O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, declarou que o desrespeito às opiniões dos artistas não será tolerado pela Justiça Eleitoral| Foto: EFE/ Joédson Alves
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Olavo de Cavalho falava e escrevia muito sobre todo tipo de coisa, de modo que seria uma proeza acertar em tudo o que falasse ou escrevesse. No entanto, é fácil identificar uma hipótese política defendida por ele em toda a sua vida pública, a saber: que a Nova República é um conchavo entre esquerdistas gramscianos que ocuparam as artes e a TV para se investir de legitimidade. PT e PSDB, duas facções da esquerda uspiana, eram apresentados ao público como antagonistas radicalmente opostos. O PSDB, em especial, era apresentado como direitista. José Serra, ex-presidente da UNE, era a extrema-direita em pessoa, porque – imaginem só – durante as eleições se colocava contra o aborto e ia à missa.

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De lá para cá a coisa mudou tanto, que os candidatos da chapa de esquerda em 2018, Fernando Haddad do PT e Manuela Dávila do PCdoB, esta uma feminista, passaram a ir à missa para incluir as imagens no horário eleitoral. A “extrema-direita direita” de 2010 era a única esquerda viável em 2018. E o PSDB sumiu do mapa da disputa presidencial.

Olavo de Carvalho morreu na metade do primeiro mandato de Jair Bolsonaro. A tese que sustentava então era a da Revolução Brasileira, documentada por Josias Teófilo em seu Nem tudo se desfaz. Segundo pensava, sem querer, a esquerda brasileira deflagrou em junho de 2013 uma revolução conservadora. Os protestos originalmente convocados pela esquerda ganharam adesão das massas, que acabaram mudando a pauta. O grande beneficiário dessa revolução foi Jair Bolsonaro. No entanto, a chegada da direita à presidência não é suficiente para concluir a revolução, haja vista que todo Estado está aparelhado, e, na cultura, a casta gramsciana ainda apita.

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O Judiciário manda respeitar a casta artística

Creio que dois movimentos desta eleição explicitaram que Olavo tinha razão. O primeiro foi a formação da chapa Lula/Alckmin à presidência, chancelando a teoria de que a Nova República era um teatro das tesouras. Alckmin foi um dos maiores nomes do tucanato paulista, e, ao contrário de Serra e FHC, não tem nenhuma ligação histórica com o marxismo. Ao contrário, deixou correr a notícia falsa de que pertence ao Opus Dei. Foi o principal adversário de Lula na eleição presidencial de 2006, quando os petistas não hesitavam em chamá-lo de nazista. Na de 2018, num PSDB já irrelevante, fez discursos inflamados contra Lula, chamando-o de ladrão e dizendo que jamais poderia voltar à presidência. Não obstante, ei-los aí, unidos numa única chapa. Veículos tucanos de São Paulo, que outrora tratavam Lula como o demônio na terra, agora mudaram de alvo e tratam a eleição do ex-capeta como desejável.

O outro movimento ocorreu ontem. O ministro-em-chefe Alexandre de Moraes declarou que o desrespeito às opiniões dos artistas não será tolerado pela Justiça Eleitoral. Não só às pessoas dos artistas, mas às opiniões dos artistas. Num Estado teocrático, clérigos devem gozar desse prestígio. Em repúblicas democráticas seculares, um pronunciamento desses é estranho pra chuchu.

Aqui sabemos que não se trata de todos os artistas, mas sim da beautiful people. Afinal, quando essa turma defende “os negros”, “as mulheres”, “os gays”, já ficava implícito que eram só os negros, as mulheres e os gays progressistas. É para votar em mulher, mas não Bia Kicis ou Janaína Pascoal. É para votar em negro, mas não Fernando Holiday ou Hélio Negão. Gay bom, só Jean Wyllys e David Miranda; a Jessicão do Paraná, não.

