Acompanhei com bastante desinteresse o casamento do príncipe Harry com a ex-atriz Meghan Markle, atuais Duque e Duquesa de Sussex. Era isso ou fingir que Guilherme Boulos, candidato à presidência e entrevistado recente do Roda Vida, tem a importância que a imprensa e as redes sociais lhe atribuem.
Meu desinteresse pelo casamento era maior por ele, o eterno Menino Maluquinho do Palácio de Buckingham, do que por ela, que atua na ótima Suits. Gosto muito da série, que, lamento dizer, não perderá com a sua saída. Dito isto, no casamento e à exceção da noiva, os atores fizeram jus ao vestuário dos seus personagens.
A começar pelo ator Gabriel Macht, que faz o protagonista Harvey Specter. Assim como se viu na cerimônia, no papel ele está sempre bem vestido, ternos feitos sob medida, bespoke como se diz em Saville Row e aqui na minha comunidade de Sapeurs, onde não consertamos os rebocos da parede para manter o guarda-roupa impecável.
As atrizes Sarah Rafferty, que interpreta a secretária Donna Paulsen, e Gina Torres, a advogada manda-chuva Jessica Pearson, estavam exuberantes. E a noiva? Para quem é atriz do segundo escalão, Meghan não decepcionou com seu vestido Givenchy. Para quem iria se tornar membro da Família Real, porém, uma escolha diminuta. Deveria ter pedidos conselhos à rainha ou à concunhada.
Uma preocupação menor essa do vestuário, bem sei. Meu amigo Martim Vasques da Cunha acusar-me-á de esteticismo, de ser um machadiano típico, com base em Mário Vieira de Mello e em mais 52 autores. De fato, pode ser um cuidado irrelevante não se vestir com roupa inadequada para a idade e para o local porque, afinal, existem inquietudes highbrow, como salvar o Ocidente.
Para você, meu leitor, que adora política, este assunto inferior, cá está: soube às vésperas do matrimônio, que a atriz era feminista e divorciada, duas palavras que numa mesma frase me fazem pensar em correlação ou até mesmo em causalidade. Nas feministas, a informação provocou um frêmito de decotes, que elas não costumam usar por objetificar o colo das mulheres.
Nas redes sociais e na imprensa, circulou todo tipo de insanidade. As três melhores foram as que atribuíram como gesto feminista certos ajustes do tradicional protocolo de casamento da Família Real; a decisão, diante da ausência do pai na cerimônia, de entrar sozinha na Igreja; e, ao aceitar o feminismo da nova integrante da Casa de Windsor, a Monarquia Britânica teria inaugurado um novo e moderno caminho para se manter relevante. Tolices. No fundo, quem manda no palácio é a Rainha Elizabeth II, que autorizou o que vimos (inclusive a escolha do neto) e, certamente, proibiu o que não vimos. Isso é o poder feminino; o resto é armazém de feministas ressentidas e amargas.
De qualquer forma, qualquer que tenha sido, o feminismo público de Meghan Markle foi reduzido à sua própria experiência mental desde que ela assentiu com o casamento – tradicional, diga-se. Uma vez que aceitou entrar para a Família Real, foi obrigada a seguir uma série de regras – inclusive, abandonar a carreira de atriz por não mais poder trabalhar por dinheiro – de fazer espernear qualquer feminista do canal GNT.
No Brasil, os nossos maluquinhos não deixaram por menos. O governo de Michel Temer, atordoado ao ver o país voltar no tempo do desabastecimento do governo José Sarney com a paralisação dos caminhoneiros, decidiu reeditar o controle de preços do governo Dilma e congelou o valor do litro do diesel.
Como os autores da Escola Austríaca já advertem desde o século 19, controlar os preços é medida equivocada que gera escassez e desabastecimento, aquilo que supostamente o governo pretende combater. Não deu certo com Sarney, Collor, Dilma, nem dará com Temer. Quem acredita nisso é mais doido do que aqueles que acham que o desenho dos Simpsons previu a eleição de Donald Trump e a paralisação dos caminhoneiros no Brasil.
A conta do equívoco será, obviamente, paga por nós, caminhoneiros inclusos. Enquanto tentava uma solução errada para preservar as contas do governo e não faltar dinheiro para bancar os salários e os privilégios de políticos e servidores públicos, além dos direitos sociais de que ninguém quer abrir mão, o governo negociou com o Congresso o aumento dos impostos da folha de pagamento. A mão que afaga é a mesma que apedreja, escreveu Augusto dos Anjos, que, num verso, definiu a natureza do Estado moderno.
Dilma Rousseff, a ex-maluquinha do Palácio do Planalto que usou e abusou do controle de preços, chamou de barbaridade os seguidos reajustes dos combustíveis. Concordo. Acrescento que a barbaridade só não foi menor do que ela ter sido convidada para falar na abertura de uma conferência dedicada à educação.
Diante de tantas sandices, quase eu perco a minha e vejo a entrevista do Boulos no Roda Viva. Não vi, mas na pesquisa que fiz descobri que ele ainda não foi preso por coordenar invasões de propriedades privadas em São Paulo; que anda atraindo os intelectuais orgânicos e os artistas que até ontem fechavam com o PT (o que não surpreende); e que, mesmo sem atingir 1% das intenções de voto, tem mais espaço na imprensa do que Jair Bolsonaro, o candidato que lidera as pesquisas.
Pensando melhor, o casamento do príncipe Harry com Meghan Markle não foi assim tão desinteressante.
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