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Eleições no Reino Unido: Conservadores podem conquistar ampla maioria

Jeremy Corbyn, líder dos Trabalhistas, tem conquistado o eleitorado jovem. (Foto: Simon Dawson/Bloomberg) (Foto: )

As pesquisas apontam para uma vitória do Partido Conservador, que deve conquistar a maioria no Parlamento britânico na eleição de amanhã. As sondagens, porém, indicam números bem distintos – desde uma vantagem de 1% da pesquisa Survation até 12% da pesquisa ComRes.

A pesquisa publicada hoje pelo Telegraph aponta diferença de apenas 5,7 pontos porcentuais: 42,9% das intenções de votos nos Tories e 37,2% nos trabalhistas. A margem é muito menor que a indicada na sondagem publicada em maio e que atribuía uma liderança de 18,1 pontos aos conservadores. Uma queda brutal que se explica, basicamente, pela péssima campanha dos Tories, pelos atentados terroristas e pela forma eficiente como os Labours estão explorando ambos os problemas na campanha.

As pesquisas mostram que a maioria dos eleitores dos conservadores é de pessoas mais velhas, enquanto a maioria dos jovens declara voto nos trabalhistas. Enquanto os conservadores ganham no interior do país, Londres está dominada pelos trabalhistas. Samuel Johnson deve estar mais uma vez se revirando no túmulo.

A conquista do eleitorado jovem pode ser explicada não só pelo apelo revolucionário de Jeremy Corbyn, mas pela sua campanha muito focada nos jovens, campanha esta que não se reduz ao partido. Dos apoiadores que têm feito um trabalho intenso, um personagem tem sido fundamental: o jornalista Owen Jones, apoiado pelo jornal esquerdista onde trabalha, o The Guardian. Inteligente, articulado e hábil na militância, Jones tem viajado o país para mobilizar os jovens, vinculados ou não ao Partido Trabalhista. Sua atuação dentro e fora das redes sociais serve como caso de estudo aos jovens conservadores britânicos – e, por que não?, aos conservadores brasileiros.

Mas o fato é que, também no Reino Unido, as pesquisas falharam miseravelmente nas últimas eleições. Até porque, além de um problema de metodologia que alguns institutos tentam corrigir, há o eleitorado que tem vergonha de declarar voto. Em 2015, por exemplo, o empate técnico indicado pelas pesquisas revelou-se, na verdade, uma grande vitória dos conservadores e David Cameron manteve-se no cargo até renunciar em 2016 por ter sido derrotado no referendo do Brexit, ele que defendia a permanência. Nessa eleição pode acontecer algo parecido, segundo escreveu hoje no Telegraph o colunista Asa Bennet. Segundo ele, há muitos apoiadores envergonhados de Theresa May que decidirão o resultado final da eleição de amanhã.

Sobre as pesquisas, James Forsyth afirmou em artigo publicado hoje na Spectator que os Tories vão, sem dúvida, conquistar a maioria no Parlamento. Só não se sabe, ainda, que maioria será essa. Em face das pesquisas publicadas até agora e diante das falhas passadas, ele aposta que os Tories conseguirão uma vantagem de 50 a 80 assentos. Ele disse, ainda, que não ficaria mais surpreso se os conservadores conseguissem mais de 100 assentos de vantagem do que ficaria se conquistassem menos de 40. Hoje, a diferença entre Tories e trabalhistas é de 101 assentos (330 parlamentares conservadores contra 229 trabalhistas).

Theresa May

Vários foram os artigos afirmando que essa foi a pior campanha da história do partido Tory. Muitos colunistas da imprensa conservadora bateram nessa tecla. May, primeiro, praticamente não fez campanha achando que venceria por larga vantagem pelo alto índice de rejeição de Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista. Em seguida, quando entrou no barco, quase virou a embarcação em mar calmo. O problema é que, além de ela parecer arrogante e inerte perante os britânicos, os atentados terroristas em março e em maio colocaram sob suspeita a sua liderança e a sua capacidade de enfrentar o terrorismo no país.

Os Labours aproveitaram-se disso para exumar os cortes na despesa da polícia metropolitana realizados quando May era ministra do Interior e que resultaram na redução de 20 mil policiais. Mas o trabalho desses policiais não está relacionado ao combate ao terrorismo, e sim aos crimes comuns. E a verba para as unidades contra o terror foi mantida. Mas sabemos que uma acusação como essa pega mais fácil porque é mais direta e simples que a explicação. E tem apelo numa camada da sociedade que ou é vítima ou se vê em risco diante do terrorismo.

Outro grave problema de Theresa May é que, além de faltar-lhe carisma, ela não tem transmitido à sociedade a força que se exige neste momento, embora o aumento no tom do discurso sobre o atentado terrorista islâmico da semana passada possa ter alterado temporariamente essa percepção.

Jeremy Corbyn

Corbyn, bom, Corbyn é o marxista que, se tem um mérito, é o de permanecer coerente em sua incoerência ideológica. Ele é o que sempre foi. E ter conquistado a liderança do Partido Trabalhista diz mais do estado atual do partido que dele próprio.

