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A prisão de Lula e os desafios da direita brasileira

Foto: Ricardo Stuckert (Foto: )

Que semana essa a que passou, pois não? Julgamento do habeas corpus de Lula no Supremo Tribunal Federal, decretação da sua prisão pelo juiz Sergio Moro, recusa de se entregar em Curitiba, entrincheiramento na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, espera da homenagem à falecida Marisa Letícia, do ato pró-Lula com discursos, ameaças, convocação à militância e apoio de infiltrados da Igreja Católica que deveriam ser oficialmente expulsos por excomunhão automática por endossar uma doutrina política que é incompatível com a fé católica.

Isso foi o que aconteceu. O que virá daqui em diante, afinal? Analisando o panorama político a partir da prisão do Lula no histórico dia 7 de abril de 2018, há alguns aspectos que poderão definir o rumo da campanha e das eleições deste ano.

Por parte da esquerda, sem a presença física do grande timoneiro para ser o símbolo e candidato, o PT perde protagonismo. Os nomes ventilados até agora para acionar o plano B (Fernando Haddad, Jaques Wagner) não reúnem a força política e os predicados adequados para esse momento. Nesse caso, o que o PT vai fazer?

A rearticulação, creio, começou no ato pró-Lula em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, evento que ficou marcado mais pelas ausências (incluindo a de Jaques Wagner e Chico de Buarque) do que pelas presenças. Em seu discurso, Lula reproduziu a vitimização e as desculpas de sempre, lançou as acusações de praxe, repetiu os chavões conhecidos – tudo o que dele se esperava. Mas ele foi além e tentou assumir para si o papel de líder da transição que se impôs pela sua condenação e prisão.

Ao elogiar Guilherme Boulos e Manuela D’ávila e mencionar suas respectivas pré-candidaturas à Presidência da República pelo PSol e PCdoB, Lula quis não apenas tentar mostrar seu paternalismo político e o que lhe restava de influência, mas impulsionar eleitoralmente a esquerda. Se todos os partidos socialistas e comunistas estiverem no controle do poder – assim Lula entende –, a direita incipiente não terá vez nem voz e os esquerdistas, com apoio das oligarquias não ideológicas, poderão continuar a dar as cartas mesmo que, entre si, a batalha continue a ser travada. É, portanto, briga entre irmãos para retornarem ao comando das instituições.

A manifestação que antecedeu a rendição de Lula foi armada, teatralizada e filmada para enquadrar a narrativa que o PT pretenderá vender em forma de filmes para a televisão. Tentará o partido redimir-se usando a imagem do homem injustiçado, preso sem provas. Não terá, entretanto, o que se queria: as imagens catárticas da Polícia Federal invadindo o local e o prendendo à força. Os episódios de violência que talvez apareçam serão aqueles contra os tímpanos (as apresentações musicais), contra a Igreja Católica (os discursos dos padres de passeata, como os chamava Nelson Rodrigues), contra a sobriedade (obrigado pelo alerta, Gleisi Hoffmann).

Mesmo encarcerado, porém, Lula será o símbolo petista para as eleições deste ano e tudo será feito para capitalizar em cima do cadáver insepulto, que, não se enganem, ainda tem capital eleitoral. Serão Lula e o PT ajudados, inclusive, por certa imprensa que, por ideologia ou ignorância, serve de engrenagem da manipulação ao reproduzir a narrativa que eles inventam. Tratei do assunto nos dois artigos anteriores (aqui e aqui) e a semana passada foi farta de exemplos que ratificam o que escrevi, incluindo a tentativa de homicídio contra o empresário Carlos Alberto Bettoni. Não, jornalistas, não foi acidente, não foi atropelamento, não foi uma mera agressão.

O que Lula e o PT não se deram conta ou fingem ignorar é que o Brasil não é mais aquele de 2002, quando venceram a primeira de quatro eleições seguidas. Uma parcela significativa da sociedade despertou e não aceita mais jogar o jogo da esquerda; e converteu a política em assunto do dia a dia porque descobriu que ela existe e que pode ser usada como instrumento de destruição de um país.

E, porque o Brasil é um país diferente e a esquerda agoniza e esperneia em praça pública, a direita tem uma gigantesca oportunidade cultural e eleitoral. No âmbito cultural, dar respostas qualificadas aos problemas do país sob uma perspectiva conservadora e liberal; na esfera política, oferecer projetos para fazer-se uma opção real de voto para milhões de brasileiros que estão em busca de alternativas políticas. Se bem-sucedida, a direita poderá mudar o rumo das eleições e eleger vários candidatos este ano.

O 7 de abril de 2018, de fato, já entrou para a história. Porque a prisão de Lula não foi a mera prisão de um criminoso condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A prisão de Lula é a punição do líder de um infame projeto de poder socialista que tinha na corrupção um instrumento da causa e cujo fim era o controle do Estado e das pessoas. A prisão de Lula não será o “fim da história” do PT nem da esquerda, mas já é uma importante etapa do processo de maturidade política ora em curso no país.

Foi, sim, um dia histórico, que deve ser sempre celebrado, mas sem jamais esquecermos que há lutas a serem travadas e desafios a serem superados.

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