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Como não se tornar o espelho do adversário

Meu artigo da semana passada criou uma interessante discussão nas redes sociais. Pessoas que admiro – e muitas que eu não conheço – elogiaram o artigo. Algumas poucas, contudo, ao criticarem o texto, confirmaram a descrição que fiz do antissocialista a quem chamei de bolchevique da “nova direita”.

Provocar a discussão sobre o que defende e como se comporta esse grupo foi intencional. Primeiro, para identificá-lo em termos de ideias e comportamento. Segundo, para dissociá-lo de conservadores e liberais, que lutam contra o socialismo, mas não se reduzem ao antissocialismo. Terceiro, para advertir aos que pensam e comportam-se dessa maneira sobre o erro fatal de mimetizar os vícios da esquerda que pretendem combater. Quarto, para advertir que é possível lutar contra o socialismo/comunismo de forma eficiente, mas distinta e virtuosa.

A maioria das críticas direcionadas contra o artigo revelou traços muito evidentes dos comentaristas, daqueles que leram e não entenderam, dos que não leram e reagiram, dos que só leram o título e a partir dele cometeram uma exegese bolchevique. Algumas reações mostraram outro grave problema: a politização da visão de mundo, um traço característico do socialismo.

Para combater a esquerda não é preciso criar uma versão reversa da revolução cultural gramsciana. Converter-se num espelho do inimigo só faz com que você se transforme naquilo que ele é. “Quem deve enfrentar monstros”, alertou Nietzsche, “deve permanecer atento para não se tornar também um monstro. Se olhares demasiado tempo dentro de um abismo, o abismo acabará por olhar dentro de ti”.

Deve-se negligenciar, por exemplo, a estratégia gramsciana? Pelo contrário. É preciso, sim, conhecê-la para neutralizá-la e superá-la, não reproduzi-la. Superá-la significa criar e utilizar como resposta os instrumentos intelectuais e políticos adequados – com vigor e coragem. Algumas ações podem, inclusive, ser parecidas. A ocupação de espaços, por exemplo, não foi invenção de Gramsci. É possível encontrá-la em sociedades antigas como a grega e a romana. O que o intelectual italiano fez foi convertê-la num plano de ação comunista. Porque sabia, como tantos outros antes dele, e penso em Maquiavel, que inexiste vácuo de poder na vida em comunidade.

Ocupar espaços não é um problema, portanto. Mas um conservador ou liberal continuaria a sê-lo se pretendesse ocupá-los para estabelecer uma hegemonia cultural que o representasse? Se transformasse o ensino numa correia de transmissão ideológica em vez de um espaço de aprendizado e conhecimento? Se fizesse da mentira um procedimento político em vez de usar a verdade? Se operasse instrumentos de manipulação para corromper a sociedade em vez de ajudá-la a tornar-se virtuosa? Se utilizasse o Estado para destruir inimigos em vez de cumprir a sua função precípua?

Não pretendi polemizar ou promover uma higienização ideológica. Não tenho vocação para bedel da esquerda ou da direita. Se critico uma dimensão específica do fenômeno político, é por pensar na influência que essa postura tem sobre determinadas pessoas, que optaram pela direita, mas agem repetindo os vícios da esquerda. Quem aceita esse tipo de evento sem criticar e apontar caminhos é conivente com a degradação cultural que diz combater.

Meu propósito é outro, porém: ao apontar problemas, refletir a partir deles, propor alternativas e influenciar positivamente. Porque acredito que muita gente não sabe mesmo como reagir sem mimetizar a estratégia socialista, pretendo ajudar todos os que estão em busca (ou precisam) de orientação. E abrir os olhos daqueles que se tornaram bolcheviques da “nova direita” com a melhor das intenções porque desconheciam outra maneira de lutar contra a situação exasperante em que o país se encontra(va).

Sendo a minha vocação e o meu trabalho intelectuais, cumpro o meu ofício e a responsabilidade que assumi. Não esperem, portanto, que eu seja o que jamais fui: um intelectual orgânico ou um militante disfarçado de intelectual. Meu compromisso de vida é com a verdade.

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Leia o arquivo de colunas de Bruno Garschagen publicadas na Gazeta do Povo até maio de 2017.

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