Recentemente, o jornal Telegraph publicou uma reportagem mostrando que Corbyn foi investigado na década de 1980 pelo MI5, serviço de inteligência do país, pela sua relação com terroristas do Exército Republicano da Irlanda (IRA). Havia o temor das autoridades de que Corbyn, pela sua proximidade com conhecidos membros da organização terrorista, mais tarde condenados por atentados com bombas, pudesse representar um risco para a segurança nacional.

Pela mesma razão, Corbyn foi monitorado pela Unidade Especial da Scotland Yard, que, fundada em 1883, era a mais antiga do mundo dedicada a combater a violência política e cujas atividades foram encerradas em 2005 com a incorporação da unidade pelo setor de combate ao terrorismo. Um ex-integrante dessa unidade disse ao Telegraph que “Corbyn foi monitorado por agentes secretos durante duas décadas porque” ele era considerado um subversivo e “havia temores de que ele estava tentando minar a democracia”. A Unidade Especial considerava como subversivo alguém que estivesse envolvido “em atividades destinadas a minar ou derrubar a democracia parlamentar por meios políticos, industriais ou violentos”. Em sua história, a Unidade Especial, por exemplo, espionou Lenin, protegeu Winston Churchill e, mais tarde, o escritor Salman Rushdie, cujo assassinato foi ordenado em 1989 pelo líder muçulmano do Irã, o aiatolá Khomeini, pelo livro Versos Satânicos.

O que vem a seguir torna a história ainda mais interessante. E copio aqui as informações trazidas pelo Alexandre Borges no ótimo artigo “Entre a cruz e a espada”, na Gazeta do Povo:

– Corbyn foi “âncora de um programa na TV estatal do Irã, da qual se sabe que recebeu pelo menos US$ 30 mil por aparições entre 2009 e 2012, o que já deveria bastar para tirar o sono de qualquer ocidental”;

– Quando Osama bin Laden foi morto, Corbyn disse na TV iraniana que era uma “tragédia”, já que o líder máximo da Al Qaeda deveria ter sido “julgado” e não assassinado;

– Corbyn disse que apoiar o Estado Islâmico “não é crime”, é apenas “uma opinião política”;

– “Ele tem uma relação próxima com o Hamas e com o Hezbollah, já tendo convidado ‘amigos’ de ambos para eventos no Parlamento britânico. Corbyn declarou em 2009 que o Hamas é uma ‘organização dedicada a promover o bem do povo palestino’ e a classificação de grupo terrorista, dada pelo governo britânico, é ‘um enorme erro histórico’”.

No Telegraph, o jornalista Charles Moore, biógrafo de Margaret Thatcher, lembrou numa coluna recente que, toda vez que Corbyn é interpelado sobre o tema, limita-se a condenar “todo terrorismo”, mas jamais condena os assassinatos cometidos pelo IRA ou pelo Hamas. Moore arrisca uma hipótese: Corbyn não acredita que as organizações terroristas sejam inerentemente más, apesar de seus métodos. Por outro lado, Corbyn é direto e claro quando critica as ações dos governos ocidentais que seriam a causa dos ataques terroristas, uma espécie de retaliação justificável.

Moore lembra outro episódio simbólico: uma semana depois de o terrorista muçulmano Salman Abedi matar 22 pessoas em Manchester em nome de sua religião, Corbyn disse na televisão inglesa que a fé islâmica era maravilhosa. No sábado seguinte à sua declaração, outros três terroristas muçulmanos (Khuram Butt, Rachid Redouane and Youseff Zaghba) esfaquearam, mataram oito pessoas e feriram várias outras próximo ao Borough Market. Moore não deixou barato: “você nunca ouvirá Mr. Corbyn dizer ‘a maravilhosa fé do Cristianismo’, cujos fiéis não matam ninguém em nome de Jesus hoje em dia na Grã Bretanha”.

Como eu já escrevi aqui e falei no meu vídeo mais recente no YouTube, a aposta de Theresa May ao convocar eleições gerais foi muito arriscada, mas os conservadores devem vencer as eleições de amanhã e ela permanecerá no poder. A quantidade da maioria conquistada é que permitirá avaliar a posição dos britânicos em relação ao governo conservador, incluindo a resposta aos atentados mais recentes.

Ela, no entanto, não é hoje o melhor quadro do Partido Conservador e a escolha de seu nome para a liderança foi uma estratégia do partido para manter a unidade depois do racha entre duas alas advindo com o referendo que culminou no Brexit. Cameron caiu, Boris Johnson e Michael Gove eram nomes fortes, mas, longe de serem consensuais, encetaram uma briga de bastidores que acabou por ceifar os nomes de ambos na disputa pela liderança do partido (Johnson, porém, saiu-se melhor ao ser nomeado secretário das Relações Exteriores do atual governo).

Os Tories, como vimos, preferiram a solução mais prudente ao escolher Theresa May, que, se não é o melhor que o partido tem hoje a oferecer, é a escolha política mais sensata que os britânicos podem fazer amanhã porque do outro lado estará Jeremy Corbyn, o líder do Partido Trabalhista que foi definido de forma precisa por Norman Tebbit, um Tory membro da Câmara dos Lordes: “um extremista de esquerda, marxista, simpatizante de terroristas”.

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