Ou os tories acabam com o governo de Theresa May ou o governo de Theresa May acabará com os tories.
A renúncia de três secretários que apoiavam um Brexit de fato, não esse Brexit que não é Brexit financiado pela primeira-ministra, expôs de forma cabal a insatisfação de membros importantes do Partido Conservador, numa divisão interna que começou quando o então primeiro-ministro David Cameron decidiu convocar um plebiscito para que os britânicos decidissem pela permanência ou saída da União Europeia.
A vitória do Brexit levou à renúncia de Cameron e a ascensão de May, que fazia parte, junto com o então primeiro ministro, do grupo dos tories que defendia a permanência. May foi beneficiada por uma disputa pela liderança do partido entre Boris Johnson e Michael Gove, dois defensores da saída que se prejudicaram mutuamente com a luta interna.
O Partido Conservador começou a errar a partir da renúncia, aliás. Se Cameron renunciou porque seu apoio à permanência foi vencido pelo voto popular, tudo o que os tories não deveriam ter feito era escolher uma representante dos remains para liderar o partido e o país. Mas o fizeram e jogaram fora a grande oportunidade de promover uma saída adequada e fortalecer o partido internamente e perante a sociedade.
Já no poder, May foi inábil para conduzir o Brexit e incapaz de organizar a sigla. Além disso, convocou prematuramente uma eleição e foi punida pelos eleitores com a perda de cadeiras no Parlamento, pois os ingleses não têm a paciência que nós brasileiros temos por eleições tão próximas umas das outras.
Hoje, o governo de Theresa May está por um fio. É bastante provável que, em breve, os brexiteers da ala de Boris Johnson e os tories insatisfeitos com o governo de May desafiem a sua liderança e escolham um novo representante, o que faria muito bem ao partido e ao país.
Sobre a disputa interna no Partido Conservador, Boris Johnson – elogiado por Trump – é um dos conservadores cotados para assumir as funções de líder do partido e o cargo de primeiro-ministro. Além dele, há o parlamentar Jacob William Rees-Mogg, que é inteligente, articulado, católico e rico, personalidade política que vem ganhando cada vez mais apoio popular e entre celebridades, além de ser alvo constante da imprensa de esquerda liderada pelo The Guardian.
Eu gostaria de ver ambos na liderança do partido e do Reino Unido, mas, neste momento, Johnson, biógrafo de Churchill e com personalidade mais assertiva, talvez seja a escolha mais adequada para concluir o Brexit e enfrentar com vigor a oposição Trabalhista liderada pelo perigoso Jeremy Corbyn. Será lindo ver Johnson debatendo com Corbyn no Parlamento.
Concluída a tarefa de restabelecer a normalidade no Reino Unido (uma frase que pode soar sarcástica por se tratar de Boris Johnson), Rees-Mogg poderia assumir a liderança e, decerto, fazer um ótimo governo.
Um evento que pode contribuir para precipitar essa mudança foi a visita oficial à Inglaterra do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Como sói acontecer, Trump foi Trump: em entrevista ao jornal The Sun, o presidente atacou o prefeito de Londres pelo aumento de criminalidade na cidade e pela passividade em relação aos problemas da imigração de muçulmanos, elogiou Boris Johnson, ex-secretário que renunciou por discordâncias com os rumos do Brexit (“daria um ótimo primeiro-ministro”), e criticou o plano de saída da União Europeia apresentado pelo governo de Theresa May ao afirmar que poderia comprometer um acordo comercial com os Estados Unidos (no dia seguinte, porém, tentou amenizar o tom das declarações e reafirmou a disposição para negociar).
De forma um tanto equivocada, ao analisar a entrevista concedida por Trump, Ben Shapiro disse que Trump não deveria ter dito o que disse, da forma que disse, porque não se tratava de uma atitude diplomática inteligente criticar as decisões do governo britânico e elogiar o maior adversário tory de Theresa May.
Confessando a sua ignorância sobre o Brexit, Shapiro disse que, comparando o tamanho dos dois mercados, seria pouco inteligente por parte do governo britânico preferir os EUA ao bloco europeu. O que Shapiro deixou de lado é que o Brexit não é uma escolha entre a União Europeia e os Estados Unidos, mas entre o bloco europeu e o resto do mundo.
Avaliação bem distinta (e acertada) fez o Institute of Economic Affairs, organização que foi fundamental na formação econômica de Margaret Thatcher e, portanto, na agenda pró-mercado do Thatcherismo, ao produzir um vídeo no qual afirmou que “a visita do presidente dos Estados Unidos deveria servir para nos lembrar que um dos maiores benefícios do Brexit é a oportunidade de assegurar acordos de livre comércio (bilaterais) com o mundo inteiro”.
O vídeo lembrou que “o relacionamento especial entre Estados Unidos e Reino Unido é muito maior do que os indivíduos em posição de liderança política em dado momento histórico”. A mensagem final foi clara: como “o mundo depende de uma cooperação entre os dois países, que são unidos por vínculos históricos, culturais, econômicos e financeiros”, era necessário que trabalhassem “juntos para eliminar as barreiras e os obstáculos que se colocam entre nós e aumentar a prosperidade econômica.”
Mathew Parris, no The Times, também apontou o aspecto positivo da visita de Trump e os problemas graves do plano do governo britânico para a saída da União Europeia. Na Spectator, Rod Liddle ratificou os pontos negativos do plano de Theresa May que colocará o Reino Unido no pior dos mundos ao transformá-lo num satélite do bloco europeu.
O Brexit e a batalha comercial internacional do governo americano poderia nos servir de lição, pois o Brasil é mais fechado ao comércio internacional do que a China. É chocante que, em pleno século XXI, o nosso país seja menos livre economicamente do que uma ditadura comunista.
Em ano de eleição, cabe a nós verificar quais candidatos à presidência e ao parlamento querem manter o Brasil mais fechado do que uma ditadura comunista e os que farão de tudo para tirar os obstáculos que hoje nos condenam a um ambiente hostil à prosperidade.
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