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Donald Trump desafia o bom senso. Com suas atitudes opostas aos grandes consensos internacionais, como o Acordo de Paris sobre o meio ambiente, a opinião pública vê o presidente norteamericano como um maluco, ignorante e excêntrico. Em parte pode ser verdade, mas os atos de Trump não são impensados.

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Por um lado, com certas atitudes, Trump conquista o apoio de parte do senso comum que acredita haver soluções mágicas para os problemas mais graves da sociedade. Assim, a Coreia do Norte é um problema? Estamos dispostos a bombardeá-la. Nossa economia vive uma crise? O problema está nas regras ambientais que nos impedem de fazer mais fábricas. O desemprego está alto? Vamos expulsar os mexicanos e passar um muro na fronteira.

De outro lado, Trump desafia a cúpula da política internacional e assim “disfarça” as consequências da crise econômica norte-americana. Afinal, com economia em queda, os Estados Unidos tornam-se menos influentes. Mas, antes de aguardar que os demais países rejeitem os EUA, é o presidente Trump que afirma rejeitar os consensos dos demais países. Assim, sua política internacional pode agir de forma fragmentada, com relações específicas bilaterais em torno dos consensos que Trump consegue construir com cada país, sem ter de se submeter aos pactos globais, cada vez mais influenciados pela União Europeia e China, que já não dão muita atenção à opinião norte-americana.

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A atitude ousada de Trump também é arriscada, pois o isolamento “intencional” dos EUA, na verdade, busca a ampliação de relações específicas com os diversos países, individualmente. Mas o resultado dessa política pode ser mais isolamento e o fechamento de vínculos bilaterais. A carta na manga de Trump é a influência cultural dos EUA sobre os países ocidentais, o que assegura que, mesmo com a atitudes consideradas atípicas do presidente, francamente opostas às do seu antecessor Obama, o mundo ainda busque manter relações com os EUA.

Por outro lado, a atitude isolacionista de Trump pode melhorar um aspecto muito criticado na política externa de Obama: o intervencionismo militar. Se, por um lado, o democrata ficou conhecido pelo uso de drones para fins militares e a participação ativa em diversas guerras, sobretudo no Oriente Médio, Trump parece sinalizar que não quer investir nessa frente. À exceção das bravatas trocadas com a Coreia do Norte, Trump busca retirar os EUA das guerras em que está envolvido. O índice de aprovação do presidente aponta para níveis baixos de reconhecimento do seu trabalho pela opinião pública, e os choques de Trump com a imprensa não ajudam muito a melhorar sua imagem. Se resistir aos embates internos, ainda restará a dúvida se irá resistir a essa política externa incomum.