Foto: Gilberto Abelha/Jornal de Londrina| Foto:

O professor Ricardo Vélez Rodríguez foi indicado ontem para ser o ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro. Foi uma escolha excelente que se integra a uma equipe que vai se revelando adequada para os desafios que o país deve enfrentar e superar. A partir de janeiro, caberá ao presidente eleito reger essa orquestra com inteligência, equilíbrio, prudência, determinação.

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Vélez Rodríguez é colombiano de nascimento, doutor em Filosofia, professor aposentado e autor de estudos importantes sobre tradições culturais ibero-americanas, pensamento político brasileiro e patrimonialismo. Vários de seus artigos podem ser lidos em seu blog pessoal Rocinante. Eu o conheço há anos e tenho por ele, além de amizade, profunda admiração intelectual.

Em 2014, quando eu elaborava o meu primeiro livro Pare de Acreditar no Governo – Por que o Brasileiros não Confiam nos Políticos e Amam o Estado (2015), a leitura dos seus livros Patrimonialismo e Realidade Latino-Americana (2006) e Análise do Patrimonialismo Através da Literatura Latino-Americana (2008) foi importantíssima assim como a sua valiosa e generosa ajuda na leitura e comentários dos capítulos em construção.

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Intelectual de primeira grandeza, independente, homem íntegro, Vélez Rodríguez sofreu, inclusive, perseguição ideológica e boicote em universidades e por agências do Ministério da Educação, como a Capes. Parte dessa história e de sua trajetória intelectual e profissional é contada na primeira entrevista que fiz com ele em 2013 no Podcast do Instituto Mises Brasil.

Na segunda entrevista, que gravamos em 2016, ele explicou o profundo problema político criado pela combinação entre patrimonialismo, populismo e marxismo que era o fundamento do lulopetismo e expõe as origens ideológicas da ação política do PT e as drásticas consequências para a sociedade dos governos Lula e Dilma.

Sua formação acadêmica, sua obra escrita e suas qualidades pessoais fazem com que a escolha de Bolsonaro tenha sido mais do que acertada: trata-se de nome providencial para um ministério pelo qual não tenho qualquer apreço, mas cujo poder para atrapalhar é uma das razões que explica a situação do ensino no Brasil.

Vélez Rodríguez é intelectual plural, multidisciplinar, que conhece não só a área para a qual foi indicado, mas a entende num contexto político e econômico maior dentro do qual o ensino está inserido. É um homem com uma visão do que é e do que representa o Estado, mas, principalmente, que sabe que se ao Estado cabe exercer com eficiência certas atribuições, deve fazê-lo sem exacerbá-las nem cair na tentação de ir além do que deve.

Ao contrário do que quer fazer crer certa imprensa, que ontem chegou ao paroxismo de qualificar a indicação do professor como sendo ideológica, Vélez Rodríguez também é um investigador do sistema de ensino no Brasil. Num artigo em que compara as políticas públicas na área entre 1964 e 2014, observa acertadamente que elas “não tiveram continuidade ao longo dos últimos cinquenta anos, além da circunstância de que, em geral, não foram adequadamente traçadas”. O resultado disso foi a ocorrência do “fenômeno do desajeitado voo galináceo do desenvolvimento brasileiro” que manifestou-se, “notadamente, no campo educacional”.

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Durante os governos Lula e Dilma o casamento entre a incompetência e a ideologização no ensino foram resumidas nesses dez aspectos negativos identificados pelo professor:

“1 – Queda do setor de ensino primário nas avaliações internacionais.

2 – Queda do setor de ensino secundário nas avaliações internacionais.

3 – Queda do setor de ensino superior nas avaliações internacionais.

4 – Critérios dúbios adotados pelo Ministério de Educação na avaliação do sistema de ensino brasileiro nos seus três níveis.

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5 – Pano de fundo altamente ideológico e radical das reformas educacionais petistas, no contexto da denominada “revolução cultural” de inspiração gramsciana.

6 – Inépcia do Inep na gestão dos vestibulares.

7 – Aparelhamento, pelo Partido dos Trabalhadores, dos Institutos de Pesquisa do Estado em relação ao desenvolvimento econômico e social (Ipea, IBGE).

8 – Inadequada formulação do programa “Ciência sem Fronteiras”, para enviar ao exterior 100 mil estudantes brasileiros de nível superior, um caso gritante de “turismo acadêmico”.

9 – Preconceitos do PT em face do setor privado no terreno educacional.

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10 – Despreparo do governo para lidar com o ensino digital de grandes proporções.”

Se é compreensível que haja preocupação a respeito do fato de Vélez Rodríguez nunca ter atuado num cargo político, essa inexperiência não pode ser vista como um elemento negativo. Há momentos da história em que a nomeação de profissionais como o professor, que não tem os vícios de uma atuação política prévia, é fundamental para a realização de mudanças necessárias. Suas reflexões sobre o ensino e sua capacidade para diagnosticar problemas (como nos 10 itens acima) e propor soluções são o que o país mais precisa neste momento.

Pelo que conheço dele e de sua obra, sei que Vélez Rodríguez empreenderá todos os esforços para aprimorar todos os níveis do ensino no país (fundamental, médio, superior), incluindo disciplinas que hoje parecem estar reféns de militantes de esquerda, tais como sociologia, história, filosofia, cujo conteúdo deve ser aprimorado e professores qualificados, cobrados, responsabilizados, premiados. A solução construtora conservadora é sempre preferível à opção destruidora revolucionária.

Seu ministério também deverá ser um promotor do ensino à distância, da descentralização das políticas públicas dedicadas ao setor e grande incentivador da pesquisa científica em todas as áreas, dimensão estratégica para qualquer país que pretende ser civilizado e próspero.

Se Vélez Rodríguez será ou não o excelente ministro que a sua biografia lhe permite ser, dependerá fundamentalmente do apoio do presidente eleito, dos demais ministros de pastas afins e da sua habilidade e coragem para propor e implementar medidas adequadas, vencer os obstáculos internos (incluindo normas, burocracia, parcela dos servidores) assim como convencer o Congresso e também todos os que certamente serão afetados com a sua visão sobre a função do ensino e o papel do Estado. Se ele for bem-sucedido, ganharemos todos, incluindo aqueles que, num primeiro momento, vão certamente perder.

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