Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil| Foto:

Dois ministros do Supremo Tribunal Federal, duas opiniões que se completam em sua suprema ignorância. Num evento realizado em Brasília na semana passada, a ministra Carmén Lúcia teria revelado preocupação ao afirmar que o mundo vive uma mudança “perigosamente conservadora”. Seu colega, o ministro Ricardo Lewandowski, vendo um futuro negro se avizinhando, teria dito temer a violação dos direitos econômicos, sociais e culturais. A mensagem de ambos foi clara: o conservadorismo é uma ameaça aos direitos individuais, representa um perigo para a sociedade e deve ser combatido.

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Espero que os dois ministros não reproduzam em seu trabalho diário no STF a falta de rigor intelectual que exibem ao opinar sobre um tema que claramente desconhecem. Essa ignorância tem origem óbvia: as frases são similares às que lemos e ouvimos nos jornais e nas emissoras de televisão, escritas e ditas por “formadores de opinião” que não sabem absolutamente nada sobre conservadorismo, mas que conseguem a proeza de fundamentar opiniões a partir de equívocos. Tantos são os que usam a palavra conservador para criticar certas coisas negativas por confundi-las com conservadorismo. Porque se recusaram a fazê-lo, não aprenderam nada porque não leram nada.

Ao contrário do que os ministros e tantos outros costumam afirmar publicamente, o conservadorismo é o garantidor das liberdades, não o seu violador. Faz parte da natureza do pensamento conservador favorecer a ordem legal como um dos instrumentos de que a sociedade dispõe para se organizar e para buscar o equilíbrio social, e por essa razão valoriza tanto o Estado de Direito e o Império da Lei.

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Desde o início da minha colaboração com a Gazeta do Povo tenho feito um esforço para mostrar a história, teoria, elementos e aplicação do pensamento conservador na análise de fatos políticos, econômicos e culturais. Muito antes de os resultados eleitorais provocarem reações de espanto relevadas em expressões marítimas como “tsunami conservador” e “onda conservadora”, eu já expunha aqui na coluna os conceitos e significados do conservadorismo por acreditar que, mais cedo ou mais tarde, esse trabalho pedagógico seria útil para aqueles que procurassem informações a respeito.

Para os conservadores que assumiram a responsabilidade de divulgar e defender o pensamento conservador no Brasil, há uma nobre missão que lhes cabe: apresentar o conservadorismo da maneira mais embasada e clara possível, adequando a linguagem e o conteúdo, do mais básico ao mais avançado, de acordo com o perfil da audiência. As ideias conservadoras devem ser apresentadas e colocadas em debate não apenas no âmbito da política e nas universidades, mas nas empresas, nos eventos políticos, econômicos e jurídicos, nas reuniões das igrejas, nos encontros sociais e familiares.

O conservadorismo não deve ser enclausurado numa torre de marfim, território que não é a sua sede, porque ele é o que há de mais próximo do povo, de seus valores, princípios e anseios mais profundos e virtuosos. É esnobismo estéril, portanto, dividir o conservadorismo em facções, contrapondo, por exemplo, um conservadorismo intelectual de um conservadorismo popular como se fossem dois tipos de conservadorismo e não apenas a expressão de uma mesma natureza política em registros distintos. Um certo antiintelectualismo arrogante tem favorecido sobremaneira essa confusão.

Na arena pública, o conservador deve atuar para elevar o nível médio em diversas áreas, do ensino à política, para que esse trabalho contribua para fazer do nosso país um ambiente sadio. Como o conservadorismo é o verdadeiro progressismo, os conservadores podem auxiliar nessa árdua tarefa de fazer do Brasil um lugar onde as pessoas desejam viver, formar suas famílias, construir suas vidas profissionais, não um ambiente hostil que desperta permanentemente a vontade de fugir para outro país em busca de uma vida melhor. Na história da república presidencialista, nunca tivemos uma janela de oportunidade tão ampla para tornar esse projeto possível.