Assim, sabemos que Sérgio Reis, Josias Teófilo, Regina Duarte não contam como artistas. (Sérgio Reis é artista e foi perseguido por suas opiniões pelo mesmo ministro-em-chefe.) Artistas são os que se cristalizaram nos anos 80 como opositores da ditadura, os seus sucessores que reivindicam o rótulo de MPB, e… Como tudo decaiu entre eles, artistas são Anitta, Luísa Sonza e Linn da Quebrada. Creio que um apreciador de música que não soubesse nada da política brasileira jamais gostaria de Chico Buarque e Anitta ao mesmo tempo. Mais fácil gostar de Chico Buarque e Sérgio Reis ao mesmo tempo.

Sabemos muito bem que “os artistas” aludidos por Alexandre de Moraes são uma casta que faz networking e escolhe quem fica dentro ou fora. Anitta é bem-vinda no apartamento da mulher de Caetano; Sérgio Reis, não.

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Agora veio a público o poder da máfia político-cultural denunciada por Olavo. A “classe artística” gramsciana integra a classe dominante da Nova República. Quem mexer com ela sofrerá sanções de Xandão.

Complemento à hipótese de Olavo

Estamos num processo revolucionário. A situação é confusa: como previsto, o presidente ganhou, mas não levou. O Judiciário acossa o Legislativo e o Executivo. No plano exterior, os países da OTAN acusam o Brasil de queimar a Amazônia, e já tentaram incluir “emergência climática” como um motivo para invadir países. Se Bolsonaro resolvesse cortar as asas do Judiciário, poderia facilmente se colocar na posição de pária ditatorial, e não demoraria muito para que as forças autodeclaradas democráticas quisessem depor o genocida que vai “destruir o planeta”.

Aliás, é curioso que Olavo tenha denunciado tanto os mecanismos multilaterais como a ONU ou a OTAN, que visariam à implementação de um governo mundial, e seus pupilos continuem achando que o Ocidente representa o Bem na luta contra o Mal, encarnado por China e Rússia. Institucionalmente, o Ocidente de hoje está longe de ser o Bem. Este Ocidente é o sonho totalitário de H. G. Wells.

Mas voltemos ao Brasil. A eleição de Bolsonaro não foi em vão, e é certo que a situação do Brasil estaria pior caso o PT ou o PSDB estivessem no governo em 2020. Quem tem dúvidas, veja o autoritarismo dos estados governados por esses partidos durante a pandemia. Atualmente estamos num regime de transição. De que rumo a quê?

Creio que se trate de uma transição de sede de poder, movida não só pelos costumes, mas também pela economia. O Centro-Oeste é uma região em ascensão graças ao agronegócio – uma semente plantada lá atrás, por Alysson Paulinelli na Embrapa, estatal criada por Médici. Foi no governo Lula, porém, que ocorreu o boom das commodities, quando a China passou a comprar de nós em grande quantidade.

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O Brasil da Nova República é um Brasil paulistano, uspiano. São Paulo é historicamente um estado industrial. No entanto, por motivos que desconheço, o crescimento do agronegócio (centrado no Centro-Oeste) foi acompanhado pela desindustrialização (centrada no Sudeste). E São Paulo, deixando de ser potência industrial, passou a ser potência financeira. Seus banqueiros passaram a concentrar poder no Brasil.

E isto é fácil de explicar. Pouco depois de assumir o governo, Lula quitou antecipadamente a dívida externa brasileira com o FMI. Nossos juros eram de 4% ao ano. Para fazer isso, porém, Lula fez um outro empréstimo, este com juros de até 12,75% ao ano. É por isso que os banqueiros e os farialimers adoram Lula.

Se o agronegócio seguir seu caminho, não tem pra ninguém. A elite financeira sediada em São Paulo aderiu ao ESG para conter o pum da vaca e a extinção das girafas da Amazônia. Para conservar o seu poder dentro do país, só colocando-o como uma periferia do Ocidente globalista e decadente.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]