homem que melhor encarnava, no Brasil, o projeto do Foro de São Paulo era Celso Amorim, ministro das relações exteriores dos dois governos Lula. Quando Dilma entra, ele é trocado por Antonio Patriota, um globalista afeito a ONGs. Bajular a ONU e as ONGs em território nacional exclui, ao meu ver, a possibilidade de bajular o Foro de São Paulo. Ou você bota um monte de gringo ongueiro tomando conta da Amazônia, ou você deixa as FARC em paz lá, sem ter que dividir o ouro com nenhum ongueiro.

Creio que o governo Dilma tenha representado a troca, na esquerda brasileira, da submissão ao Foro de São Paulo de Fidel pela submissão ao Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês), de Klaus Schwab, que patrocina essa coisa toda de identitarismo, de neomaltusianismo travestido de ambientalismo, de Estado policialesco e passaporte vacinal.

A velha esquerda olhava para o WEF e dizia: isto é capitalismo, é direita! A nova direita olhava para o WEF e dizia: isto é comunismo, é a esquerda! E deixam de enxergar que têm um inimigo em comum.

Troca de informação é necessária

Eu só pude escrever este texto e os precedentes por me dispor a conversar com gente bem-intencionada de todo tipo de opinião política. Estando de fora do olavismo, por exemplo, eu nunca poderia enxergar Ayan sozinha. E tendo sido opositora desse movimento, estou em posição privilegiada para afirmar que sua conduta com críticos não é a de ameaçar nem de bater. Nenhum grupo político tem condições de enxergar o atual cenário político do Brasil sozinho.

Não estou sugerindo que todos os homens de bem se juntem num único movimento político; estou propondo que todos os homens de bem conversem. Isso deveria ser o básico numa democracia saudável – que claramente não é o nosso caso.

Mas é o básico para que ao menos combatamos o inimigo comum, agora bastante visível, que é esse movimento identitário ou progressista de empresas monopolistas globais, oposto à democracia, à liberdade de expressão, ao direito de ir e vir e aos demais direitos humanos (os da Declaração de 1948, não os que Jean Wyllys tira da cabeça dele). Os progressistas têm mais informação sobre a nova direita e a velha esquerda do que a velha esquerda tem da nova direita, e vice-versa.

Creio que a única razão para as pessoas deixarem de conversar com membros de outros grupos políticos é acreditarem que o pertencimento a um dado grupo faz de alguém um imoral. Essa é uma inferência válida em alguns casos, e eu subscrevo nos casos do Foro de São Paulo e da seita de Ayan.

Conversa com a esquerda

Com quem conversar à esquerda? Creio que os antipetistas da esquerda e os egressos da velha esquerda orbitem em torno de Ciro Gomes, Marina Silva, Roberto Freire e Aldo Rebelo. Todos estes são nomes que não se meteram fundo na Lava Jato. Destes, Marina Silva e Roberto Freire se manifestaram em prol da Lava Jato; Ciro Gomes e Aldo Rebelo, contra. Este foi acusado pelo líder do PP de receber propina, mas a coisa não foi adiante. Na lista da Odebrecht constavam os nomes de Aldo Rebelo e de Roberto Freire.

Ciro Gomes, depois de toda a sua vassalagem prestada a Lula, dificilmente consegue convencer de que ele seria melhor do que o guru do ABC. Além disso, ele se coloca contra os identitários. Marina é chegada em ONG cirandeira na Amazônia e em politicamente correto. Não combate os identitários nem mesmo sendo crente. Quanto a Roberto Freire, o herdeiro de Prestes no papado do comunismo brasileiro, estava defendendo a “liberdade de expressão plena”, entendendo com isso que “o Judiciário é que deve estabelecer eventuais limites, o que está sendo feito por meio do inquérito sobre fake news no Supremo Tribunal Federal, cuja continuidade […] deve ser defendida pela sociedade.” Como se vê, as críticas de Orwell à perversão da linguagem pelo comunismo continuam firmes e fortes. O posicionamento de Freire é posterior à censura do Antagonista e da Crusoé pelo STF no âmbito do referido inquérito.

Desses nomes, sobra só o de Aldo Rebelo a manifestar-se contra o identitarismo. Também está numa cruzada nacionalista contra ongueiros na Amazônia, o que ao meu ver depõe a favor do caráter dele, já que há infinitos incentivos financeiros e sociais para ficar lambendo ongueiro.

O PCO tem seus surtos de lucidez e defende mais a liberdade de expressão do que o Livres, mas é adorador de Lula.

Pois muito bem: se a nova direita quiser se inteirar do ponto de vista palaciano da velha esquerda, o grupo de Aldo Rebelo me parece o melhor. O que não exclui figuras avulsas que se agitam em torno daqueles outros três nomes (Freire, Marina, Ciro), desde que sejam contrárias ao lulismo e ao identitarismo ao mesmo tempo. Essa dupla oposição, num esquerdista ou egresso da esquerda, é o que devemos buscar.

Mudança de mentalidade necessária à esquerda

Eu juro que só comecei a entender os olavetes direito quando foquei no fato de Olavo ter passado pelo PCB. O ethos é o mesmo dos comunistas pacíficos dos anos 70. Estes também eram personalistas (cultuavam Prestes) porém capazes de discussão interna cordial. Quando a coisa esquenta demais, tem racha e eles ficam se matando. Mas o seu maior defeito – plenamente compreensível, na época da Repressão – é o temor do Outro.

Então vamos combinar que Olavo de Carvalho muito provavelmente não é um agente da CIA, ainda que more na Virgínia e a sede da CIA fique na Virgínia. Se vocês quiserem escolher um agente da CIA, fiquem com Ayan. Olavo só se lasca. Vejam que o MBL pôde fazer um escarcéu chamando Deus e o mundo de pedófilo, mas não tem indenização milionária para ele nem Frota pagarem. Já Olavo, pimba: condenado a pagar 2,9 milhões de reais. Aliás, vejam a cobertura que a mídia dá a Olavo e comparem-na com a dada a nomes ligados ao MBL.

Renan Santos já fez piadas de péssimo gosto que mais pareciam incitação a estupro e tem registrado contra si um BO na Delegacia da Mulher que o acusa de tentativa de estupro. Depois a vítima fez outro BO retirando a queixa. Ignorar isso é bastante estranho, já que o ativismo feminista abraçado pela imprensa tradicional fez de tudo para impedir retiradas de queixas. Lembremos que o MBL é acusado pelo MP de lavar 400.000 com o seu guru Ayan, também suspeito de possuir pornografia de menores de idade. Essa gente é intocável para a imprensa, enquanto Olavo vai para a fogueira.

Os liberais são bem abertos — abertos até demais, daí a infiltração identitária em seus movimentos políticos. Um liberal é um aliado natural da esquerda nacionalista contra os monopólios globais. É uma confusão plantada por Stálin a equivalência entre capitalismo e fascismo.

Se você de esquerda está nessa, recomendo fortemente que leia “O caminho da servidão”, de Hayek. O título é uma alusão a uma passagem de Tocqueville e é um livro sobre democracia. Liberais “austríacos” acham (e estou com eles nessa) que concentração de dinheiro é o mesmo que concentração de poder – daí a sua crítica à concentração de poder econômico nas mãos do Estado e sua defesa do livre mercado, sem monopólios. Para vocês terem uma ideia, o Livres foi criado por gente como este aqui, inventor do termo “antibolsonarismo psicótico”. Os liberais estão perdidos, puxando os cabelos, sem saber o que fazer com a invasão da beautiful people.

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