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Eleições 2018: os desafios e oportunidades para a direita brasileira

Foto: Tania Rego/Agência Brasil (Foto: )

Confirmou-se o cenário mais provável na eleição realizada ontem: o segundo turno será entre os candidatos Jair Bolsonaro, do PSL, e Fernando Haddad, do PT. Com 46,03% dos votos válidos, respectivamente 5 e 6 pontos porcentuais a mais do que mostraram as pesquisas do Datafolha e Ibope divulgadas na véspera da eleição, Bolsonaro ficou a apenas 3,97% mais um voto de conquistar a Presidência no primeiro turno. Foi um resultado retumbante contra o candidato de um partido que presidiu o Brasil por 12 anos e que vinha sendo imbatível na eleição presidencial desde a vitória de Lula em 2002.

Bolsonaro venceu a votação em 16 estados e no Distrito Federal, enquanto Haddad conquistou nove estados. Em 12 estados e no Distrito Federal, o candidato do PSL conquistou mais da metade dos votos válidos. Nas capitais, a supremacia do candidato do PSL foi esmagadora: venceu em 23 contra apenas três conquistadas pelo candidato do PT.

Mesmo no Nordeste, onde Haddad venceu com 50% dos votos válidos, Bolsonaro conquistou 26% dos votos, pouco menos que os 29,28% obtidos pelo candidato do PT no país inteiro. Apesar da derrota na região, os números mostram que o domínio eleitoral do PT é relativo e que há espaço para a campanha do candidato do PSL ampliar a base de votantes se conseguir adequar a mensagem para o eleitor daqueles estados que, no primeiro turno, optou por outros candidatos.

São números inquestionáveis a comprovar a força conquistada pelo candidato do PSL junto a uma numerosa parcela da população brasileira que ansiava por um candidato com agenda social, política e econômica de direita. Tratava-se de demanda óbvia e estranhamente não atendida pelos candidatos, até a candidatura de Bolsonaro dar os primeiros passos em 2016.

Além da ida para o segundo turno com votação expressiva, outra notícia positiva para a equipe de Bolsonaro foi a eleição para o Congresso de candidatos do próprio PSL, que terá a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados (atrás apenas do PT), e de candidatos de outros partidos que o apoiaram e foram por ele apoiados. Tais resultados, junto com a redução do MDB e DEM a siglas médias, contarão a favor de um eventual governo Bolsonaro, que sempre foi questionado a respeito de como iria presidir o país sem o apoio da Câmara e do Senado.

Apesar disso, se eleito, Bolsonaro terá de lidar com um parlamento constituído por representantes de 30 partidos, a maioria deles de esquerda, centro-esquerda e fisiológicos, tendo o PT com a maior bancada no Congresso. É bastante provável, entretanto, que alguns eleitos confirmem a prática oportunista de migrar para o partido do presidente ou para sigla aliada, aumentando, assim a base de apoio no Congresso.

A pulverização de partidos e a descentralização de líderes dentro do Congresso já começam a ser apontadas por analistas como um abacaxi a ser descascado pelo presidente eleito. Aqui há dois pontos a serem considerados a partir desse novo perfil do parlamento: 1. a oportunidade de negociar com líderes de partidos aliados e adversários que não devem ter mais a força dos atuais oligarcas que há décadas comandam os seus partidos e os nanicos, assim como as relações do parlamento com o Poder Executivo; 2. o desafio de conseguir negociar com habilidade, agilidade e eficiência com tantos representantes.

No caso de Bolsonaro, ele terá de desenvolver uma habilidade ainda não testada e uma estratégia para se relacionar com os parlamentares aliados e adversários sem trair a sua promessa de não se deixar levar pelo modo corrupto de se fazer política. Em relação a Haddad, o PT já tem um estilo de negociação pronto e acabado, que foi exposto no julgamento do mensalão e vem sendo exibido em detalhes pelas investigações da Lava Jato. Se esse for o caso, Haddad terá de lidar com uma bancada antipetista respaldada com vigor pelo resultado das urnas.

Como estudioso da política e da cultura brasileiras, talvez o fato que considero mais relevante dessa eleição foi mostrar que, em se tratando de escolhas de candidatos, em termos gerais, a sociedade brasileira é melhor do que costumamos imaginar. E que basta ter bons candidatos com discurso e propostas que ela saberá escolher.

Para os parlamentos federal e estaduais, a eleição de candidatos da direita conservadora e não conservadora é a demonstração cabal dessa parcela de votantes que não era politicamente representada. O desafio agora é separar os representantes legítimos dos oportunistas que se elegeram, além de orientá-los, apoiá-los e criticá-los sempre que for necessário porque o processo de construção de uma direita na política formal é irreversível.

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