Foto: Miguel Schincariol/AFP| Foto:

Se mesmo preso, Marcola, líder do PCC, tivesse a possibilidade de se lançar à disputa presidencial, os institutos de pesquisa e a imprensa o tratariam como candidato legítimo? É a pergunta que me faço sempre que aparece nos levantamentos e nas análises políticas o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, presidiário condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

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As manchetes não deixam dúvida quanto à opção editorial que fazem jornais e sites ao destacarem, por exemplo, que o candidato Jair Bolsonaro só lidera as intenções de voto nos cenários em que Lula é excluído da lista. A questão é: como é possível o nome de Lula – preso condenado, repito – aparecer na disputa como eventual candidato?

Conversava outro dia com um amigo, que estava certo ao dizer que, ao tratar Lula como candidato, imprensa, comentaristas e institutos de pesquisa naturalizam a ideia de que um criminoso condenado e preso possa ser uma opção real para uma parcela do eleitorado. É escandaloso que haja uma possibilidade, mínima que seja, de Lula ser candidato e que, por isso mesmo, o TSE tenha se negado a afirmar, desde já, tal impossibilidade.

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Há outro problema em questão: mesmo que não possa ser candidato, Lula vem sendo tratado por muita gente na imprensa como o grande articulador que, de dentro da cela da Polícia Federal onde hoje reside, definirá o nome do PT que será apoiado pelos partidos e entidades-satélites que prestam serviços ao petismo.

Em ambos os casos (candidato ou articulador), o nome de Lula está sempre em evidência, o que se presta a colocá-lo como peça fundamental da eleição deste ano, mesmo que não seja ele o candidato. Do ponto de vista político, é uma vitória e tanto para alguém em sua posição. De uma perspectiva ética, é uma desgraça completa para a imprensa, analistas e todos aqueles que se prestam a cumprir a função de manter Lula vivo enquanto lutam pelo Lula livre.

Imaginemos, então, a seguinte hipótese dramática para o país, mas que vem sendo considerada como possibilidade real: Lula, ou o seu candidato, segue para disputar o segundo turno contra o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.

Lula, ele mesmo condenado e preso, carrega consigo a sua própria folha corrida e terá ao seu lado, na campanha, uma plêiade de condenados, suspeitos, investigados pela Lava Jato por vários crimes, a começar por José Dirceu, aquele que, inexplicavelmente, está livre, leve e solto para articular politicamente e atualizar o botox.

Alckmin, citado na Lava Jato por delatores da Odebrecht como beneficiário de dinheiro de caixa 2 para campanha, selou na semana passada o pacto com o “Centrão”, nome do perfil fake de Mefistófeles. Fruto do casamento da esquerda com as oligarquias, o Centrão reúne a fina flor de políticos de regiões distintas do país que nada fizeram de bom pelas suas comunidades nem pelo país e que, se reeleitos com seu candidato à Presidência, farão menos ainda.

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Uma das eminências do grupo é o ex-deputado Waldemar Costa Neto, insuspeito de ser insuspeito. Preso em 2013 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Waldemar foi quem indicou José de Alencar para ser vice na chapa de Lula, condenado pelos mesmos crimes. Como prêmio pelo apoio, Waldemar e seu partido, o PR, tiveram força e influência nos governos Lula e Dilma, força que agora mantêm no governo Temer. Mesmo ainda cumprindo pena, Waldemar continua sendo investigado pela Lava Jato por outros crimes. Será ele o responsável por também indicar o vice do candidato do PSDB?

Eis, portanto, a sina de Alckmin, que na pesquisa do Ibope aparece com parcos 6% das intenções de voto: tem o Centrão, mas não tem eleitor. Mais do que isso: numa eleição na qual as máquinas partidárias locais não terão, provavelmente, o peso de outrora e as coligações regionais serão distintas das coligações nacionais, Alckmin tem tudo para assumir o ônus sem ter o bônus do pacto com Mefistófeles.

Continuando na hipótese que aventei, um segundo turno entre Lula (ou seu candidato) e Alckmin nos traria uma certeza imponderável: a Bancada do Cárcere estaria no comando político do país, para alegria dos corruptos, oligarcas e velhacos da política e, por que não?, do PCC.

Não é o que eu acredito, porém, que vá acontecer. Dadas as condições de hoje e mantidas as circunstâncias – e não creio que tempo de tevê e capilaridade partidária terão o peso que tiveram nas eleições anteriores –, o que se delineia é o confronto no segundo turno entre Bolsonaro e o candidato que sairá da briga entre irmãos esquerdistas: tucanos e petistas.