Ciro Gomes é insuperável. É um colecionador de impropérios e uma metralhadora de inverdades políticas e econômicas. Adora xingar adversários ou todo aquele com quem ele não concorda. Seu ataque recente a Fernando Holiday, a quem chamou de “capitãozinho do mato” durante sabatina na rádio Jovem Pan, é mais um da sua longa ficha corrida de sandices e destemperos. Procurem: há farto, e revelador, material no YouTube.
O pré-candidato à Presidência pelo PDT diz barbaridades impunemente, com tranquilidade de profissional, sem ser questionado adequadamente nos debates e nas entrevistas. Nessas ocasiões, não vi até agora uma única alma confrontar com dados, estatísticas e análises fundamentadas as mentiras que ele despeja com sua conhecida e agressiva soberba. E ele o faz em ambientes onde, supostamente, deveria ser desmascarado, como as universidades.
Se já é perturbador o fato de Ciro Gomes ser convidado por alunos e instituições de ensino nacionais e internacionais para dar palestras sobre economia, um assunto que ele finge dominar em todos os seus aspectos, é ainda mais grave – e revelador do estado de coisas – que seja tratado com tanto servilismo e leniência por parte de alunos e professores.
O Instituto Mercado Popular (IMP) levantou algumas mentiras de Ciro Gomes sobre previdência, dívida pública e metas de inflação. Os artigos valem a leitura. Sobre a previdência, para ficar num exemplo, Ciro afirmou em entrevista ao Infomoney que o problema derivava, “em grande parte, da demografia e do fato de as maiores pensões levarem mais da metade das despesas”. Segundo o IMP, a afirmação é falsa: os gastos com todas as pensões, e não apenas com as altas, equivalia a 13% do PIB e o Regime Geral de Previdência Social representava a maior despesa previdenciária (8% do PIB).
Desde que se lançou pré-candidato à Presidência, Ciro tem sido beneficiado pela postura de jornalistas e comentaristas que, diante dele, demonstram uma combinação de despreparo e medo de confrontá-lo – ele que mente com desenvoltura e segurança. Por outro lado, quando se trata do pré-candidato Jair Bolsonaro, os mesmos jornalistas e comentaristas são implacáveis e até mesmo grosseiros. Por quê?
O corolário dessa atitude de não atacar as inúmeras fragilidades de Ciro Gomes é atribuir-lhe credenciais intelectuais e políticas que ele não tem. E mais: a passividade com que é tratado legitima o seu discurso e, portanto, a sua própria candidatura, transmitindo a imagem de que ele é, de fato, alguém preparado para assumir a Presidência.
Mesmo o seu notório desequilíbrio e intolerância passam como se fossem algo menor. Não são, e permitem antever como ele se comportaria futuramente no cargo na hipótese de, havendo um delírio coletivo no país, ele se eleger presidente.
O problema do pré-candidato do PDT não se limita à sua personalidade intempestiva. Seu projeto de poder pessoal e seu plano de governo fazem parte da tradição autoritária da política brasileira. Ciro é estatista, economicamente intervencionista, contra importações, contra privatizações.
Numa entrevista publicada pela revista American Quaterly na semana passada, ele ameaçou que, se eleito presidente, irá expropriar todos os campos de petróleo vendidos durante o governo de Michel Temer. Mesmo que tenha dito que seu governo pagaria a compensação devida, assusta haver um candidato à presidência em 2018 que ameace repetir no Brasil o que os governos de Evo Morales na Bolívia e Hugo Chaves na Venezuela fizeram no passado recente.
Ciro também afirmou na mesma entrevista que o seu projeto é de centro-esquerda porque o país não precisa de um governo de esquerda, como se centro-esquerda não fosse esquerda e como se o seu plano de governo não fosse uma coletânea dos piores momentos da esquerda brasileira no poder.
Com o início e o desenrolar da campanha, é provável que o pré-candidato do PDT lance mais impropérios, ofenda mais gente e conte mais inverdades com aquela verborragia própria difícil de acompanhar. Ciro Gomes, o Cirão da Massa, tem muita massa apimentada, mas quase nenhum recheio.
Deixe sua opinião